18/07/2018 às 08h14min - Atualizada em 18/07/2018 às 08h14min

O 'diabo' está solto e vai aprontar na eleição

Crescem as especulações sobre quem é o Coisa ruim exorcizado por Frejat e o papel que terá na campanha.

Correio Braziliense

Debate por vice irritou Jofran Frejat 

O ex-secretário de Saúde queria autonomia para escolher a chapa, pensou em encontrar uma solução, mas sentiu-se sabotado dentro do próprio grupo político
 
"Não posso abrir mão dos meus princípios. Tenho um nome na cidade e, diante de pessoas que só estão preocupadas com o poder, pelo respeito que tenho por Brasília, comuniquei ao Valdemar minha desistência" 

Jofran Frejat, ex-secretário de Saúde

A escolha do vice na chapa foi determinante para o médico Jofran Frejat (PR) abandonar a candidatura ao Palácio do Buriti. Desde que aceitou o projeto de concorrer contra a reeleição de Rodrigo Rollemberg (PSB), o ex-secretário de Saúde deixou claro que não queria ao seu lado nenhum político ficha suja. Mesmo contrariando aliados, disse e repetiu que não tinha nada a ver com o passado de companheiros de campanha. Ao Correio, ele ressaltou que buscava autonomia para tomar decisões.

Pela composição de sua coligação, o MDB deveria indicar o número dois na chapa. Frejat não topou que fosse o deputado Rôney Nemer, presidente do PP, e um dos políticos mais afinados com o ex-vice-governador Tadeu Filippelli, que comanda o MDB no Distrito Federal. O partido tem o maior tempo de televisão: um minuto e três segundos em cada bloco de nove minutos, que valem ouro numa campanha curta, de apenas 45 dias, e uma aposta nos programas eleitorais.

O problema de Nemer é jurídico. Condenado em segunda instância por ato de improbidade administrativa na Operação Caixa de Pandora, o deputado está enquadrado na Lei da Ficha Limpa; portanto, inelegível. Pode ser que consiga reverter essa condição, mas colocá-lo na chapa significaria, para Frejat, um risco. Assim, surgiu outro nome para a vaga, o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.

Sem condenações judiciais e passado limpo, Ibaneis nunca escondeu também que, dono de uma grande fortuna, poderia tirar dinheiro do bolso para ajudar na campanha. Ele fez um gesto político ao retirar a candidatura ao governo, lançada pelo partido, em apoio a Frejat, o líder nas pesquisas. Assim, credenciou-se naturalmente como um possível vice. Frejat, no entanto, demonstrou nos últimos dias que não aprovava essa sugestão de Filippelli. E mais: não queria a contribuição de recursos privados em sua campanha. Disse isso a alguns interlocutores próximos.

Frejat também demonstrou irritação com as articulações conduzidas pelo ex-governador José Roberto Arruda (PR) com dirigentes nacionais em torno da indicação do deputado Izalci Lucas (PSDB/DF) como vice. Arruda discutiu o assunto com o ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB), coordenador da campanha de Geraldo Alckmin à Presidência, e com o dirigente nacional do PR, Valdemar Costa Neto. Frejat também não gostou.

Princípios

Na manhã de ontem, Frejat acordou disposto a conversar com Valdemar e buscar o entendimento. Mas recebeu demonstrações de que poderia estar sendo sabotado dentro do próprio grupo político. “Estão dizendo que vendi a minha alma ao diabo. Não posso aceitar isso”, afirmou.

E acrescentou em conversa com o Correio: “Pelo que estou percebendo, parece que tudo o que aconteceu no país não adiantou nada. Eu não aceito. Não posso abrir mão dos meus princípios. Tenho um nome na cidade e, diante de pessoas que só estão preocupadas com o poder, pelo respeito que tenho por Brasília, comuniquei ao Valdemar minha desistência”. Frejat, no entanto, não aponta nomes nem dá detalhes do que o incomoda tanto.

Desistência de Frejat beneficia Rollemberg

Ao anunciar que está fora da disputa ao Buriti, ex-secretário de Saúde, que lidera as pesquisas, abre novo cenário para as coligações. Oposição ao atual governo tenta encontrar um nome, mas crise pode ajudar na campanha à reeleição.

Liderados por Cristovam Buarque, Rogério Rosso e Izalci Lucas, grupo de centro-direita também tentou ontem definir nomes antes das convenções.

Insatisfeito com as interferências de aliados nos rumos da chapa, o ex-secretário de Saúde Jofran Frejat (PR) retirou a pré-candidatura ao Palácio do Buriti e reiniciou o jogo eleitoral às vésperas das convenções partidárias, marcadas para o período entre sexta-feira e 5 de agosto (veja Calendário eleitoral). Não há, por ora, um nome que empolgue e alcance facilmente o percentual de intenção de votos do médico, que lidera as pesquisas de opinião. Tampouco um candidato que una as três chapas formadas por políticos ligados aos ex-governadores Joaquim Roriz (sem partido) e José Roberto Arruda (PR). Neste momento, o grande beneficiado com a confusão na oposição é o governador Rodrigo Rollemberg (PSB).

Com a pulverização dos votos de Frejat, Rollemberg terá grande chance de vitória, segundo a avaliação de todos os atores da política, inclusive entre os adversários. Antes da desistência do ex-secretário de Saúde, a avaliação nos bastidores era de que Frejat e Rollemberg estariam no segundo turno. Agora, não há projeções sobre qual representante da centro-direita terá fôlego para chegar até lá ou se, efetivamente, o jogo passa do primeiro turno.

A condição se agrava porque o período de campanha, neste ano, será mais curto, com 45 dias em vez de 90. Frejat, que contava com o recall das eleições de 2014, peregrinava pelo DF há semanas para aumentar o contato com o eleitorado e angariar apoio à pré-candidatura. O correligionário José Roberto Arruda, inclusive, chegou a participar de um dos eventos, no Areal. Um novo candidato terá de percorrer todo esse caminho outra vez.

Oração

Após o anúncio, parte do grupo do médico reuniu-se em um restaurante, ontem, para fazer uma avaliação do cenário. No encontro, representantes do MDB, DEM, PP — três dos 10 partidos com as maiores fatias dos fundos de financiamento e do tempo de propaganda eleitoral na televisão e no rádio —, PHS e Avante decidiram permanecer juntos. Porém, não traçaram um plano B. O PR não participou da conversa. Alguns ainda acreditam na possibilidade de demover Frejat da ideia de sair do páreo. Manifestações favoráveis à volta do ex-secretário de Saúde à disputa estão previstas para os próximos dias.

Uma das possibilidades da frente de Frejat é substituí-lo por outro integrante da coalizão. Neste caso, um dos nomes cotados é o do deputado federal Alberto Fraga (DEM), parlamentar como maior percentual de votos no DF, em 2014. “Buscaremos uma composição adequada e conversaremos com outros grupos. Coloco-me à disposição, porque apresento um bom rendimento nas pesquisas. Mas tudo isso tem de ser acertado”, pontuou Fraga.

Ao Correio, o ex-secretário de Saúde garantiu que a decisão não tem volta. Ele ouviu apelos, mas negou os pedidos para reconsiderar, como os apresentados pelo dirigente nacional do PR, Valdemar Costa Neto. “A minha decisão foi pensada, repensada, e tomada com muita reza. Estou absolutamente tranquilo”, afirmou o médico. “Do jeito que a coisa estava, não valia a pena”, acrescentou.

Na semana passada, o ex-pré-candidato do PR ao Buriti reclamou das pressões que vinha sofrendo dentro do grupo de aliados, especialmente quanto às negociações políticas. Mas não citou nomes. Questionado se vai apoiar alguém na disputa para o governo, Frejat disse que vai “pensar”. “Não descarto apoiar alguém, desde que seja uma pessoa com as mesmas características que eu, alguém que queria só o bem da cidade”, explicou.

Tabuleiro

De olho na possibilidade de herdar os votos de Frejat, outro grupo de centro-direita, coordenado pelo senador Cristovam Buarque (PPS), que tentará a reeleição, se apressou. Representantes do PSD, PRB e PSDB passaram o dia de ontem reunidos na casa de Izalci Lucas (PSDB), deputado federal e presidente da sigla no DF. A intenção era lançar o deputado federal Rogério Rosso (PSD) ao Palácio do Buriti. Discutiram, ainda, a possibilidade de distribuir uma das vagas ao Senado e a vice-governadoria a uma indicação do PRB e a Izalci. Dessa forma, esse último abandonaria a disputa pelo Executivo local. Pesam o desgaste interno do tucano dentro do partido e de, nacionalmente, PSD e PSDB terem acertado que a vaga ficaria com Rosso. Entretanto, até o fechamento desta edição, o encontro não havia terminado.

No grupo de Eliana Pedrosa (Pros) e Alírio Neto (PTB), nada muda, como reforçaram os pré-candidatos ao GDF e à vice-governadoria, respectivamente. O petebista afirmou que há a possibilidade de legendas das demais coalizões se aproximarem — por ora, Eliana e Alírio contam com o apoio de PTC, PMN e Patriotas. Entretanto, ele descartou mudanças nos nomes que encabeçam a chapa. “Chutaram o tabuleiro do jogo e espalharam todas as pedras, mas as nossas peças estavam na mão. Há uma tendência de que herdemos muitos dos votos de Frejat, porque estamos no mesmo campo político”, apontou Alírio. A frente deve anunciar a composição até sexta-feira, uma vez que as convenções partidárias das siglas que a integram estão marcadas para sábado.

Outros pré-candidatos que podem lucrar com a saída de Frejat do jogo são o empresário Alexandre Guerra (Novo) e o general Paulo Chagas (PRP). Ambos têm potencial para conquistar os votos daqueles que estão decididos a não votar em Rollemberg e defendem temas simpáticos à direita. Mas o benefício da pulverização do apoio também pode chegar à esquerda. Com discurso voltado à Saúde, a professora da Universidade de Brasília (UnB) Fátima Sousa (PSol) deve herdar os eleitores que escolhem seus candidatos a partir das propostas ao setor. Com o ex-secretário de Saúde fora, ela focará as críticas relacionadas ao tema às ações do governo.

O PDT, do pré-candidato ao Palácio do Buriti Peniel Pacheco, pouco será afetado. O partido, por ora, negocia alianças com PPL e PCdoB. A sigla ainda pode cair nos braços de Rollemberg. Essa possibilidade depende de um acordo nacional entre pedetistas e socialistas — o PSB apoiaria o presidenciável Ciro Gomes, em troca de respaldo às candidaturas aos governos estaduais, como o do DF. Isso será acertado em 30 de julho, na convenção do partido do governador Rollemberg.

Calendário eleitoral

20 de julho
Início das convenções partidárias
 
5 de agosto
Fim das convenções partidárias
 
15 de agosto
Data-limite para o registro de candidatos e coligações
 
16 de agosto
Início da campanha eleitoral
 
7 de outubro
Primeiro turno das eleições
 
28 de outubro
Segundo turno das eleições


Eixo capital

Por Ana Maria Campos

Diabo vivo na campanha

Com essa história de balcão de negócios e pacto com o diabo dentro da coligação que o apoiava, Jofran Frejat (PR) pode se tornar o anjo da guarda de Rodrigo Rollemberg. O governador já começou a fazer provocações. Ontem, ele postou no Twitter: “Frejat exorcizou os diabos. Resta saber para onde eles vão”. As frases de impacto devem ser usadas em programas eleitorais, debates e confrontos. Os candidatos terão de preparar antídotos. Não faltam memes, charges e especulações sobre quem são as figuras malignas a atormentar Frejat. 

Quando o debate esfriar

Correligionário de Jofran Frejat, o deputado Laerte Bessa (PR/DF) foi um dos parceiros solidários ontem depois da decisão tomada de renunciar à candidatura ao Palácio do Buriti. Na hora do almoço, no calor das discussões, Bessa disse inconformado: “O diabo tirou Frejat da campanha”. Não apontou nomes. No início da noite, ele garantia que não vai desistir. “Não aceitaremos a desistência de Frejat. Vamos reverter essa decisão e dar o apoio a ele contra essas interferências malditas”, afirmou ao Correio. A intenção de Bessa é reunir novamente Frejat com Valdemar Costa Neto, o dirigente do PR, para uma nova conversa nesta quinta-feira. 

Novo escolhe médico como vice de Alexandre Guerra

Enquanto o cenário político se recupera do impacto da desistência de Jofran Frejat, o Partido Novo tomou uma importante decisão para a formação da chapa majoritária. O médico Erickson Blun (foto), 52 anos, será o vice de Alexandre Guerra. Cirurgião com mestrado e doutorado pela Universidade Federal do Paraná, professor de gestão de saúde por 14 anos, Erickson mudou-se para o DF há 22 anos para trabalhar na área de gestão de saúde em todos os segmentos, especialmente em hospitais. Atuou também como professor universitário em gestão de saúde. “O DF tem recursos suficientes e excelentes profissionais de saúde para atender bem toda a população, mas isso não acontece por falta de gestão pública e processos bem estabelecidos. Nós vamos fazer”, afirma. O advogado e jornalista Paulo Roque (Novo) é o candidato ao Senado.

Depoimentos em oito denúncias

O ex-governador José Roberto Arruda terá de prestar depoimento em, pelo menos, oito processos penais relacionados à Operação Caixa de Pandora neste segundo semestre. É que o juiz da 7ª Vara Criminal, Newton Aragão, liberou o andamento dessas denúncias para instrução. Ficam paradas, aguardando a conclusão da perícia no equipamento usado pela Polícia Federal para gravar uma conversa entre ele e Durval Barbosa, apenas as ações que estavam em fase de diligências finais.

De volta às campanhas

Dois personagens que sempre atuaram nos bastidores e andavam longe dos holofotes têm integrado campanhas ao GDF. O policial civil aposentado Marcelo Toledo tem participado de reuniões ao lado do deputado Alberto Fraga (DEM/DF). Ex-chefe de gabinete de José Roberto Arruda, Fábio Simão está na campanha de Eliana Pedrosa (Pros), como um dos próximos colaboradores de Alírio Neto (PTB).

À QUEIMA-ROUPA 

Chico Leite (Rede)

Apoiar a reeleição do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) era o caminho natural para a Rede?
Em 2016, formamos um bloco partidário na Câmara com cinco parlamentares, da Rede, do PDT e do PV, em torno de causas como a ética na política e o desenvolvimento sustentável, que já apontava para o futuro com minha pré-candidatura ao Senado e a do deputado Joe Vale para o GDF. Na ocasião, elegemos o presidente da Câmara e combinamos de tentar convencer o PSB a ingressar no bloco, abrindo mão da cabeça da chapa. Em 2017, PPL e PCdoB se uniram a esse movimento. A desistência de Joe de concorrer, por motivos pessoais, que respeitamos, no entanto, nos impôs uma construção que mudasse a forma, mas mantivesse e realçasse o conteúdo.

Por que essa escolha? O que foi levado em conta?
A nota da Rede orienta: ficha limpa, responsabilidade com o dinheiro dos impostos que todos pagamos e cuidado com a cidade. 

Marina Silva foi consultada?
Marina é, para nós, a maior fonte de inspiração política, mas faz questão de não interferir nas escolhas

Essa decisão sacramenta a coligação liderada por Rollemberg?
A Rede decidiu compor a chapa que reunirá as forças políticas éticas, democráticas, progressistas e sustentabilistas, com a candidatura de Rodrigo Rollemberg ao governo. 

Sua disposição é mesmo concorrer ao Senado?
Sou pré-candidato ao Senado. Gostaria muito de levar à Constituição iniciativas como a exigência de ficha limpa para o exercício de qualquer cargo público; e abrir debates, em defesa da saúde da nossa capital, como, por exemplo, a mudança do critério de distribuição de recursos do SUS, por atendimentos, e não pela população declarada no IBGE, como realizada hoje; além de me dedicar a propostas para a retomada do crescimento econômico, protegendo nossos empreendedores da guerra fiscal, o que vai gerar mais trabalho e renda, e reduzir nossa dependência do setor público.

Como fica a chapa?
Vamos nos esforçar para unir quem esteja disposto a servir à comunidade e não a se servir dos cargos, para os quais são eleitos, como meio de ascensão econômica e social. A sociedade não aguenta mais financiar corruptos e populista.


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