A foto de Cristovam Buarque com mãos postas em oração, na altura do coração, quando abraçou de vez a candidatura do tucano Izalci Lucas ao Palácio do Buriti, foi censurada por eleitores brasilienses. Consideraram uma blasfêmia. A aliança e a imagem. Na melhor das hipóteses, é uma moldura fosca da política de Brasilia hoje. E como tal, não deve ser reproduzida.
A oração do senador, supõe-se, deve ter sido dirigida a Santa Edwiges, padroeira das causas impossíveis, uma vez que liga fieis de vários credos que já frequentaram os altares em que a ética paga seus pecados. Junta facções e falcões de uma velha política que teima sobreviver em manobras de cúpula. E, pior, espúrias.
Escorraçados de outras eleições, aliam-se agora a arrependidos de outras coligações.
São passistas de um samba do crioulo doido. Mas como Rogério Rosso é roqueiro, nutre-se a expectativa de que ele vá tocar outros sons em outras plagas. Desse tipo de saga, sugeriram seus correligionários, ele deve sair, levando pela mão seu fiel escudeiro Renato Santana. Menos arriscado do que compor a chapa, seria incorporar os papéis de Dom Quixote e Sancho Pança.O que os fotografados de mãos postas aos céus propunham era juntar alhos com bugalhos ideológicos e programáticos, perfazendo um tecido amorfo. Na chapa que Cristovam avalizou estão tucanos, pepessistas e pedessistas.
Falar do sucesso de uma coligação que também foi borrifada pelos salmos de alguns segmentos do pastorato pró-ativo da política brasiliense, é uma falácia. Trata-se de uma chapa improvável, num momento impróprio, integrada por personagens de soma impraticável, que tende a se desfazer com o tempo, quando de novo Izalci se perder no emaranhado das mesmas denúncias que o perseguem desde que ocupou a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal.
Cristovam, lépido, logo proclamou: “Vamos aguardar os fatos para definir nosso futuro”. Esse gesto denuncia que a formação da chapa foi um movimento sem base na realidade. E não passou de um vagido de outono.
Enquanto isso, seus putativos adversários de centro-direita (Jofran Frejat, benzido sabe-se lá por quem) e de centro-esquerda (Rollemberg, abençoado pelos adventistas do marinismo e do cirismo (de Ciro, não confundir com cinismo), que navega em seu paganismo pragmático, traçam planos.
Em outro flanco, Alírio Neto, o defenestrado; Eliana Pedrosa, a persistente; e Paulo Chagas, que promete pulso firme para colocar ordem na casa, observam a tudo de camarote. Podem até vestir a mesma camisa no momento oportuno. Se isso acontecer, pastores e pagãos vão descobrir que ainda estão vivendo inspirados no antigo testamento da política.