Foi lançado no sábado o movimento Brasília, Cidade Aberta, que tem como objetivo contribuir para um novo tipo de prática política e para a boa governança local e nacional. Os integrantes do movimento, apresentado no auditório do Museu Nacional, querem “cooperar e continuar transformando Brasília e o Brasil, promovendo a convergência de diversas iniciativas que atualmente agem de forma fragmentada, gerando uma potência coletiva e eficaz, para a boa governança”.
No ato de lançamento, coube a mim falar sobre “as resistências da velha política à cidade aberta”:
Vivemos hoje uma contradição antagônica:
De um lado, a nossa aspiração por uma sociedade mais justa e menos desigual, com a eliminação da miséria e a redução da pobreza; com democracia real e participativa e governos abertos e transparentes; com ampla liberdade e respeito às diferenças. Queremos uma sociedade em que a população tenha acesso a serviços públicos acessíveis e de qualidade, queremos um futuro melhor para Brasília e para o Brasil.
De outro lado, impedindo que nossas aspirações sejam alcançadas, temos um sistema político e eleitoral retrógrado, desenhado para manter no poder os que já estão no poder e impedir a renovação; um estamento político e burocrático distante da população e gozando de privilégios inadmissíveis; um Estado ineficiente e ineficaz para atender à população até em suas necessidades básicas; a prevalência do que se denomina velha política: a negociação política legítima e transparente dando lugar a acordos e conchavos espúrios e oportunistas, ao loteamento da administração pública e à troca de favores; a corrupção como prática sistêmica e enraizada em todos os níveis.
Se essa contradição não for superada e esse quadro persistir, nossos objetivos e nossas aspirações jamais serão realidade. Poderemos ter vitórias pontuais, parciais, mas não a sociedade fraterna, inclusiva e igualitária que desejamos.
A situação lamentável em que vivemos não será mudada pelos que hoje detém a hegemonia e o poder econômico e político. Não será mudada pelos que dominam a economia em benefício próprio, gozam de privilégios e submetem a maioria do povo a seus desígnios.
Eles podem até promover mudanças, e as promovem, mas serão sempre mudanças para que, em essência, tudo permaneça como está e para que eles não percam a hegemonia e o domínio do Estado e da sociedade.
Só a sociedade civil pode realizar as mudanças necessárias para que nossos objetivos sejam alcançados. Só a mobilização da sociedade promoverá o que ouso chamar de uma virada radical, uma revolução democrática.
Nós, aqui, somos uma ínfima parte dessa sociedade civil, mas estamos tentando cumprir esse papel. Não somos um bloco homogêneo, não pensamos igual sobre tudo. Temos, aqui, diversas concepções sobre a vida e sobre a política. Respeitamos nossas diferenças.
O importante é que estejamos abertos ao debate qualificado e encontremos os pontos convergentes para lutarmos juntos por um país melhor e uma cidade aberta.