O protagonismo exercido por militares no governo de Michel Temer tem gerado incômodo nos corredores do Palácio do Planalto. A proximidade do presidente com a caserna ganhou papel de destaque após a intervenção no Rio, em que deu a um general a tarefa de tentar controlar a violência no Estado, e ao nomear outro para comandar interinamente o Ministério da Defesa.
A reação, ainda velada, vem de auxiliares e aliados, que argumentam não ser bom para o presidente ter a sua imagem atrelada a dos militares. Contudo, o que tem mais pesado é o temor de perderem espaço político ao lado de Temer com a ascensão de generais a postos estratégicos. Atualmente, um dos principais consultores do presidente é o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen.
Temer, porém, tem afirmado em resposta às desconfianças que é preciso acabar com o “preconceito” em relação às Forças Armadas. Argumenta que eles deveriam “estar mais presentes na administração do País”.
Ao menos no caso do Ministério da Defesa, Temer tem sido pressionado a rever a indicação do general Joaquim Silva e Luna, primeiro militar a chefiar a pasta. A intenção do presidente era mantê-lo no cargo, mesmo como interino, até o fim do mandato, mas nos últimos dias já admite substituí-lo por um civil.
O afago de Temer aos militares não se restringe a mais espaço na administração. Em 2017, o valor repassado para a Defesa a título de custeio e investimento voltou a crescer após dois anos de queda. Foram R$ 20,5 bilhões, ante R$ 18,9 bilhões em 2016 e R$ 19,6 bilhões em 2015.
A boa relação é ainda anterior, antes mesmo de o emedebista assumir a Presidência. Remonta a 2011, quando a presidente cassada Dilma Rousseff decidiu delegar ao então vice-presidente a tarefa de coordenar o Plano Estratégico de Fronteiras. Temer, já presidente, faz questão de ouvi-los e os prestigiou em diversos episódios, como quando participou de uma reunião do Alto Comando do Exército pela primeira vez. Na ocasião, ganhou um bastão de comando. Há duas semanas, em novo sinal de prestígio aos militares, foi à reunião do Conselho Militar de Defesa.
‘Convocação’ – Unânimes em rechaçar a intenção de busca de protagonismo, chefes militares consultados pelo Estado admitem que a maior participação no governo coloca as Forças Armadas em evidência.
Em entrevista ao Estado, Silva e Luna afirmou que “os militares não querem protagonismo” e verbalizou a preocupação com o uso das tropas federais em ações de segurança pública. O ministro fez questão de lembrar ainda que os militares não pediram para assumir protagonismo, mas foram “convocados”.
Outro general em evidência, o Secretário Nacional de Segurança Pública, Carlos Alberto dos Santos Cruz, avalia que a busca por militares na administração se dá porque “as características da profissão (militar) estão em alta no mercado, que são honestidade e eficiência”. Para ele, as pressões pela troca de Silva e Luna atendem a “um posicionamento mais filosófico e ideológico do que prático” e afirmou que isso “é puramente discriminatório”.
Intervenção – Na tropa, a avaliação é de que ao comandar missões como a intervenção no Rio, o Exército passou a assumir “inúmeros riscos” e um eventual fracasso “pode afetar a credibilidade das Forças Armadas”.
“Temos plena consciência dos riscos e que isso pode afetar a imagem e a nossa credibilidade. Mas confiamos na nossa experiência e no apoio, inclusive dos outros poderes, para, embora o espaço de tempo seja curto, colocar o Rio em uma situação aceitável em termos de segurança pública”, disse o general de Exército da reserva, Augusto Heleno, considerado uma referência entre os militares.
Oficiais afirmam que, mesmo que a intenção do presidente seja utilizar o prestígio dos militares para melhorar a sua imagem tendo em vista o processo eleitoral, dependerá dos resultados obtidos. E alertam que, em caso de fracasso, a influência pode ser negativa.