Depois de circular nas redes sociais um vídeo da entrega do Prêmio Notre Dame ao juiz federal Sergio Moro, concedido pela universidade do mesmo nome nos EUA, o assunto viralizou polêmico. Madre Teresa de Calcutá e Jimmy Carter não enfrentaram protestos semelhantes, embora tenham sido agraciados com o mesmo reconhecimento daquela academia.
Petistas radicais argumentaram que Luiz Inácio Lula da Silva é recordista em agraciamentos similares. Portanto, o prêmio entregue ao douto Moro teria menos importância do que todos aqueles recebidos pelo desabrido Lula.
A questão discutida não deveria tratar das comendas, mas dos personagens. Entretanto, os estrelados encarnados podem ter razão sobre a quantidade de condecorações recebidas pelo ex-presidente, quase quarenta. São vários, como títulos de Grã-Cruz e Honoris Causa, entre outros.
Uma dúzia de títulos tipo Grã-Cruz de Lula vieram do México, Cabo Verde, Portugal, Gabão, Panamá, Argélia, Portugal, Colômbia, Paraguai, Peru, Espanha e Benin. Mas a curiosidade recai especificamente sobre os títulos H.C. – abreviatura da expressão latina honoris causa que significa por causa de honra – que são concedidos por universidades em todo o mundo a personalidades, que mesmo não tendo estudo ou graduação superior, são notórios em suas áreas. Aí é mole!
No leque de H.C. entregues a Lula estão instituições superiores de alguns países e um punhado de outras brasileiras. Entre elas, a UFRB – Universidade Federal do Recôncavo Baiano, que não conseguiu engordar a prateleira do tríplex no Guarujá, aliás, pelo mesmo motivo. Evandro Reis, juiz da 10ª Vara Federal Cível da Bahia, determinou este ano o cancelamento da entrega-mamata, acatando uma ação popular que considerou imoral que um condenado viesse ser condecorado.
Decisão polêmica sem dúvida, mas compatível com a limpeza feita sob os tapetes vermelhos, hoje menos voadores. Essa prática deveria ser comum, como a suspensão de todos os títulos recebidos por personalidades que cometem ilícitos.
O argumento de que Lula é recordista também nesse quesito, com uma dúzia de H.C., além de ações na esfera federal criminal, não é verdade. Uma breve pesquisa descobre um estrangeiro, de origem nipônica, presidente de uma organização não-governamental, detentor de 330 títulos honoris causa (Paulo Freire recebeu 80) recebidos nos cinco continentes. Ele frequenta o Brasil e detém a cadeira de n° 14 da Academia Brasileira de Letras – ABL, como sócio correspondente.
O fardão Daisaku Ikeda, professor, escritor e poeta, é fundador de colégios e universidades no Brasil e no mundo e tem uma única ocupação: promover a paz mundial e o desenvolvimento humano, por meio da ONG Soka Gakkai Internacional. Não foi possível saber se Lula também é membro da ABL – Sarney é, caramba… -, mas seus defensores devem entender o literal sentido de honoris causa.
Um critério que não deve ser aplicado apenas a ele, mas a todos que contrariam o espírito da homenagem, é o imediato cancelamento na ocorrência de falsidades ideológica e moral.
Não há notícias de um mercado paralelo no Brasil de venda de títulos H.C. Menos mal. Mas é bom ficar de olho. Se os perseguidores de Lula acham que são muitos títulos para pouco curriculum, tem mais: Prêmios Dom Quixote de La Mancha, Prêmio Mikhail Gorbachev, Prêmio Nelson Mandela, Prêmio Indira Gandhi. Até as armas brasileiras – Exército, Marinha e Aeronáutica – concederam medalhas ao injustiçado recordista. Nesses últimos casos, ele era o patrão.
Mas acham que a bizarrice acabou aí? Anotem essa: nos 14 containers pagos, segundo a Polícia Federal, pela empreiteira OAS, está guardado o mais significativo de todos que é o Prêmio Amigo do Livro, concedido pela Câmara Brasileira do Livro. Não ache graça, é sério. A solução talvez seja criar o C.H.C – Carentiam Honoris Causa. Aí, sim, vai ser difícil adivinhar qual seria o brasileiro recordista da homenagem.
Chora, não, Lula… ninguém vai confiscar seus títulos. Sei não…