Um policial civil de Goiás matou um jovem empresário brasiliense, em um bar de Taguatinga, e feriu, a tiro, um amigo da vítima. Apesar de o crime ter ocorrido na tarde de sábado (12/5), ganhou repercussão na noite de terça-feira (15), por meio de publicações nas redes sociais de amigos e familiares dos baleados. Indignados, eles organizam uma passeata em Taguatinga para o próximo sábado.
Gustavo Gero Soares, 25 anos, era engenheiro civil e dono de uma loja de autopeças em Vicente Pires. O policial o matou com um tiro na QNL 9/11, em Taguatinga Norte. O rapaz estava com o amigo e bancário Carlos Augusto Moreira Galvão, 26. Ambos toparam com o agente goiano em frente a uma distribuidora de bebidas.
Em depoimento na delegacia, Carlos Augusto contou que o policial advertiu ele e o amigo por urinar em via pública. Ambos reconheceram o erro e pediram desculpas, afirmando que não repetiriam o ato, mas, segundo, Carlos, o policial proferiu injúrias racistas contra ele. Entre outras coisas o chamou de “neguinho”. A ofensa provocou uma reação violenta.
Gustavo acertou o rosto do policial com um soco. Ele caiu no chão, se levantou, foi ao carro, pegou uma pistola calibre 40 e colocou na cintura. “Você tá ficando louco? Você vai atirar?”, perguntou Gustavo, ainda segundo Carlos Augusto em depoimento. Gustavo recebeu três tiros e morreu na hora. Ao ver o amigo caído, Carlos partiu para cima do policial, que atirou de novo, atingindo de raspão o braço esquerdo dele. Depois, levou uma coronhada na cabeça. Mesmo ferido, Augusto conseguiu desarmar o agente e desmaiá-lo, com outro soco.
Quando policiais militares chegaram ao local do crime, Gustavo estava morto, Carlos Augusto havia dado entrada no Hospital Regional de Ceilândia e Paulo Roberto Gomes Bandeira, o policial acusado, estava no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), onde foi preso em flagrante por homicídio e tentativa de homicídio.
Afastamento
As polícias civis de Goiás e do Distrito Federal não divulgaram o nome do assassino confesso, mas o Correio teve acesso à ocorrência do caso e constatou se tratar de Paulo Roberto Gomes Bandeira, 51 anos. Há 27 na corporação, ele foi afastado para “tratamento de ansiedade” no Núcleo de Proteção a Saúde do Servidor, mas “estava à disposição” da entidade em caso de necessidade, segundo a Polícia Civil do estado. O agente também ficou longe do trabalho por 17 dias em 2013, acusado de envolvimento em uma fuga de presos em uma penitenciária de Goiás.
Apesar de estar de atestado, Paulo Roberto continuava com a pistola automática da Polícia Civil de Goiás, a mesma usada no crime. Também em nota, a corporação alegou que o servidor estava “em fase de avaliação”, portanto, a arma dele não foi recolhida. “A arma do policial só é retirada quando a perícia médica determina e a coordenação de proteção ao servidor não tem médicos, apenas psicólogos. Ele não estava com transtorno psicológico, mas fazendo terapia”, diz o texto.
Na delegacia, Paulo Roberto contou que estava em um bar, onde teria bebido cinco latas de cerveja. Confirmou ter advertido a dupla. "Vocês estão errados, tem um monte de banheiro por aqui", teria dito aos rapazes. Depois, os dois entraram no bar para comprar cerveja. Paulo Roberto admitiu a ofensa racial, mas alegou ter atirado em legítima defesa, após ter levado um soco.
A Divisão de Comunicação da Polícia Civil do DF se limitou a informar, por meio de nota, que o caso foi registrado na 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro) e as investigações serão conduzidas pela 17ª DP. Sobre o agente envolvido no assassinato, divulgou apenas as iniciais (PRGB), dizendo que ele foi “levado à DP e após os procedimentos legais, conduzido à carceragem da Delegacia de Polícia Especializada e que se encontra à disposição da Justiça”.