Turistas de países como Alemanha, França e Reino Unido também são orientados a tomar "cuidados específicos" em viagens para o Distrito Federal. Nesta quinta-feira (11), o governo do DF repudiou a inclusão de quatro regiões administrativas como "não recomendadas" em um documento do Departamento de Estado norte-americano.
Entre os locais citados pelo governo dos Estados Unidos estão as regiões de Ceilândia, Santa Maria, São Sebastião e Paranoá. A recomendação inclui, ainda, o alerta para "bairros de favela" em cidades brasileiras como Rio de Janeiro e Recife.
O texto não é muito diferente das recomendações adotadas por outros países desenvolvidos. Após a repercussão do guia norte-americano, o G1 compilou orientações de sete governos sobre as viagens ao Distrito Federal.
Em todos, há menções a crimes como assalto, sequestro relâmpago e tráfico de drogas. Algumas nações também recomendam cuidado extra, em Brasília, com possíveis manifestações e protestos ligados à política nacional.
Dos sete sites visitados, seis mostram que as informações foram atualizadas no segundo semestre de 2017, e ainda eram consideradas válidas nesta quinta. A exceção é o Reino Unido, que não informa a data da última atualização.
Confira, abaixo, as recomendações desses países aos cidadãos com viagem marcada para o DF:
No informativo disponível na web, o Ministérios dos Negócios Estrangeiros e Cooperação Internacional da Itália fala sobre a possibilidade de "agitações repentinas" em conexão com a "atual situação política do Brasil". O recado, dizem, vale em particular para as cidades maiores, como Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.
O texto afirma que é necessário cautela nas capitais "devido à ampla delinquência em ruas e praias (furtos e roubos), mesmo à luz do dia". E faz uma menção direta à capital federal:
"Mesmo a capital, Brasília, não está isenta desses problemas. Sequestros relâmpago podem ocorrer, com pedido de resgate."
Texto do governo italiano fala sobre riscos para turistas em Brasília.
A carta elaborada pelo governo francês aponta a área central do DF como "relativamente segura, beneficiada por prédios públicos, embaixadas e forças de segurança". Apesar disso, recomenda cautela na proximidade de caixas eletrônicos e guichês de banco.
"Vários assaltos à mão armada foram relatados no transporte público", diz o texto. Fora do Plano Piloto, a diplomacia francesa recomenda cuidado extra em "cidades-satélites" – nominalmente, Brazlândia, Ceilândia, Sobradinho, Planaltina e Taguatinga.
Texto do governo francês cita regiões do DF com maior índice de criminalidade;
O Ministério de Relações Exteriores da Alemanha não dedica seção específica do seu "guia para alemães no Brasil" para os riscos de uma viagem ao DF. A capital federal é citada, junto a São Paulo e Rio, em um trecho que fala sobre a possibilidade de manifestações violentas.
"Devido à atual situação política no Brasil, ainda são esperadas manifestações - até mesmo sem aviso prévio - em que, às vezes, os distúrbios violentos não podem ser descartados", diz o texto, em tradução livre. A recomendação é para que os turistas evitem multidões, se informem pela mídia e evitem visitas a favelas.
Governo alemão cita Brasília entre as cidades brasileiras com maior risco para turistas.
Curiosamente, o Ministério de Relações Exteriores do Japão faz uma das descrições mais detalhadas sobre a violência do Distrito Federal. O texto cita uma "tendência decrescente de assassinatos", mas pontua a ocorrência de 242 mortes violentas e 31,4 mil roubos no primeiro semestre de 2017, com dados da Secretaria de Segurança Pública do DF.
O relatório também aponta o risco de sequestros relâmpago e assaltos no Plano Piloto – em particular, nas imediações da rodoviária e dos setores hoteleiros. "Nos últimos anos, houve assaltos a residências em regiões habitadas por muitos japoneses", diz o comunicado, sem especificar quais seriam essas regiões.
"Em particular, em Águas Lindas (GO), Valparaíso (GO), Gama e Ceilândia, a taxa de criminalidade é extremamente alta, e é necessário cuidado [antes de se mudar para essas áreas]."
Mapa do governo do Japão indica Distrito Federal como 'zona de risco' para turistas.
O governo espanhol aponta o Distrito Federal como uma região de "risco médio" para turistas. No detalhamento, diz que os setores hoteleiros registram maior incidência de crimes, e cita alta nos roubos a pedestres e a residências.
"Nas áreas de fronteira do Distrito Federal, a violência está mais relacionada ao narcotráfico. Pode haver ataques e bloqueio de estradas. O turismo esportivo ou ecológico deve ser feito com cuidado", detalha o ministério da Espanha.
Texto do governo da Espanha diz que "toda a cidade de Brasília é zona de risco" para turistas.
A mensagem do governo canadense começa com a afirmação de que "a criminalidade é um problema sério em todo o Brasil". O texto não cita particularidades de cada região, mas afirma que a violência é mais frequente em São Paulo, Rio, Brasília, Recife e Salvador – "particularmente em áreas adjacentes aos bairros desfavorecidos".
"Os crimes mais comuns contra turistas estrangeiros são os assaltos, mas as vezes há agressão, já que existem muitas armas em circulação e os criminosos não hesitam em recorrer à violência."
Canadá cita Rio, São Paulo, Brasília, Recife e Salvador como áreas de risco para o turismo.
O governo britânico traça um perfil bem resumido da violência em Brasília. Segundo o texto, "a área da rodoviária central tem a maior incidência de roubos e furtos de pedestres. Cuidado extra deve ser tomado nessas regiões".
A rodoviária do Plano Piloto fica em uma área bastante estratégica para turistas, a poucos quilômetros dos setores hoteleiros Sul e Norte. O terminal é aninhado no Eixo Monumental – a via que abriga a Esplanada dos Ministérios, o Palácio do Planalto, a Catedral, o estádio Mané Garrincha e outras construções turísticas.
Governo do Reino Unido aponta riscos da área central de Brasília para visitantes estrangeiros.
Do Brasil, para os brasileiros
Se os países do primeiro mundo não hesitam em listar os perigos de visitar o Brasil, é quase possível dizer que a recíproca é verdadeira. Na internet, o Itamaraty exibe relatórios de risco e orientações sobre todos os países com os quais o Brasil mantém relação diplomática – incluindo Mônaco, Noruega e Dinamarca, por exemplo.
"Existem poucas áreas e atividades de Oslo, que devem ser evitados à noite. Podem ser citados por exemplos: passeio pedestre ao longo do rio Akerselva; área em torno da rua Skippergata; área acima da estação central de trem; área em torno da estação de metrô de Majorstuen", diz o governo brasileiro sobre a capital da Noruega.
"Deve-se tomar cuidado sobretudo com 'batedores de carteira' que andam em grupo pelos grandes bulevares, artérias e monumentos conhecidos da capital (Champs-Elyssées, Trocadéro, Louvre, etc)", afirma o Itamaraty sobre viagens a Paris. O texto também pontua que o número de invasões a domicílio na capital francesa aumentou em 2014.
Após a divulgação do relatório de viagens elaborado pelo Departamento de Estado norte-americano, o governo do Distrito Federal emitiu nota rebatendo a citação a Ceilândia, Santa Maria, São Sebastião e Paranoá.
"A realidade da segurança das quatro cidades citadas não pode ser comparada com outras localidades violentas no Brasil e no exterior. Nelas, vivem cerca de 600 mil habitantes, que trabalham, que estudam e convivem numa situação de absoluta normalidade", diz o governo.
Em nota divulgada à imprensa, a embaixada dos EUA no Brasil afirma que as informações de viagem do sistema de mensagens de consulados norte-americanos não é nova e já existiam em avisos anteriores, alertas e mensagens de emergência e segurança.
"O novo aviso não representa uma alteração substancial à informação anterior publicada para os cidadãos americanos que visitam o Brasil." Para inclusão das cidades na lista, a representação dos EUA em Brasília diz considerar "muitos fatores" que determinam o nível de aviso de viagem para cada país. O Brasil é listado como "nível 2" – de países que requerem maior cuidado - em uma escala que vai até ao "nível 4", de regiões não recomendadas para viagens.
"A informação utilizada [...] é coletada de várias fontes, incluindo estatísticas da criminalidade e outras informações disponíveis publicamente".