A decisão do presidente estadual do PSDB, Pedro Tobias, de expulsar do partido o tucano João Cury após ele assumir a Secretaria da Educação do governo Márcio França (PSB) causou novo atrito entre alckmistas que defendem a candidatura do ex-prefeito João Doria e os que estão mais próximos do atual governador, que tentará a reeleição em outubro.
Alinhada com Doria, a cúpula estadual do PSDB quer evitar que o ex-prefeito seja “cristianizado” como Geraldo Alckmin foi na eleição para a Prefeitura da capital em 2008, quando tucanos ligados ao então governador José Serra (PSDB) apoiaram a reeleição do então prefeito Gilberto Kassab, à época no DEM e hoje no PSD, contra Alckmin, que ficou em terceiro lugar na disputa.
Assim que foi confirmada a nomeação de Cury na pasta da Educação, Tobias divulgou uma nota na segunda-feira, 23, comunicando a desfiliação dele do partido de forma unilateral alegando que o ex-prefeito de Botucatu cometeu “irrefutável transgressão ética” ao desistir da candidatura a deputado federal pelo PSDB para integrar o secretariado de França.
A decisão, contudo, criou um inconveniente na legenda, segundo integrantes do diretório. Isso porque além de Cury outros quatro tucanos próximos a Alckmin ainda estão no primeiro escalão do governo França: Saulo de Castro (Governo), Marcos Monteiro (Desenvolvimento Econômico), Clodoaldo Pelissioni (Transportes Metropolitanos) e João Carlos Meirelles (Energia).
O caso mais emblemático é o de Saulo de Castro, braço direito de Alckmin que chegou a ser cotado para disputar o governo e tem interlocução direta com o presidenciável tucano. A permanência dele na máquina estadual, que deve ocorrer até o fim do governo França, é vista por aliados de Doria como um sinal de que o ex-prefeito não contará com o apoio explícito de alckmistas de peso.
Outro caso citado por tucanos ainda mais semelhante ao de Cury é o de Marcos Monteiro, que trocou a Secretaria de Planejamento na gestão Alckmin para assumir a pasta de Desenvolvimento Econômico no governo França. Monteiro foi tesoureiro na campanha de 2014 e citado por delatores da Odebrecht como receptor de recursos ilícitos da empreiteira para a reeleição de Alckmin. Ele nega. No caso de Cury, ele comandava a Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) no governo Alckmin antes de assumir cargo no secretariado de França.
Em entrevista publicada antes de sua posse, França declarou que só permaneceria na sua administração os tucanos que tivessem alinhados com seu projeto eleitoral.
Com quatro filiados no governo do PSB, o PSDB paulista vive um dilema sobre o tratar os demais casos. Tucanos pró-Doria atribuem a expulsão de Cury a um entrevero pessoal com o presidente Pedro Tobias, que havia articulado a candidatura dele a deputado. Eles reforçam que a Executiva estadual da sigla estabeleceu poderes ao dirigente tucano para desfiliar correligionários que não apoiassem o ex-prefeito da capital, como o prefeito de Rio Grande da Serra, Gabriel Maranhão, que declarou apoio a França e será expulso junto com Cury.
Apoiadores de Doria acreditam ser improvável que tucanos de peso que ficaram com França sejam expulsos do partido mas defendem que os atuais secretários sejam enquadrados pelo diretório a não explicitar apoio ao candidato do PSB mesmo permanecendo na máquina.
Já tucanos favoráveis a França acreditam que Tobias tenha “blefado” com a medida para pressionar os demais secretários a deixarem o governo ou atuarem a favor da candidatura Doria mesmo estando na máquina comandada por França.
Alckmin e Doria se reuniram reservadamente no último sábado, 21, na capital pela primeira vez depois de algum tempo. A relação entre os dois é classificada por tucanos como fria e de desconfiança mútua.
Alckmistas não estão convencidos de que o ex-prefeito da capital paulista tenha desistido de fato de disputar a Presidência da República e acreditam que Doria continuará sendo uma ameaça ao projeto de Alckmin enquanto o ex-governador não subir nas pesquisas – ou não fechar alianças em torno de sua candidatura.