26/06/2018 às 07h04min - Atualizada em 26/06/2018 às 07h04min

No DF. Distância e desinteresse na escolha dos deputados distritais

A falta de importância dada ao voto para distrital dificulta as cobranças e o acompanhamento do trabalho feito durante o mandato dos 24 parlamentares que ocupam o posto.

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Número elevado de candidatos e sentimento de falta de representatividade afastam o eleitor do pleito. Em vez de pesquisar a trajetória do político, população costuma dar mais valor à influência de outras pessoas na hora de tomar decisão sobre em quem votar.

Você se lembra em quem votou para deputado distrital nas últimas eleições? Sabe qual o partido do candidato escolhido ou mesmo as razões que o levaram à definição? De acordo com especialistas que estudam o tema, a maior parte da população do Distrito Federal responderia não para essas questões. O desinteresse pela eleição para distrital e o sentimento de falta de representatividade na Câmara Legislativa do DF, para cientistas políticos, fazem com que o voto perca qualidade. Além disso, deixa o eleitor cada vez mais distante dos representantes e com mais tendência a escolher unicamente pela influência de outras pessoas.

Doutor em ciência política pela Universidade de Brasília (UnB), Leonardo Barreto escreve uma tese que investiga o voto para esse cargo. “Nas minhas pesquisas, percebi que o eleitor não dá muita importância para a eleição de deputado distrital. Isso é também resultado do nosso sistema. Há uma quantidade muito grande de candidatos e a probabilidade de você dar seu voto para alguém que não vai ganhar é, geralmente, de mais de 70%”, aponta. Em 2014, 976 candidatos concorreram ao cargo.

Por isso, em vários casos, a escolha é definida sem um critério muito apurado, em que pesa, principalmente, a indicação de pessoas conhecidas, como amigos, colegas e líderes. “A maioria vota recebendo a indicação de alguém. Como a pessoa não valoriza o voto para deputado distrital, essa indicação acaba sendo uma economia na visão dela, que não precisa parar para pensar e para analisar muito”, observa.

O professor e cientista político da UnB David Fleischer também destaca a indicação como um dos principais fatores para a escolha do eleitor. Segundo ele, isso acaba reforçando o poder de alguns grupos. “O eleitor evangélico, por exemplo, tende a votar no candidato que a própria igreja indica. Muitas categorias também pressionam os seus membros para votar em alguém definido por elas”, analisa.

Desinteresse

A indiferença da população na escolha do candidato a deputado distrital leva a problemas como a falta de embasamento para o voto. “A variável interesse está vinculada diretamente à quantidade de informação no voto. Quanto mais desinteresse, menos informação o voto tem. Aí a qualidade da escolha vai embora”, analisa Barreto.

Os principais prejudicados pelo desinteresse, para o cientista político, são os chamados candidatos de opinião, que se apoiam na defesa de propostas e de posicionamentos. “Esses outros candidatos que representam algum grupo de interesses praticamente não perdem nada, porque há uma estrutura em torno deles.”

A falta de importância dada ao voto para distrital dificulta as cobranças e o acompanhamento do trabalho feito por deputados durante o mandato. “Os estudos mostram que, seis meses após a eleição, mais da metade das pessoas não se lembra em quem votou. Se você não se lembra nem quem foi seu candidato, como vai cobrar dele? Isso gera uma ligação muito fraca entre deputados e população”, acrescenta Fleischer.

"Os estudos mostram que, seis meses após a eleição, mais da metade das pessoas não se lembra em quem votou. Se você não se lembra nem quem foi seu candidato, como vai cobrar dele?" David Fleischer, cientista político

"Isso é também resultado do nosso sistema. Há uma quantidade muito grande de candidatos e a probabilidade de você dar seu voto para alguém que não vai ganhar é, geralmente, de mais de 70%" Leonardo Barreto, cientista político

Como escolher 

Mesmo com todas essas questões, os especialistas apontam que é possível a população votar melhor e sugerem estratégias para usar na avaliação dos políticos. “O eleitor tem que olhar a ‘folha corrida’ do candidato. Ver o que ele já fez, o que ele propõe e observar, claro, se há algo contra ele, alguma denúncia”, sugere Fleischer.

Barreto recomenda, por exemplo, questionar por que o candidato decidiu concorrer. “Pode parecer óbvio, mas tenho impressão de que a maioria não consegue responder sequer a isso sem cair em discursos rasos. Além disso, é preciso ver se o candidato tem trabalho comunitário já desenvolvido ou histórico de atuação em alguma causa”, diz. Outra dica é analisar as alianças feitas pelos postulantes à Câmara Legislativa. “É fundamental ver com quem o candidato está, qual é o grupo dele, porque é esse grupo que fará cobranças depois e que vai direcionar o mandato.”

Saber eleger prioridades é uma das qualidades essenciais para um bom deputado distrital, segundo os especialistas. É fundamental que, além de conseguir identificar quais são essas prioridades, o postulante à Câmara Legislativa tenha propostas para elas. “O candidato precisa saber identificar quais são os principais problemas do Distrito Federal e conseguir apresentar soluções para essas questões”, afirma Fleischer.

A transparência é outra qualidade destacada. Ter vida limpa e não se aliar com políticos corruptos é obrigação, para os cientistas políticos. “Teria que ser alguém disposto também a fiscalizar o governador, em tudo que for preciso, mesmo que seja aliado dele”, ressalta Barreto. Combater desperdícios e valorizar a qualidade dos serviços prestados são outras questões centrais atualmente. “E tem de ser alguém que veja o todo. Um candidato dos professores, por exemplo, que defenda só aumento de salário e não pense na melhoria do ensino em geral não serve.”

976
Quantidade de candidatos a deputado distrital em 2014

Para saber mais

As funções de um distrital
As atribuições da Câmara Legislativa do Distrito Federal estão definidas na Lei Orgânica do DF. A CLDF, segundo a legislação, deve “dispor sobre todas as matérias de competência do Distrito Federal”, com a sanção do governador. Cabe aos 24 deputados distritais eleitos funções como a criação e a aprovação de leis sobre questões relacionadas ao DF. Eles precisam também avaliar a Lei de Diretrizes Orçamentárias — que prevê quais serão as regras e prioridades para o orçamento do DF no ano seguinte — e propor emendas a ela. Além disso, outra função importante dos distritais é fiscalizar e controlar os atos do Poder Executivo.


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