Morreu, na tarde desta segunda-feira (12/1), aos 68 anos, o jornalista maranhense José Negreiros. Nascido em São Luís, em 11 de dezembro de 1949, ele faleceu em decorrência de um câncer em hospital de Brasília, cidade que adotou como sua há décadas. Ele deixa mulher — a jornalista Luciana Bezerra — e três filhos: Beatriz, Cintia e Thiago.
A família convida amigos e colegas para o velório, a partir das 11h desta terça-feira (13/2), na Capela 10 do Campo da Esperança, na Asa Sul. O sepultamento ocorrerá às 14h30.
Formado pela Universidade de Brasília (UnB), ao longo da carreira Negreiros se tornou um respeitado jornalista político e econômico. No Correio Braziliense, foi correspondente internacional, editor de Brasil, Economia e Política e ocupou o cargo de editor executivo.
José Negreiros também morou no Rio de Janeiro e passou pelas redações de veículos importantes da imprensa nacional, como Jornal do Brasil, Gazeta mercantil, O Estado de S. Paulo e O Globo. Atualmente, trabalhava na empresa de análise política Arko.
O governador de Brasília, Rodrigo Rollemberg, lamentou a morte do jornalista. "Negreiros foi um dos maiores jornalistas que Brasília e o Brasil conheceram. Lúcido, sagaz, era capaz de construir análises políticas dificilmente superadas pelo fato, tal sua capacidade de interpretar o jogo político. Entendia de comunicação como poucos. Compartilhei de sua amizade, ouvi conselhos e sempre vi seu amor pela cidade, seu compromisso para que fizéssemos um bom governo, sempre com boas sugestões. Como brasiliense e governador de Brasília lamento a perda de Negreiros, me solidarizo com a família e me irmano em suas orações", declarou.
Um amigo querido
"Excelente jornalista, grande figura humana.Livrou-se do sofrimento do câncer e nós perdemos um amigo querido."
José Serra, senador
Um mestre do jornalismo
"Negreiros é um mestre do jornalismo. Com ele, aprendi a ver o mundo com lentes mais aguçadas, mais impertinentes e mais irônicas. Compartilhei anos de sua amizade, de sua inteligência e vivacidade em relação aos personagens políticos e econômicos de Brasília e do Brasil. Uma grande perda pra todos nós."
Paulo Fona, secretário de Comunicação do Governo do Distrito Federal
Emoção acima de tudo
"Inquieto e sempre apressado, o pateta do meio foi-se embora antes. Dos três, era o mais ranzinza, implicante, teimoso e irreverente, mas também o mais instigante, criativo, divertido e imprevisível na maior parte do tempo, data vênia Armando Mendes, o da ponta direita. Armando era o racional por excelência, detalhista, capaz de detectar um erro onde ele aparentemente não existia, e estilista de mão cheia. Negreiros, emoção acima de tudo, um implacável demolidor de verdades estabelecidas, capaz de ir além dos seus próprios limites. Tive o privilégio de ter trabalhado com ele por sete anos no Jornal do Brasil, e por oito no Correio Braziliense. Nunca mais nos separamos a ponto de sua primeira mulher ter-me dito, certa vez, que somente eu seria capaz de aturá-lo pelo resto da vida. Tentei... Foi um dos mais brilhantes jornalistas que conheci – repórter de faro apurado, editor caprichoso que sabia extrair o melhor de uma história, correspondente internacional versátil capaz de transitar com desenvoltura por todas as áreas do conhecimento. Espero, um dia, reunir os melhores casos de Negreiros para que sirvam de estudo em escolas de jornalismo."
Ricardo Noblat, amigo e jornalista
Um exemplo
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"É preciso mais do que uma palavra para se dizer o que perdemos com sua ida: equilíbrio, lucidez, inteligência, lealdade, modéstia e um profundo senso de ética tão necessário nestes tempos confusos. Mas para expressar o que ganhamos basta uma. Um exemplo."
Fernando Jorge, amigo de longa data
O dia seguinte
"Conheci José Negreiros como leitora, pelas páginas da revista Imprensa, em um artigo sobre o portal de notícias que ele estava lançando. Àquela altura, já tinha passagens como repórter pelo Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, O Estado de S. Paulo e O Globo. Pouco tempo depois nos encontramos na redação do Correio Braziliense. Ele, editor-Executivo, eu, repórter pé na lama. Era o homem que chegava primeiro e saía por último. Examinava com apuro as informações que seriam publicadas, providenciava o casamento perfeito entre palavras e imagens e, no dia seguinte, indicava onde tínhamos ido bem e onde falháramos. Entre os novatos, corria a lenda de que no prédio do jornal havia um quarto onde ele descansava. Lenda que ele próprio desmentia, todas as manhãs, ao se apresentar para o trabalho, arrumado, bem disposto e perfumado. Negreiros era exigente. Além de apuração detalhada, descrições sem adjetivos e pontuação correta, nos cobrava roupa e sapatos adequados. Repetia que o traje era um sinal de respeito ao entrevistado. E, em outra versão para a mesma regra, citando Gay Talese - que insistia mil vezes para que lêssemos, explicava que a conversa começava em desvantagem para quem aparecia mal vestido. Apesar do gênio forte, do caráter rigoroso e da inteligência intimidadora, Negreiros conquistou uma legião de amigos e admiradores. Vários de nós repetíamos, sempre que possível, que ele tinha nos chefiado, era uma espécie de certificado de qualidade. Generoso, gostava de lapidar talentos. Persistente, tentava aprumar casos perdidos. O jornalismo é das profissões que não admitem descanso, a boa matéria exige a suíte e a melhor história é a que ainda será contada. José Negreiros personificava a certeza de que a próxima edição seria melhor do que a do dia anterior. Fez disso seu credo de vida e, sempre que trocava de emprego, se dedicava à missão com fôlego de novato. Adorava o mundo que as novas tecnologias descortinaram para o jornalismo. Nos últimos tempos, conversávamos sobre passado e também sobre futuro. O entusiasmo com que nos contava suas histórias de repórter era o mesmo que exibia ao analisar os cenários para as próximas eleições. Negreiros já estava doente, mas jamais o vi queixando-se ou lamentando-se. Incansável e corajoso, para ele, a vida era o dia seguinte"