Dois dias após a deflagração da Operação Medlecy, que apura o desvio de remédios de alto custo da rede pública, o Ministério da Saúde e a Secretaria de Saúde do Distrito Federal fazem apurações internas para saber se Edilson Soares da Silva, apontado como braço da quadrilha na capital, agia em estoques e hospitais públicos ou em programas como a Farmácia de Alto Custo, que atende 30 mil pessoas em Brasília.
No início da semana, Edilson vai depor à Justiça de São Paulo. Na casa dele, no Pôr do Sol, área pobre de Ceilândia, policiais encontraram caixas de medicamentos contra o câncer avaliados em R$ 138 mil. Edilson poderá responder por três crimes: organização criminosa, crime contra a saúde pública e receptação dolosa qualificada. Se condenado, a pena chega a 18 anos de prisão.
A Polícia Civil e o Ministério Público paulistas querem saber como Edilson tinha acesso aos remédios e de onde as drogas foram roubadas. Os investigadores vão rastrear o lote de fabricação das drogas. Com esste código é possível saber toda a cadeia produtiva, logística e a comercialização.
Ontem, a Secretaria de Saúde do DF constatou que Edilson não é servidor público ou terceirizado do GDF. A Farmácia de Alto Custo do DF e os estoques da rede pública e dos hospitais ainda não passaram por vistoria dos policiais. Contudo, o Executivo local está levantando informações para ajudar nas investigações.
Apesar de centralizar a compra de medicamentos contra o câncer, o Ministério da Saúde destaca que outras unidades da rede pública têm autonomia para adquirir o produto. “Todos os hospitais do SUS habilitados em oncologia recebem mensalmente recursos federais para a compra de medicamentos. O valor já está incluso no total pago para a realização dos procedimentos ambulatoriais e hospitalares para o tratamento”, explica a pasta, por nota.
O Governo Federal compra sete medicamentos contra o câncer. Entre eles está o Rituximabe, usado no tratamento de leucemia grave. Um frasco chega a custar R$ 12 mil. Na casa de Edilson, foram encontradas várias caixas do remédio. Os policiais apreenderam ainda AmBisome, indicado no tratamento de infecções em pacientes com câncer e Aids. Uma caixa não sai por menos de R$ 21 mil.
“Falta de controle”
Falhas no controle em medicamentos na Farmácia de Alto Custo no DF se tornaram alvo de um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU). Em setembro, o órgão apontou brechas para perda de remédios, como falta de controle de estoques e de entrega a pacientes. Em três dos seis locais de armazenamento da Secretaria de Saúde os fiscais encontraram irregularidades.
As 38 páginas destacam divergências no quantitativo de medicamentos encaminhados pelo Ministério e os recebidos pela Secretaria de Saúde. Sete remessas de produtos não chegaram. São mais de 41 mil comprimidos.
Para saber mais Empresas de fachada As investigações da Operação Medlecy começaram em abril de 2015, em Bauru (SP). Um grupo criminoso, segundo o Ministério Público de São Paulo, conseguia medicamentos de alto custo por meio de furto, roubo e desvio de órgãos públicos, para, em seguida, por meio de empresas de fachada, vender esses medicamentos a clínicas e hospitais. O grupo movimentou R$ 16,5 milhões entre setembro de 2014 e maio de 2016. Os presos serão acusados de prática de organização criminosa e crime contra a saúde pública. Integrantes da máfia são investigados em São Paulo, Goiás, Espírito Santo e no DF.