Compor com candidatos e líderes evangélicos é o desejo de muitas das chapas e candidaturas que se organizam para disputar as eleições no Distrito Federal. Pelo grande potencial do eleitorado do segmento, ter nomes ligados às igrejas dentro das chapas majoritárias (e nas candidaturas proporcionais) pode pesar para o sucesso das campanhas.
Há 840.271 mil evangélicos na capital, mostra a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad), de 2015. O número representa, com base na pesquisa, 29,8% da população do DF. O distrital mais bem votado nas últimas eleições veio do segmento. Ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, Julio Cesar (PRB) angariou 29.384 votos.
Para o professor de ciência e política e especialista em políticas públicas Emerson Masullo, da Universidade de Brasília (UnB), o segmento representa um grande potencial que todos os candidatos buscam de alguma maneira explorar. “Isso é uma tendência. Todos querem ter alguém ligado à bancada evangélica, porque esse nome será puxador de muitos votos.”
Masullo diz que o eleitor evangélico é ainda mais desejado porque o eleitor desse segmento costuma votar em bloco. “A capilarização social dos centros evangélicos suplanta qualquer outra denominação religiosa no Brasil e, geralmente, esse segmento vota no candidato que a sua liderança escolhe”, destaca.
No grupo liderado por Cristovam Buarque (PPS), que lançou Rogério Rosso ao GDF, um nome evangélico terá destaque na chapa majoritária. O PRB deve indicar o candidato a vice ou a uma das vagas ao Senado na composição. Segundo o presidente regional do PRB, Wanderley Tavares, ele e o irmão (o pastor Egmar Tavares, da Assembleia de Deus) são os nomes cotados para a vaga. “O segmento cristão vem muito preparado. O fato de ter alguém na chapa majoritária dá certeza ao eleitor de que o representante vai defender as bandeiras dele”, ressalta Tavares.
“Resiliência”
O comandante do PPS no DF, Chico Andrade, acredita que a influência de um líder religioso renda resultados positivos à chapa, mas destaca a importância da “resiliência nos debates”. “Os evangélicos detêm grande capilaridade e isso pode render votos. Porém, mais importante do que isso, é contribuir no campo das ideias durante a campanha e no governo. Algumas pautas deles são divergentes das do campo progressista, mas tudo pode ser resolvido pelo diálogo”, argumenta Andrade.
Partido do pré-candidato ao Palácio do Buriti Paulo Chagas, o PRP investirá em candidaturas ligadas ao segmento evangélico. Uma delas é a do pastor Fadi Faraj, da Comunidade Cristã Ministério da Fé, que concorrerá ao Senado na chapa do militar da reserva.
O presidente regional da sigla, Adalberto Monteiro, acredita que o nome do apóstolo tem força para ampliar o alcance do grupo político, apesar do pouco tempo de propaganda eleitoral na tevê e no rádio. “As bancadas das Câmaras Legislativa e Federal mostram a força dos evangélicos. Fadi tem menos de um mês de pré-campanha e já alcança quase 7% de intenções de voto. Além disso, ele se enquadra nas diretrizes do estatuto do PRP, pois defende a valorização da família”, afirmou Monteiro.
Lançado ao GDF pelo PDT, o ex-distrital Peniel Pacheco é pastor da Assembleia de Deus. O presidente do partido no DF, Georges Michel, destaca que Peniel não foi escolhido por essa questão, mas reconhece a força do segmento evangélico. “A indicação dele levou em conta a militância de anos no PDT. Mas, sem dúvida, os evangélicos sempre têm muita força, porque constituem um grupo político e religioso muito organizado”, aponta.
Apoio
Na formação da chapa que integra PR, DEM, MDB, Avante e o PP, as lideranças partidárias não buscaram um evangélico de maneira expressa, mas, como o grupo ainda não fechou a composição completa dos cargos majoritários, isso não está descartado. “Não temos ainda um nome evangélico, mas é um segmento importantíssimo”, comenta o presidente do PR-DF, Salvador Bispo.
Presidente do PTB-DF, Alírio Neto diz que a coligação do partido com o Pros e o PTC não busca um candidato só pelo fato de ser evangélico, mas ele reconhece que o segmento tem potencial de agregar votos. “É claro que a gente leva em consideração esse potencial de inserção na sociedade. Mas ser religioso não é uma condição sine qua non”, pondera. “O que a gente leva mais em conta é a capacidade de os candidatos darem capilaridade à campanha”, acrescenta. O grupo ainda não escolheu os candidatos ao Senado e os suplentes.
O PSB do governador Rodrigo Rollemberg ainda não fechou a chapa para as eleições majoritárias. O apoio de grupos e candidatos evangélicos é bem-vindo, segundo o presidente do partido no DF, Tiago Coelho. Para ele, a força do segmento é inegável. “Pleito após pleito, os evangélicos vêm cada vez mais se organizando e se fortalecendo. Sem dúvida, vão ter, mais uma vez, um papel de destaque nestas eleições”, afirma.
Nas candidaturas proporcionais, o partido conta com nomes que vêm da base evangélica, como Alessandro Paiva e Raíssa Róssiter, que buscam uma vaga na Câmara Legislativa. “O PSB é um partido que luta muito por representatividade, por pessoas de vários segmentos, e não poderíamos deixar de fora pessoas ligadas com a religião”, afirma Coelho.
A Rede Sustentabilidade, que fechou com Rollemberg, aposta no eleitorado evangélico para a disputa proporcional. Um dos principais nomes do partido para concorrer a deputado federal é Pastor Arruda. O religioso é ligado à Marina Silva, pré-candidata da Rede à Presidência da República, e integra a Assembleia de Deus. A congregação já elegeu deputado distrital Peniel Pacheco, hoje no PDT.
“Progressistas”
Apesar de estar muito ligado a pautas que geralmente estão distantes do universo religioso, como a defesa do movimento LGBT, o PSol também conta com candidatos evangélicos no quadro. Para o presidente do partido no DF, Fábio Félix, é possível ser um candidato religioso e defender questões mais ligadas à esquerda. “Nós temos muitos candidatos evangélicos, inclusive eu. Não toleramos fundamentalismo. Não tem problema nenhum em ser evangélico. Vamos ter candidaturas evangélicas, mas com gente levantando essa bandeira numa perspectiva progressista”, justifica Félix, pré-candidato a deputado distrital.
Rebanho
840,271 mil
Número de evangélicos no Distrito Federal
28,9%
Parcela da população que é evangélica no DF
Fonte: Codeplan/PDAD
Palavra de especialista
“Os evangélicos vão ter destaque e peso, sobretudo agora que a campanha entra na sua etapa analógica. Até agora tivemos uma pré-campanha digital, nas redes sociais. Vai começar a fase que compreende a tevê, o rádio e o corpo a corpo, a política como sempre se fez.
Nessa caça ao voto, começam as reuniões, a participação dos influenciadores locais, entre eles os líderes religiosos, que têm muito peso na escolha do eleitor evangélico. Além disso, a grande força deles vem pela organização. Eles conscientemente se organizam na política e no legislativo para fazer avançar sua pauta.”
Paulo Kramer,
professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB)