Em mensagem a ser proferida na próxima segunda-feira (11) em evento com o presidente Michel Temer (MDB), o comandante da Marinha, almirante de esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira, afirma que o Brasil hesita em busca de um rumo para a estabilidade. O comandante se utiliza de metáforas ligadas ao mar para descrever a crise política brasileira e a proximidade das eleições de outubro, cercada de indefinições quanto a candidatos e propostas. "Nesses tempos incertos e nebulosos, a pátria navega em mar encapelado, hesitando na busca de um rumo que nos traga maior estabilidade interna e um mínimo de coesão em torno dos grandes objetivos de desenvolvimento econômico e social", afirma. A declaração, também chamada de Ordem do Dia, está prevista para ser dada em solenidade em Brasília em homenagem ao 153º Aniversário da Batalha Naval do Riachuelo, comemorado em 11 de junho, considerada data magna da Marinha. A batalha aconteceu na Argentina com brasileiros e paraguaios em lados opostos, quando o Paraguai buscava uma saída para o mar por meio do controle da Bacia do Prata. Em resumo, na ocasião, a Marinha do Brasil afundou quatro embarcações inimigas e pôs fim à disputa. Após abordar os "tempos incertos e nebulosos" vividos pelo Brasil, o comandante da Marinha afirma que a Força "tem fundamental contribuição a dar para superar a crise que se abate sobre a nação, a exemplo do que fizeram aqueles heróis de Riachuelo". Em um momento em que se veem pedidos de intervenção militar nas ruas, Eduardo Bacellar Leal Ferreira busca rechaçar qualquer possibilidade a um eventual golpe.
ao acrescentar que a instituição tem "atuação pautada nos preceitos constitucionais, fiel aos pilares da hierarquia e disciplina". Ainda na mensagem, além de relembrar o episódio na Argentina, o almirante exalta personalidades fundamentais para a vitória brasileira e diz que "a memória desses sinais nos incute força e inspiração para fazer frente aos difíceis desafios que a nação enfrenta". Utilizando frases e gritos de guerra que remetem a acontecimentos na batalha, Eduardo Bacellar Leal Ferreira ressalta que somente uma conduta "irrepreensível, refletida nas pequenas atitudes cotidianas e no maduro acatamento do conjunto de princípios e valores morais que nos governam", poderá criar a sociedade harmônica e ordeira sonhada pelos brasileiros. "'Cerrar sobre o inimigo e atacar o mais próximo possível!', bem representa a coragem e a determinação de vencer e de jamais vacilar na defesa dos interesses maiores da nação. O destemor ao enfrentar os problemas e adversidades, por maiores que sejam, deve estar incutido em cada um de nós", diz..
Pedido de mais recursos para a Marinha
Eduardo Bacellar Leal Ferreira também aproveitará a oportunidade para pleitear mais recursos para a Marinha. Segundo ele, o grito de "preparar para o combate!" momentos antes da Batalha do Riachuelo serve hoje de alerta para a importância de um poder naval "adequado". Isso porque, quando forem chamados para atuar, não haverá tempo para preparação ou espaço para improvisação, diz. "No contexto atual de ausência de ameaças percebidas, não podemos nos deixar seduzir pela crença na perenidade da paz. Lembremo-nos que, quando a fatalidade da guerra nos atingir, os mesmos que hoje relegam a segurança externa e criticam os gastos militares serão implacáveis na cobrança de êxitos e no julgamento de eventuais fracassos decorrentes da falta de aprestamento", afirma. Nesta sexta (8), Temer viajou junto com o comandante da Força para lançar a pedra fundamental do Reator Multipropósito Brasileiro e do início dos testes de integração dos turbogeradores do Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica, no Centro Industrial Nuclear de Aramar, em Iperó, interior de São Paulo. O reator vai produzir radioisótopos para a fabricação de medicamentos usados no tratamento de doenças nas áreas de cardiologia, oncologia, hematologia e neurologia. Ele faz parte do programa nuclear da Marinha, voltado apenas para fins pacíficos.
Mensagem do presidente Temer
Na cerimônia militar, como de costume, o presidente Michel Temer também levará uma mensagem a ser lida por um oficial da Marinha. No texto, o emedebista ressalta o heroísmo e patriotismo dos que morreram na Batalha do Riachuelo e fala que a Marinha continua a defender o Brasil e a garantia dos poderes constitucionais. Em seguida, cita atividades da Força, como a proteção da Amazônia Azul e de águas pelo interior do país de alto valor estratégico; atendimentos médicos em lugares de difícil acesso; medidas de GLOs (Garantia da Lei e da Ordem); e missões de paz por meio da ONU (Organização das Nações Unidas). "A Marinha soma, ainda, importantes esforços ao objetivo maior de desenvolvimento do Brasil. Concorre para a constante elevação do patamar científico e tecnológico do País. Nossa Força Naval é responsável pela formação de recursos humanos altamente qualificados, por programas estratégicos para a Base Industrial de Defesa, por atividades de pesquisa na Antártica e nas ilhas oceânicas", afirma.
Políticos e militares agraciados com medalha
Na solenidade, políticos, embaixadores, militares, entre outros profissionais, serão agraciados com a Medalha da Ordem do Mérito Naval. Criada em 1934, a homenagem tem como objetivo agraciar militares da Marinha que se destacaram ao longo da carreira, mas também personalidades e corporações, civis e militares, nacionais ou estrangeiras, que tenham prestado serviços relevantes à Marinha brasileira. Algumas pessoas incluídas ou promovidas de categoria na Ordem, segundo publicações recentes no Diário Oficial da União, e devem receber a condecoração na segunda-feira são o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, ministro das Cidades, Alexandre Baldy, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). No ano passado, já investigado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), Temer condecorou três ministros do tribunal (https://noticias.uol.com.br/politica/ultimasnoticias/2017/06/09/investigado-pelo-supremo-temer-condecora-tres-ministros-dotribunal.htm): Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato na Corte, Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. O ministro Fachin não foi à cerimônia em Brasília, pois tinha um evento marcado para o mesmo dia em Curitiba.