A “intimação de 1ª instância” não havia sido entregue até essa sexta-feira (8/6). O documento chega à empresa, coincidentemente, no mesmo dia em que auditores da Agefis denunciaram a prática de coação contra colegas para atender ao desejo do governo de retirar a empena eletrônica. A notificação contradiz a ação de guerra da Agência de Fiscalização para remover o engenho publicitário de 253 metros quadrados.
Assinado pelo chefe da Unidade Técnica de Julgamento (UTJ), o texto de intimação diz: “Considerando os termos da decisão administrativa de 1ª instância, que anulou o Auto de Notificação nº D 062751-AEU e, consequentemente, cessou os efeitos do mencionado auto de notificação, para fins de direito, fica Vossa Senhoria intimado da decisão”.
No primeiro pedido de investigação sobre a legalidade do painel de LED, a ânsia de comprovar qualquer problema foi tanta que até o endereço saiu errado no processo administrativo. Na ação inicial, a Agefis pede que seja instaurado procedimento em “desfavor da empresa Metrópoles Mídia e Comunicação S/A” para avaliar painel localizado no Setor Bancário Norte (SBN).
Porém, foi necessária uma reconsideração para a análise, visto que houve erro material na lavratura, pelo fato de o prédio ser no Setor Bancário Sul (SBS).
Depois da correção, a Agefis constatou, por meio da Licença de Execução Obra/Serviços nº 050/2017, que o engenho estava autorizado desde 29 de dezembro de 2017, com prazo de validade coincidente com o licenciamento da atividade nele exercida. Entendendo que a licença é válida, a Agefis anulou o auto de infração, com o argumento de agir apenas na legalidade.
“Cabe ressaltar que a administração pública é regida pelo princípio da legalidade, ou seja, toda e qualquer atividade administrativa deve ser autorizada por lei. Na clássica lição de Hely Lopes Meireles, ‘enquanto os indivíduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei não veda, o administrador público só pode atuar onde a lei autoriza’”, diz trecho do documento.
Na manhã dessa sexta (8/6), Rodrigo Rollemberg (PSB) visitou três escolas em Brazlândia. Durante a agenda, ele seguiu o discurso de que a Agefis só age na legalidade. A declaração foi dada poucas horas após o Metrópoles publicar reportagem na qual auditores da agência denunciaram o uso político do órgão por parte do governador.
Por meio de nota, a Agefis afirmou que “todas as ações se fundamentam em preceitos legais, e qualquer afirmação em contrário pretende apenas confundir a população do importante papel que a Agência de Fiscalização do DF [desempenha]”.
Entendimento controverso
Embora o Metrópoles só tenha recebido o documento nessa sexta-feira (8/6), o conceito de legalidade da Agefis mudou em 2 de junho, quando foi iniciada a operação de retirada do painel com toda documentação legal, de acordo com a própria agência.
Dois auditores da Agefis denunciaram que o esquema começou a ser planejado em 23 de maio, mesmo dia da decisão administrativa sobre a anulação de auto de infração.
Segundo eles, a direção da agência forjou um suposto processo para justificar a ação de retirada do painel digital do Metrópoles. Na ocasião, a Agefis determinou que o equipamento fosse removido no prazo de apenas um dia.
Embora a diretora-presidente da Agefis, Bruna Pinheiro, tenha afirmado publicamente que se tratava de uma operação iniciada ainda em 2017, os auditores a desmentiram com um print do sistema interno, indicando o início de toda a movimentação no próprio dia 23 de maio.
“O colega auditor tinha detectado e atestado a regularidade de funcionamento do painel, mas a direção da Agefis se insurgiu contra a decisão que desagradava o governo e arrumou outra forma de proceder à retirada em um prazo nunca antes visto”, disse Eduardo de Paula, representante da categoria.
Eduardo é auditor de atividades urbanas desde 2004 e, atualmente, preside o Sindicato dos Servidores Integrantes da Carreira de Fiscalização de Atividades Urbanas do Distrito Federal (Sindafis).
“Eles esperavam uma decisão favorável à Agefis, mas isso não aconteceu. Nós temos grupos de WhatsApp específicos dos auditores. Lá, ficou bastante claro que os colegas estavam sofrendo ingerência, pressão e até ameaças. O que vimos nessa ação contra o Metrópoles foi uma carreira pressionada para atingir um único objetivo: o de derrubar o painel”, completou o presidente do Sindafis.