O bom velho Noé enfrentou 40 dias de dilúvio para salvar ao menos um casal de cada espécie de animais. Jesus jejuou 40 dias no deserto. E deu testemunho terrestre de sua ressurreição durante 40 dias antes de voltar ao Pai.
Hoje, 40 dias nos separam do primeiro turno da eleição geral no Brasil. O próximo hóspede mais ilustre de nossa cidade, lá no Palácio do Planalto, continua uma grande incógnita.
Apesar de figurar cada vez mais destacado na preferência do eleitorado nacional, Lula parece estar fadado a sucumbir à Lei da Ficha Limpa que ele próprio sancionou. Assim, teremos provavelmente um novo locatário. Sim, locatário. Que não paga aluguel, mas manda por volta de R$ 14 bilhões para o Fundo Constitucional para Brasília.
A corrida aos preciosos segundos (nem tanto nos famigerados “blocões” de 25 minutos, mas sobretudo nas centenas de inserções diárias que bombardearão o indefeso telespectador) já provocou sua habitual lista de casamentos entre sapos e escorpiões. Na campanha de 2014, a insatisfação (forma eufemística…) chegou a tal ponto que candidatos proporcionais faziam campanha aberta a favor de outro candidato que o de sua coligação. Que culminou com a desqualificação de um governador candidato à reeleição, fato inédito aqui e raro no Brasil pós-1998.No Distrito Federal, ainda não se tem certeza se o ocupante do Buriti será o 10º ou o 9º repetido (*). Se o resultado do primeiro turno qualificar Rodrigo Rollemberg e Rogério Rosso, não haverá novidade na cadeira de governador. Campanha mais curta, pelo menos oficialmente mais barata, e certamente amplamente disputada, como nunca na nossa história. Isso, já sabemos. O que falta descobrir é se a TV ainda desempenha o mesmo papel importantíssimo que nos pleitos precedentes.
Desta vez, com a multiplicação das candidaturas, e pelo menos até o primeiro turno, a mesma manobra será menos visível. A não ser que o candidato cabeça de chapa não consiga ao menos figurar no pelotão da frente. Nas pesquisas. Porque no tocante à TV, os atores principais já foram escalados pelos cálculos do Tribunal Regional Eleitoral, baseados na representação dos partidos na Câmara dos Deputados. Por sinal, e já que a eleição é estadual, porque não se pensar em usar a representação nas assembleias estaduais (e não federal)?
Alberto Fraga (1mn50), Ibaneis (1mn44) e Rogério Rosso (1mn38) serão os destaques. Rodrigo Rollemberg (1mn14) e Miragaya do PT (1mn10) ainda serão notados. Eliana Pedrosa (49seg) será mais discreta. Os outros, Fátima Sousa (9seg), o general Paulo Chagas (8seg), Alexandre Guerra (4seg), Guillen (4seg) e Renan Rosa (4seg) farão ofício de figurantes. Para esses últimos, será mais interessante criar um “banco de segundos”, agora autorizado pela legislação, e acumular o tempo para atingir 30 segundos, de que aparecer furtivamente a cada programa para ter um texto semelhante à primeira campanha de Enéas.
Mas… E as redes sociais? É nítida a crescente importância do Facebook. Twitter, Instagram e sobretudo WhatsApp na vida cotidiana do brasiliense. Esse último então virou item básico da vida social, familiar e profissional. Da vida, em suma. O que não era o caso em 2014. As centenas de mensagens que recebemos todo dia bradando as qualidades e projetos dos candidatos conseguirão desbancar a deusa-telinha? Saberemos daqui a 40 dias.
Santo Agostinho considerava o 40 um número perfeito, por ser o múltiplo dos 10 Mandamentos e dos 4 Evangelhos. Tomara que este nosso 40 nos leve à escolha perfeita. Se é que existe.
(*) Só considerando os Governadores depois da emancipação política de 1990. Por sinal, sejamos lúdicos: consegue citar o nome dos 9 já empossados no comando do DF desde então?