30/06/2018 às 07h06min - Atualizada em 30/06/2018 às 07h06min

“Isso pode acontecer com qualquer um”, discursa pai de menino morto em prédio na Asa Sul

O tom das homenagens no velório foi de aceitação e conformismo. A mãe, médica, é suspeita de ter provocado a morte.

Jbr

Familiares, amigos, colegas da classe médica e da igreja se despediram do menino João Lucas Pina Ferreira, de três anos de idade, que morreu no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) na última quarta-feira (27).

Apenas o laudo do Instituto Médico Legal (IML) poderá confirmar a causa da morte, mas a principal suspeita é de que a mãe tenha dado medicamentos à criança e provocado uma overdose. Ela atua no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), está hospitalizada e ficará presa por tempo indeterminado.

O velório e o sepultamento aconteceram no Cemitério de Taguatinga entre as 13h e as 17h desta sexta-feira (29). Abalados, os familiares não quiseram conversar com a imprensa no local. A avó materna do garoto participou das homenagens dentro da capela, mas passou mal e não acompanhou o cortejo. Ela estava com o neto e a filha em um apartamento na 210 Sul, onde tudo aconteceu.
 

O pai do menino, um enfermeiro de 28 anos, discursou na capela. “Isso pode acontecer com qualquer um. Se aconteceu, foi permissão de Deus”, declarou. “Agora, ele vai cuidar de muita gente”, disse, ao se referir ao filho. “Não acredito que ela tenha feito isso”, comentou, incrédulo, ao citar a mãe do garoto.

O tom das homenagens feitas no local foi de aceitação e conformismo. A trilha sonora conteve músicas da Harpa Cristã, hinário utilizado em igrejas evangélicas. As letras faziam referência ao céu — paraíso onde o garoto deve estar.

“Quão glorioso, cristão, é pensares na cidade que não tem igual, onde os muros são de puro jaspe e e as ruas de ouro e cristal”, diz a letra de um dos hinos. Familiares e amigos se referiram à criança como um “anjo”, cuja passagem pela Terra foi curta por determinação divina.
 

Um cântico fez referência a um personagem bíblico, Jó, cuja história é parecida com a do pai de João Lucas. A figura bíblica perdeu todos os bens. No caso do enfermeiro, a perda foi de um filho.

Os membros da igreja cantaram durante o velório: “Jó, como pode ainda adorar se não tem motivos pra cantar? Abandona esse Deus e morre”. Outro trecho da música relembra o discurso do pai do garoto. “Deus me deu, Deus tomou. Bendito seja o nome do Senhor”.

Orações

Um pastor tomou a frente das homenagens finais e pediu orações. “Para que Deus faça uma obra na vida dessa família, porque só Ele sabe de todas as coisas”, disse, em discurso.

Colegas de trabalho do pai e da mãe de João Lucas deixaram mensagens em coroas de flores — tutores da ESCS Enfermagem, direção do hospital Daher e equipe do Hmib — “nossos corações estão com você”.


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