Os gritos de “Fora Temer” abafaram a introdução do Hino Nacional na abertura dos desfiles das campeãs do carnaval carioca, na noite deste sábado, 17, na Marquês de Sapucaí. Quase todo o setor 1, o mais popular, cujos ingressos são distribuídos gratuitamente pelas escolas de samba, aderiu ao coro contra o presidente Michel Temer (MDB).
A Paraíso do Tuiuti, segunda colocada do carnaval, que se reapresentou na madrugada, criticou o governo abertamente num desfile sobre a escravidão. Debochou da Reforma Trabalhista e dos protestos contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e chegou a retratar Temer como um vampiro com a faixa presidencial
A Beija-flor, campeã, que desfilou depois do Tuiuti, falou de corrupção, violência, miséria e Lava Jato em seu enredo sobre as mazelas brasileiras.
Aclamada pelo público por apresentar um enredo crítico a Michel Temer a Paraíso do Tuiuti, voltou ao sambódromo do Rio na madrugada deste domingo (18) para o desfile das campeãs sem um dos principais elementos do desfile oficial: o destaque do último carro alegórico, que na madrugada de segunda-feira (12) havia desfilado vestido de vampiro e usando a cópia de uma faixa presidencial, numa referência a Temer, trocou esse adereço por uma gravata verde e amarela. A escola informou que o professor Léo Morais, que encarnava o “vampiro presidente”, perdeu a faixa presidencial ao final do primeiro desfile e não confeccionou outra.
Durante a exibição deste domingo, outra crítica a Temer foi retirada. Sobre o mesmo carro alegórico em que o “vampiro presidente” era o destaque principal, numa lateral o auxiliar administrativo Sérgio Lopes, de 38 anos, desfilava vestindo uma cópia de camisa da seleção brasileira e batendo panela, numa referência irônica aos manifestantes que, entre 2013 e 2016, promoveram panelaços em prol do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT). Dentro da frigideira, Lopes havia colado um papel onde se lia “Fora, Temer”. Ele ingressou na avenida assim, mas só conseguiu percorrer aproximadamente metade da pista exibindo a frigideira com essa mensagem. Ao notar o protesto, que um repórter fotográfico se preparava para registrar, um dos responsáveis pela alegoria arrancou o papel, gerando reclamações do jornalista. Questionado, o responsável pela alegoria afirmou que “manifestações desse tipo são proibidas”.
Ao final do desfile, o autor do protesto reclamou: “O enredo da escola era condizente com meu protesto. Se a escola está reclamando do Temer, por que eu não tenho o direito de reclamar também?”, disse Lopes. “Havia outras pessoas com protestos semelhantes no carro [alegórico], mas arrancaram todos”, contou. O auxiliar administrativo afirmou que no desfile oficial ele foi o único a protestar, e não foi coibido pela escola. “Na segunda-feira chegaram a ver e não fizeram nada, não reclamaram ”
Na plateia, só os setores populares (1, 12 e 13) foram unânimes em aplaudir as críticas a Temer. Nas demais arquibancadas, houve manifestações esparsas e raras. O engenheiro Luiz Antônio Monteiro, de 49 anos, que estava numa frisa, exibia um pano com a foto de Temer e as palavras “Fora, Temer”. “Esse governo só quer ferrar o povo”, afirmou.
Na arquibancada do setor 10, manifestantes abriram durante o desfile da Tuiuti uma faixa onde se lia: “Nas ruas e na Sapucaí, o povo resiste ao golpe. Eleição sem Lula é fraude”. A mensagem era assinada pelo Levante Popular da Juventude. Quando o grupo abriu a faixa e tapou parcialmente a visão dos ocupantes de um camarote situado logo abaixo da arquibancada, um homem que estava no camarote tentou rasgar a faixa – aparentemente sem saber o que estava escrito nela, e com o intuito de não ter a visão impedida. Mas o grupo conseguiu recolher a faixa antes que ela fosse rasgada, e então a estendeu em outra posição, sem atrapalhar a vista de ninguém.
Algumas pessoas que desfilaram em outras escolas (Mocidade, Mangueira, Portela, Salgueiro e Beija-Flor) também exibiram cartazes de protesto. Na Mangueira, um folião atravessou a Sapucaí exibindo um cartaz onde se lia “Fora, Temer”. Durante o desfile da Beija-Flor, que também fez uma crítica social em seu enredo, o público não se manifestou contra o presidente.
Poucos políticos prestigiaram o desfile, que começou na noite deste sábado (17) e se estendeu até domingo. O ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (MDB) desfilou com a Portela, sua escola de samba, e não chegou a falar com a imprensa. O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) assistiu ao desfile das seis escolas, e chegou a ser cumprimentado por sambistas. A popularidade de Freixo no sambódromo não se comparou à de celebridades como a apresentadora de TV Sabrina Sato e o ex-jogador de futebol Zico – dezenas deixaram seus lugares durante o desfile para correr até onde o flamenguista estava e tirar fotos com ele.