25/06/2018 às 07h22min - Atualizada em 25/06/2018 às 07h22min

Polícia Civil mapeia áreas dominadas por gangues em cinco cidades do DF

Disputa pelo controle de territórios e do tráfico de drogas aterroriza população e mata inocentes em Ceilândia, Santa Maria, Estrutural, Planaltina e São Sebastião . Duas crianças e um adolescente sem ligação com as gangues foram assassinados este ano

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Pichações em muros da Expansão do Setor O, em Ceilândia: as numerações 18, 19 e 20 se referem às quadras dos adversários
“O carro de vocês é uma ameaça aqui. Por favor, vão embora.” O pedido nervoso de uma senhora de 72 anos, moradora há três décadas da QNO 18 da Expansão do Setor O, em Ceilândia, revela uma rua sitiada pela guerra entre gangues. A rixa faz com que a vizinhança tenha uma rotina de medo. Mesmo quem não se envolve nas disputas territoriais precisa evitar as quadras em conflito. Quando precisam, não comentam onde moram. Se passa um carro em baixa velocidade, também é sinal de preocupação.“Imagina o desespero de você não poder sentar na calçada da sua casa, minha filha”, diz a mesma mulher, que pensa em colocar o imóvel à venda. “Um menino daquela casa em frente está jurado para morrer. Ele é o próximo.”

A rua é a mesma onde a menina Maria Eduarda Rodrigues de Amorim, 5 anos, foi morta a tiros, dentro da própria residência, em 21 de maio. Um dos irmãos dela, de 19 anos, ficou ferido na perna. Uma semana depois do crime, a polícia apreendeu três adolescentes suspeitos — um deles é fugitivo do sistema socioeducativo. Os agentes da 24ª Delegacia de Polícia (Ceilândia), no entanto, ainda procuram Walisson Ferreira da Silva, 21. Ele é o único maior de 18 anos que estava dentro do veículo dos acusados.
 
Um dia antes do assassinato de Maria Eduarda, moradores da QNO 18 atingiram um jogador de futebol amador de 17 anos, que estava no ponto de ônibus da QNO 17, com a irmã de apenas 12 anos. Ele não tinha relação com nenhum dos grupos, mas tornou-se alvo da guerra entre os rivais. Morreu na hora.
 
Nas imediações, a regra é o silêncio. Quem aceita conversar sobre a guerra abre a porta de casa para não ficar na frente do portão. Ninguém quer ser reconhecido na comunidade por ter revelado o esquema das gangues. Nas ruas, as pichações nos muros identificam a presença desses jovens infratores. As três frases em sequência no muro de uma casa revelam a dominação. Na parede, consta: “Favela Chique 18 — 19 — 20 (em alusão às quadras rivais)”, “Os playboy nunca vão me entender… Favela” e “Quem sabe é nois”.
 
O Correio voltou à casa de Maria Eduarda menos de um mês após o crime, em 14 de junho. Ao chamar por alguém na grade rudimentar que tenta proteger o interior do local, uma criança apareceu assustada. Arregalou os olhos e disse que ali não era a casa da Duda, como a criança era chamada. Logo depois, um tio de Maria Eduarda apareceu. “Não vamos mais falar sobre o caso”, informou.
 
Dor compartilhada
 
A duas ruas abaixo de onde Maria Eduarda vivia com a família, mora Letícia*, 54. Há quase dois anos e meio, ela perdeu o filho, de 21 anos, assassinado pelo mesmo motivo: rixa das gangues. A família mora na QNO 18 há 30 anos, e o jovem andava com os garotos da mesma quadra que tinham rivais na QNO 17. “Ele trabalhava à noite como coletor de material reciclado em uma empresa no Setor P Sul. Saiu de casa às 17h30 e foi pego com um tiro nas costas. Desde então, eu vivo aprisionada, com medo do que pode acontecer com os meus outros dois filhos”, contou a dona de casa.

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