Em vitória sofrida, o Brasil ganhou de 2 a 0 da Costa Rica, na sexta (22). Mas, fora dos gramados, o adversário está vencendo de goleada.
Começando pelo quesito educação, a vitória da Costa Rica é explicada pelo investimento superior ao Brasil na área. Segundo dados do Banco Mundial (2013), o Brasil investe 5,8% do PIB em educação, enquanto a Costa Rica investe 6,87% do PIB.
A taxa de analfabetismo também é favorável à Costa Rica, que possui o menor índice da América Central: 3,2% da população acima de 15 anos, segundo o Banco Centroamericano de Integración Económica (BCIE). Enquanto o Brasil ainda tem mais de 8% da população analfabeta (Banco Mundial, 2013).
Quando os países se enfrentam no campo da saúde, os resultados são ainda mais díspares. Começando pela expectativa de vida chega a média de 79,4 anos na Costa Rica e apenas 74,5 anos de idade no Brasil. Esse índice é um reflexo da precariedade do país na estrutura de saúde. A Costa Rica está em 36º no ranking mundial da Organização Mundial de Saúde, que coloca o Brasil em 125º. “O Brasil, uma nação de investimento médio, fica entre os últimos colocados em razão dos elevados desembolsos que a população destina para cobrir gastos com saúde”, diz o relatório de Desenvolvimento Humano 2015.No quesito literacia, sendo essa a capacidade de cada indivíduo compreender e usar uma determinada língua, a Costa Rica ocupa a 43ª posição no ranking mundial, enquanto o Brasil ocupa a 76ª posição, atrás inclusive dos vizinhos Paraguai (57ª), Argentina (37ª) e Uruguai (32ª).
Outro fator relevante para a saúde de um país é a qualidade do saneamento básico, outro ponto fraco do Brasil. A Enciclopédia Britannica enfatiza que, no Brasil, “condições sanitárias e habitacionais precárias exacerbam os riscos à saúde”, principalmente entre a população mais pobre. Já sobre a Costa Rica, a Enciclopédia expõe que o país conseguiu praticamente eliminar as doenças mais comuns de climas tropicais, tendo seu sistema de saúde “considerado um modelo para outros países latino-americanos”.
De acordo com o relatório de Desenvolvimento Humano de 2015, apenas 83% da população brasileira tem acesso à rede sanitária, enquanto na Costa Rica esse número sobe para 95%.
Seguindo para o campo da segurança pública, dados de 2013 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) colocam o Brasil no 13º lugar no ranking dos países com maior número de homicídios, com 26,5 mortes intencionais para cada 100 mil habitantes.
Neste mesmo ranking, a Costa Rica aparece na 53ª posição, com 8,4 homicídios a cada 100 mil habitantes. O Atlas da Violência 2018 do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostra dados mais recentes e ainda mais alarmantes do Brasil: o país alcançou, em 2016, a marca histórica de 62.517 mortes intencionais, registrando uma taxa de 30,3 homicídios para cada 100 mil habitantes, superando, pela primeira vez na história, o patamar de 30 mortes intencionais a cada 100 mil habitantes. Segundo o estudo, o indicador corresponde a 30 vezes a taxa de assassinatos da Europa. Por outro lado, há 65 anos, a Costa Rica aboliu as forças armadas e substituiu as bases militares por escolas – e hoje se orgulha de ter mais professores que soldados.
Em relação ao tema meio ambiente, mesmo sendo segundo país com a maior cobertura vegetal do mundo, ficando atrás apenas da Rússia, o desmatamento no Brasil está reduzindo de forma significativa a área verde do território brasileiro. De acordo com o membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, o pesquisador Carlos Nobre, o desmatamento da Amazônia brasileira está perto de 20% de sua vegetação nos últimos 50 anos – e o limite de 20% a 25% seria o abismo climático irreversível para a manutenção de grande parte da floresta. Além disso, a Mata Atlântica já perdeu aproximadamente 88% da sua cobertura vegetal e hoje é considerada a quinta área mais ameaçada do planeta. Conforme estudos do Ministério do Meio Ambiente, 67% do Cerrado também sofreu modificação e a Caatinga teve sua vegetação reduzida pela metade devido ao desmatamento. São aproximadamente 500 mil hectares devastados por ano.
Enquanto isso, a Costa Rica é o primeiro país tropical em todo o mundo a conseguir reverter o desmatamento. Atualmente, a nação tem mais da metade de seu território coberta por florestas. Em 1983, as áreas remanescentes eram apenas 26% do total. A Costa Rica é o país com maior variedade de flora e fauna de toda a América Central. Apesar de responder por apenas 0,03% do território da superfície da terra, o país reúne, segundo cientistas, 4% de toda a biodiversidade do planeta. A Costa Rica ocupa o quinto lugar do mundo na classificação do Índice de Desempenho Ambiental de 2012 e o primeiro lugar entre os países do continente americano.
E pra finalizar a goleada vem a economia, onde a renda por habitante da Costa Rica fica entre 25% e 30% superior à do Brasil, o que possibilita aos costa-riquenhos um padrão de vida médio melhor que o padrão brasileiro, é o que afirma o economista e reitor da Universidade Positivo (UP), José Pio Martins.Embora tenha passado por períodos de recessão econômica, nos últimos anos, a Costa Rica tem enfrentado bem a instabilidade mundial e mantido taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima do Brasil, razão por que a taxa de desemprego lá é menor”, explica o economista.
Quando se compara o crescimento econômico, o Brasil está em processo de recuperação. Depois que queda de 7% em 2015 (-3,5%) e 2016 (-3,5%), na maior recessão da história recente do país, o PIB deu sinais de recuperação e cresceu 1,0% em 2017, segundo o IBGE – número insuficiente para repor as perdas da atividade econômica na crise. Enquanto isso, a Costa Rica registrou um crescimento do PIB de 69,5% entre 2013 e 2017, a maior expansão de toda a América Latina, de acordo com a Comissão Econômica Para América Latina (Cepal).