O fechamento de escolas em áreas rurais do Brasil não para de crescer. De acordo com um levantamento da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), de 2002 até o primeiro semestre de 2017, cerca de 30 mil escolas rurais no país deixaram de funcionar.
A Escola Municipal Maria Euquépia, localizada no bairro rural de Roçadinho, na cidade de São José do Vale do Rio Preto, no interior do estado do Rio de Janeiro, é mais uma unidade de ensino do campo que corre o risco de fechar as portas. A escola atende 86 alunos que vão desde a educação infantil até o ensino fundamental. Desde janeiro, quando pais, educadores e vereadores souberam da notícia, a campanha #todospelamariaeuquepia gerou uma expressiva mobilização no município de pouco mais de 20 mil habitantes e conquistou uma vitória nesta semana.
Na última quarta-feira (7), os vereadores derrubaram o decreto municipal 2.807/2018, que extinguia as duas unidades de ensino: a Maria Euquépia e a Escola Municipal Domingos José Teixeira, que atende 42 alunos.
Daniele Branco é uma das mães que participa do movimento. Ela conta que a escola é antiga no bairro e desempenha um importante papel na vida dos estudantes. A dona de casa destaca que o remanejamento dos estudantes irá gerar um impacto negativo na vida do seu filho e de outros crianças da escola.
“O primeiro impacto vai ser o emocional, ele vai sentir muito tendo que ir para outra escola, ter que se desligar da escola que é uma extensão da casa dele. O segundo impacto que ele vai sofrer é com relação à segurança, porque o meu filho tem sete anos e vai entrar em um ônibus sem cadeirinha, sem cinto de segurança, quase 20 quilômetros em uma estrada precária, cheia de buracos, sem sinalização nenhuma para chegar na escola que a prefeitura quer colocar”, explica.
Enquanto escolas fecham, as matrículas em unidades de ensino no campo crescem em alguns estados. O censo divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) revela que no estado do Rio de Janeiro houve um aumento no número de inscrições em unidades escolares rurais de 2016 para 2017. Segundo o levantamento, houve 3.518 matrículas a mais em relação ao ano de 2016.
Com mais de 2 mil escolas públicas construídas em acampamentos e assentamentos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é uma das principais referências quando o assunto é educação do campo. Bia Carvalho, pedagoga e integrante do MST, é moradora do assentamento Terra Prometida, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e destaca a importância das unidades de ensino em zonas rurais para a construção da identidade de campo das crianças.
“Essa escola precisa contextualizar o mundo onde essas crianças vivem, pensar um projeto político e pedagógico onde essas crianças possam se reconhecer, se sentir importante, tendo uma boa educação, e que também possa viver num lugar em que elas se reconheçam nesse espaço”, destaca.
Até o fechamento desta reportagem, o Diário Oficial do Município ainda não havia sido publicado ratificando a decisão da sessão extraordinária de quarta-feira (7) da Câmara Municipal de manter as escolas funcionando.
Por meio de nota, a assessoria de comunicação da prefeitura de São José do Vale do Rio Preto informou que as escolas estão sendo fechadas devido ao alto custo dos profissionais, baixo número de matrículas e alunos e a diminuição de R$ 1,5 milhão no valor anual dos repasses do governo federal.
A prefeitura também destacou que pretende transferir os estudantes da Escola Municipal Maria Euquépia para a Escola Municipal José Affonso de Paula e os alunos da Escola Municipal Domingos José Teixeira para a Escola Municipal Amandio Evangelista do Carmo.