Quando penso no futuro do Brasil, eu sempre me assusto. É que, inevitavelmente, um fato aberrante me sobressalta: como pode ter futuro um país em que o Estado gasta R$ 2,4 mil por mês com um preso enquanto investe só R$ 2,2 mil por ano em um estudante do ensino médio? Veja bem, leitor: são R$ 2,4 mil por mês contra apenas R$ 2,2 mil por ano! Sem contar que R$ 2,4 mil por mês, hoje, é também, funesta ironia, o piso salarial de um professor no país, que não ganha, em um ano, o que um deputado federal recebe em um mês: R$ 33,7 mil. Não se trata apenas de uma receita para o atraso: investir mais em presos e em parlamentares do que na educação de nossas crianças, em professores e em escolas bem equipadas é a condenação de toda uma sociedade às trevas.
Em momentos como este em que vivemos, é igualmente inevitável não se lembrar de uma frase antológica do antropólogo Darcy Ribeiro: “Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos, faltará dinheiro para construir presídios”. Vale notar que a declaração de Darcy é de 1982. Passaram-se já 36 anos. E a realidade do país, sobretudo a do Rio de Janeiro, nos mostra quão certo estava o idealizador dos Cieps, os revolucionários centros de ensino em que estudantes do ensino público teriam, além de educação integral de boa qualidade, assistência médica, odontológica e três refeições por dia.
Claro que, se os Cieps de Darcy não tivessem sido tão boicotados, o Rio de hoje poderia ser bem diferente. Talvez houvesse bem mais cidadãos emancipados e conscientes de seus direitos do que bandidos alistados na escola do crime. Mas, no Brasil de uma forma geral, a chance de um projeto como esse ser bem-sucedido fica abaixo de zero. Da atual esquerda à direita, nenhum partido quer investir no professor. Muito menos em um sistema de ensino capaz de emancipar o cidadão, libertando-o do cabresto de políticos populistas que tentam mantê-lo como eleitor agradecido e feliz na atual ignorância, escravo de bolsas e cotas.
Diante desse quadro desolador, resta a iniciativa isolada de um político ou outro que ainda luta de forma brava, quase que quixotescamente, a favor de uma revolução pelo ensino. Infelizmente, hoje, o horizonte se mostra mais favorável à luta daqueles que, após chegar ao poder com a promessa de não roubar nem deixar roubar, traíram os eleitores e afundaram o país na lama do mensalão, do petrolão, da recessão e dessa crise ética sem precedentes na política. Agora, apostam na desinformação e nas mentiras difundidas via fake news, posando de vítimas da Lava-Jato e das elites das quais até havia pouco tempo eram aliados e compartilhavam bilionários esquemas de corrupção. Que os brasileiros acordem a tempo de evitar mais um desastroso retrocesso e passem o rodo nos vigaristas. Que 2018 nos seja leve!