Com cemitérios lotados e uma média de 900 enterros mensais em todo o Distrito Federal, uma alternativa para a falta de espaço seria oferecer a possibilidade de cremação dos corpos. Mas a prática, cada vez mais procurada, não existe no território da capital. No fim do ano passado, depois de 11 anos de espera, a empresa Campo da Esperança recebeu a licença instalação de um crematório, porém o processo parou por aí. Em meio a um jogo de empurra entre a companhia e autoridades, não há previsão de continuidade nem de início da construção.
De acordo com a concessionária, a proposta foi apresentada durante as discussões que a escolheram como responsável pelos cemitérios da capital, em 2001. Já em 2006, a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), atual Secretaria do Meio Ambiente (Sema), deu a permissão para a construção. Assim, foram definidos um local e um projeto.
Onde fica
Um terreno da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus), que fica em frente ao cemitério da Asa Sul, foi escolhido para receber o crematório. A área tem cerca de 33 mil metros quadrados e atualmente está ocupada pela direção da Campo da Esperança, alguns quiosques regularizados e galpões utilizados pela Secretaria de Saúde como câmara fria para o armazenamento de remédios e outros móveis da instituição.
Para a empresa, dessa forma, não há jeito de avançar no projeto. “Para dar prosseguimento na documentação e andamento do processo de licenciamento ambiental, é necessário que a Sejus entregue, integralmente, à concessionária a área destinada ao crematório”, informou, por meio de nota. A partir do licenciamento ambiental, a previsão é de que as obras do crematório terminem em até um ano.
A Secretaria de Saúde, por sua vez, contesta as alegações. A pasta informou que não existe nenhum documento pedindo a desocupação do prédio utilizado pela pasta. Já a Sejus declarou que, no momento, não há decisão sobre a retirada desses ocupantes.
Segundo o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), atual responsável por parte da documentação, o licenciamento ambiental, que deve analisar o impacto das atividades desempenhadas no espaço, depende de documentação que a empresa ainda não teria entregue.
Como ainda não há previsão para o crematório daqui sair do papel, quem deseja recorrer ao serviço precisa procurar as unidades de Formosa (GO) ou a mais próxima, em Valparaíso (GO), onde é possível encontrar o Jardim Metropolitano. Neste último, a estimativa é de que ocorram mensalmente 20 cremações, em média.
Por nota, a empresa Contil, que administra a instituição, informou que, só em relação ao DF, as cremações correspondem a 2% dos cerca de mil óbitos por mês. Apesar de antigo, o procedimento não é tão comum entre os brasileiros, diferentemente do que ocorre entre os japoneses e indianos.
Os gastos podem variar bastante. Segundo a empresa, no Jardim Metropolitano só a cremação custa R$ 2,46 mil, mas a depender do pacote escolhido o valor pode ultrapassar R$ 12 mil. O que deixa o ato mais caro são adicionais como a escolha do recipiente onde essas cinzas ficarão – o columbário.
A cremação se torna uma opção cada vez mais viável devido à superlotação dos cemitérios. O JBr. já mostrou que não há vagas nas unidades do Gama e de Taguatinga além de jazigos parcialmente ocupados. Os outros quatro cemitérios do DF estão perto do fim. Um exemplo é o de Planaltina, com vida útil estimada de cinco meses e uma média de dois enterros por dia.