01/02/2018 às 10h32min - Atualizada em 01/02/2018 às 10h32min

Laudo do IML aponta que Roriz tem Alzheimer em estágio grave

Pelo laudo do IML, Joaquim Roriz começou a piorar em 2010, no ano em que teve de deixar a disputa eleitoral por decisão da Justiça.

CB.Poder

Quatro vezes governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, 81 anos, tem uma longa trajetória de poder. Nunca perdeu uma eleição. Amado por uns e rejeitado por outros, ele não passou incólume à avaliação dos moradores da capital do país em quase 30 anos de vida pública. Mesmo enquadrado na Lei da Ficha Limpa, não há dúvida de que seria um cabo eleitoral poderoso na disputa que se avizinha ou, quem sabe, um candidato forte. Mas Roriz não tem mais saúde mental para interferir na vida política da cidade, tampouco para compreender o mundo que o cerca. É o que revela laudo do Instituto de Medicina Legal, da Polícia Civil do DF, a que a coluna Eixo Capital teve acesso com exclusividade. Depois de uma avaliação feita por peritos em quatro de dezembro, o resultado aponta o diagnóstico de “síndrome demencial, de etiologia mista, Alzheimer e vascular (CID1O F00.2 e F01.9), em estágio grave, com intensa repercussão sobre sua autonomia”. O exame consta de processo criminal em curso na 2ª Vara Criminal de Brasília. Trata-se de um incidente de sanidade mental, realizado para avaliar se o ex-governador tem compreensão da denúncia de corrupção que pesa contra ele. A resposta foi: não.

Doença avançou progressivamente Uma das etapas para chegar à conclusão dos peritos passou por entrevista com dona Weslian Roriz, mulher do ex-governador. Ela fez um relato dramático sobre a situação do marido, com quem está casada há quase 60 anos. A doença começou a se agravar há oito anos. Desde 2015, piorou bastante. Ele começou a se mostrar melancólico, foi visto chorando pelos cantos, impaciente, muitas vezes sem reconhecer pessoas próximas da família, como filhas e netos, e a própria casa. Há três anos, Roriz foi submetido a uma cirurgia na coluna em São Paulo, quando começou a usar bengala e depois passou para a cadeira de rodas por conta da dor. Nas visitas, os familiares anunciavam antigos aliados e amigos, que eram tratados como estranhos. Dona Weslian contou que Roriz desconhece dinheiro, não sabe o que acontece na política e a chama frequentemente ao longo do dia.

Cirurgias, amputações e falta de percepção do próprio corpo Na descrição do dia a dia de Joaquim Roriz, dona Weslian contou à perícia do Instituto de Medicina Legal (IML) que o ex-governador não consegue usar o telefone, ler, escrever, participar de atividades na comunidade, não tem passatempos, não executa sequer tarefas domésticas simples e não consegue manter seus cuidados pessoais de forma autônoma. Ela revelou que Roriz atualmente chama por familiares que já morreram. O político tem diabetes, faz hemodiálise diariamente, realizou cirurgias de revascularização miocárdica, com o implante de três pontes de safena e de duas mamárias, todas realizadas em São Paulo. No ano passado, o ex-governador foi submetido a amputação da perna direita abaixo do joelho e de dedos do pé esquerdo. Porém, segundo a avaliação de Dona Weslian, ele sequer percebe que já não tem parte do corpo.

Doença se agravou com ocaso na política Pelo laudo do IML, Joaquim Roriz começou a piorar em 2010, no ano em que teve de deixar a disputa eleitoral por decisão da Justiça. Três anos antes, ele renunciou ao mandato de senador devido ao escândalo que ficou conhecido como “Bezerra de Ouro”. Por conta disso, foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa e se tornou inelegível até 2022. Em seu lugar na campanha, entrou dona Weslian Roriz, sua fiel companheira, que perdeu a disputa no segundo turno para o petista Agnelo Queiroz.

Silêncio Na hora do exame, Joaquim Roriz não demonstrou compreender a situação. Segundo o laudo, teve atitude indiferente para o exame, em nítida apatia. Não respondeu a nenhum questionamento realizado pelo médico. Manteve-se a maior parte do tempo olhando para frente, com pouca expressão facial e em silêncio.

Suspensão das ações O coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Clayton Germano, disse que o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) vai analisar o laudo para verificar se é o caso de pedir uma análise complementar ou a homologação do exame já realizado pelo Instituto de Medicina Legal, por determinação da Justiça. Caso seja mantido o laudo, o MPDFT vai pedir a suspensão do processo de Joaquim Roriz e o prosseguimento em relação aos demais réus, como determina o artigo 149 do Código de Processo Penal. Trata-se da ação penal que aponta favorecimento à empresa WRJ na construção do residencial Monet, em Águas Claras. Com base nesse entendimento, todas as ações penais contra Roriz também deverão ser interrompidas.


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