19/07/2018 às 07h45min - Atualizada em 19/07/2018 às 07h45min

Transporte pirata no DF tem direito a fila e agenciador

Na Epia, esquema está ali para quem quiser ver: todos os dias, homens oferecem viagens e organizam carros

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Na Epia, esquema está ali para quem quiser ver: todos os dias, homens oferecem viagens e organizam carros.

 

Convencimento

“Prefere chegar atrasado? O ônibus vai demorar”, diz o homem agenciador, que não se identifica. O agenciador recebe percentual pelos passageiros conquistados. A cobrança é pelo valor integral da passagem. Para o terminal rodoviário do Cruzeiro ou Feira dos Importados, R$ 3,50.

“No fim de semana cobram mais caro. Às vezes quem tem horário marcado pensa que vai se atrasar e se arriscam. Mas enquanto não enche, o carro não sai. Eles chegam perto da parada, atrapalham os motoristas. Polícia aparece vez ou outra, mas é raro”, revela a diarista.

Para o governo, não há desculpa

Subsecretário de Fiscalização da Secretaria de Mobilidade (Semob), Felipe Martins assegura que os maiores reincidentes são mapeados. “No mês passado, quatro foram identificados, flagrados e levados à delegacia. Esse é o trabalho que mais demora para a execução, mas é mais eficaz. Também há ações constantes para tirar de circulação os motoristas clandestinos”, afirma.

Apesar disso, ele indica que o fator cultural interfere na presença e na permanência dos piratas. “As pessoas tentam relacionar o transporte pirata com problema de oferta do transporte público. Mas no entrepico, por exemplo, quando há baixa demanda, os ônibus estão vazios e ainda assim há quem prefere pegar transporte pirata, por não pararem em pontos e serem mais rápidos”, aponta.

Para ele, isso evidencia riscos submetidos aos passageiros. “Piratas dirigem acima do limite de velocidade. Há motoristas com antecedentes criminais, com problemas de habilitação ou com o documento suspenso, que respondem a crimes. Não se sabe quem são, o veículo não passa por inspeção. É arriscado”, ressalta.

A diarista Santina José, por exemplo, não se arrisca. Moradora do Gama, ela tem dificuldades de chegar ao trabalho no Cruzeiro, mas mesmo assim evita transtornos maiores: “Não perco meu tempo. Se o carro quebra ou é pego pela fiscalização, eles não querem nem saber. Não dão suporte, não devolvem dinheiro. Não podemos cobrar por nada porque são ilegais. Mesmo que demore, eu só pego o ônibus certo. Eu morro de medo porque é muito perigoso”.

Saiba Mais

A ação de “aliciadores de passageiros” também ocorre em outros pontos, como na Rodoviária do Plano Piloto. Geralmente, conforme apurou a reportagem, eles recebem uma porcentagem das passagens pagas por quem se arrisca no transporte clandestino.

Ontem, ao menos dois casos de autuações foram registrados. Um veículo com oito passageiros foi abordado na DF-003. O carro, com placa danificada, saiu de Planaltina com destino à área central de Brasília e o condutor era inabilitado. Outro caso ocorreu no Lago Sul. Um ônibus com 48 passageiros saiu do Paranoá.

Ponto de Vista

“O Estado tem que se fazer presente. A pirataria só existe porque o transporte público de massa não corresponde às necessidades da população. Se fosse eficiente, pontual, higiênico, seguro e confiável, não haveria espaço”, analisa o especialista em Trânsito Márcio de Andrade. De acordo com ele, parece mais fácil, ao usuário, se arriscar em um veículo de passeio. “Todo cuidado é pouco, mas ele vai. Não sabe a condição do veículo pirata ou quem é o motorista”, diz. Para ele, a recorrência da clandestinidade aponta que a estratégia do governo não está dando certo. “A presença do Estado inibe a ação delituosa”, finaliza.


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