21/05/2018 às 11h09min - Atualizada em 21/05/2018 às 11h09min

Contas de Agnelo não foram julgadas até hoje, 1.237 dias após petista deixar o Buriti

Transparência para quê?

Jbr

As contas públicas do último ano de governo de Agnelo Queiroz (PT) não foram julgadas pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) até hoje, 21 de maio de 2018. E mesmo agora, 1.237 dias após a saída do petista do Palácio do Buriti, não há data para a avaliação dos cofres públicos de 2014. O silêncio dos conselheiros da corte responsável pela fiscalização dos gastos públicos desrespeita o direito do cidadão, contribuinte e eleitor de saber a realidade financeira de Brasília.

Afinal, quando perdeu a cadeira de governador, Queiroz afirmou ter deixado as contas públicas organizadas. Mas o atual chefe do Executivo, Rodrigo Rollemberg (PSB), desmentiu a versão do antecessor. E até hoje bate o pé alegando que recebeu o governo com um rombo monumental, com as dimensões de R$ 6,5 bilhões. O veredito do TCDF acabaria com essa queda de braço retórica. Por isso, politicamente, a “ausência” de uma posição da corte beneficia a manutenção dos discursos de Agnelo e Rollemberg.

Sem a palavra do órgão de controle, ambos podem continuar confortavelmente com as respectivas versões para a realidade financeira do DF. Uma condição especialmente agradável em um ano com eleições previstas para outubro. Ou seja, o céu é brigadeiro para os políticos, mas para a população nuvens carregadas forçam visibilidade. A situação fica ainda mais peculiar com o fato de o TCDF ter julgado o primeiro ano do governo Rollemberg. Com ressalvas, os conselheiros aprovaram as contas de 2015.

Em franca batalha para receber a última parcela do reajuste prometido por Agnelo em lei, os servidores públicos torcem o nariz para a falta de um posicionamento da corte de contas. “Qual é a razão dessa demora? Passamos por um período amargo por conta da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Acho que o TCDF peca em não dar atenção especial a uma matéria que tão importante como as contas do DF”, avalia o presidente do Sindicato dos Servidores da Administração Direta (Sindireta), Ibrahim Yusef.

Posição confortável

O rombo nas contas públicas é justamente a justificativa de Rollemberg para não ter concedido o reajuste às categorias, sem falar dos cortes nos investimentos nos serviços públicos para a população. “E agora, na véspera das eleições, ele vem dizer que tem previsão orçamentária para os reajustes no ano que vem”, completou.

Por nota, o TCDF justifica a demora alegando que é um procedimento rotineiro conferir todos os elementos que integram a prestação de contas, para certificar sobre a possível existência de documentos ou informações faltantes. Dentro do contexto de ouvir todas as partes, existem dois processos pendentes. Trata-se do 32137/14, uma auditoria para verificar o cumprimento do art. 42 da LRF e, do 7070/15, que trata da verificação do cumprimento das metas fiscais do exercício.

Ambos precisarão passar pela avaliação de mérito da corte. Na sequência, haverá espaço para a manifestação do Ministério Público, além de mais uma oportunidade para o ex-governador. E depois do crivo dos conselheiros, o processo ainda precisa passar pela Câmara Legislativa, em um julgamento técnico e político.

Chumbo cruzado

A briga pelas contas de 2014 inflama aliados de Agnelo e Rollemberg. Afinal, o discurso de cada um serve de alicerce para a retórica dos aliados nesta fase pré-eleitoral. Ou seja, a derrota nessa queda de braço repercutirá negativamente no grupo político de quem tombar, debilitando o fôlego eleitoral para as urnas de outubro.

Em conversa pelo Whatsapp, o presidente regional do PSB e da Fundação de Apoio à Pesquisa (FAP), Tiago Coelho, teclou: “O PSB acredita fortemente que o TCDF irá julgar as contas em breve. Ficará ainda mais claro para a população o efeito nocivo nas contas do GDF e, com isso, o impacto negativo na oferta de serviços públicos à população, bem como nos investimentos. Logo, ficará mais claro o conceito de equilíbrio fiscal e arrumação da casa que falamos tanto”.

Do lado do ex-governador, o vice-presidente regional do PT, deputado distrital Chico Vigilante, considera ruim a demora do julgamento.

“Se o TCDF tivesse julgado já tinha acabado com essa falácia que o Rollemberg diz até hoje. Ele não encontrou o DF quebrado. Disse que estava sem dinheiro por três anos e agora quer apresentar o DF como a oitava maravilha do mundo. É a prova cabal que não tinha nada quebrado. O que existe é a incompetência de um governo que não sabe administrar Brasília”, atacou Vigilante.

Saiba mais

O Jornal de Brasília procurou o ex-governador Agnelo Queiroz para comentar a questão, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. Agnelo avalia voltar para a vida pública, mas precisa resolver pendências na Justiça Eleitoral para ser elegível.

Pré-candidato à reeleição, o governador Rodrigo Rollemberg também foi procurado. Assim como Agnelo, ficou em silêncio.


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »