As chuvas do mês de dezembro chegaram a dar um alívio à crise de abastecimento de água no Distrito Federal. Mas após aumento no nível dos principais reservatórios, uma nova queda no volume dos mananciais do Rio Descoberto e de Santa Maria ligaram o alerta de órgãos fiscalizadores. A possibilidade de racionamento está mais real do que nunca.
Responsável pelo abastecimento de 60% da população do DF, o reservatório do Descoberto chegou ao nível mínimo de 19,3% no dia 19 de novembro do ano passado. Desde então, o volume começou a subir, alcançando 24,87% da capacidade em 18 de dezembro. Entretanto, mesmo com chuvas, a quantidade de água voltou a cair e chegou a 19,91% nesta segunda-feira (9/1), segundo a medição mais recente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa), feita às 7h31.
A situação é considerada crítica e pode levar a medidas mais drásticas. De acordo com a Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), caso o reservatório do Descoberto atingija 20%, a empresa estará autorizada a implementar o racionamento”.
Ainda segundo a Caesb, serão levados em consideração três fatores: “o ritmo de queda dos reservatórios, as previsões de chuva para o DF e o nível de consumo de água pela população”. A ação tem como base a Resolução nº 20, publicada em novembro do ano passado. Entre idas e vindas judiciais, a taxa extra sobre as contas de água está liberada desde 17 de dezembro.
Dados do Instituto de Meteorologia (Inemt) revelam que não há previsão de chuvas fortes e frequentes. A tendência é que o quadro de estiagem se agrave, já que uma massa de ar seco atua sobre a região. Ao que tudo indica, a média de precipitações ficará abaixo do normal em janeiro, a exemplo que do ocorreu em dezembro.
Segundo o Inmet, em novembro de 2016 choveu 228,4mm no DF. Entretanto, a média histórica é de 231mm. Em dezembro, a cena comparativa é ainda pior. A média para o mês é de 246mm de chuva, mas apenas 154,1mm foram registrados no período no último ano.
Fiscalização
Especialista em gestão de recursos hídricos e professor da Universidade de Brasília (UnB), Sérgio Koide acredita que a crise atual se deve principalmente a dois fatores. O primeiro seria a condição climática desfavorável no último ano. “As chuvas foram menores do que a média e insuficientes para recuperar a queda de volume nos reservatórios”, aponta.
O segundo ponto é o consumo de água. Em relação a essa questão, Koide avalia que, atualmente, a Caesb tem tomado medidas corretas para incentivar o uso consciente de recursos, como a redução de pressão da rede de abastecimento e cobrança de tarifas extras.
Mas o especialista sugere outras ações para evitar problemas futuros. “Parte do desperdício acontece nas regiões rurais do DF, onde o controle da captação de água é pequeno. Uma fiscalização mais intensa evitaria o uso irregular de águas subterrâneas, que poderiam abastecer os reservatórios”, aponta o especialista.
Consumo
Segundo a Caesb, nos meses de agosto, setembro e outubro de 2016, em comparação com os mesmos meses de 2015, houve uma redução no consumo de 9,2%. Nesses três meses de 2016, foram usados 45.509.072m³ de água em todo o DF. Nos mesmos meses de 2015 , o consumo total foi de 50.134.569m³ em todo o Distrito Federal.
Também houve uma redução na vazão de captação de água na Barragem do Descoberto segundo o órgão. Nos meses de setembro e outubro deste ano, a Caesb captava 5.100 litros por segundo para abastecer a população. “Neste mês de novembro, passamos a captar 4.400 litros por segundo, o que representa redução da ordem de 13,7%”, informou a companhia, por meio de nota.