A relação dos interessados em concorrer a um cargo público nas eleições de outubro no Distrito Federal revela a continuidade da hegemonia masculina na política local. Do total, 69,3% são homens. As mulheres representam apenas o mínimo exigido pela legislação eleitoral: 30,7%. Informações do repositório de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)ajudam o brasiliense a identificar o perfil dos candidatos na capital da República.
O nível de escolaridade entre os postulantes aumentou neste ano. Dos atuais concorrentes, 59,29% têm ensino superior completo, contra 55,5% registrado no pleito de 2014. Há ainda mais empresários, servidores públicos e advogados na disputa corrente.
Das 107 profissões listadas no sistema do TSE, empresário está em primeiro lugar com 10,09%, servidores públicos federais são 7,41% do total e advogados, 7,24%. Cenário diverso do apresentado nas últimas eleições. À época, o cargo de servidor público estadual ocupava a principal posição no ranking das profissões.
Dos onze nomes ao Palácio do Buriti, dois são empresários: Alexandre Guerra (Novo) e Eliana Pedrosa (Pros), embora se apresentem como advogado e química, respectivamente. Ibaneis Rocha (MDB) é advogado, e Alberto Fraga (DEM) e Rogério Rosso (PSD) também são formados em direito. Rodrigo Rollemberg (PSB) se apresenta à Justiça Eleitoral como servidor público federal. Todos brancos com ensino superior completo
Para o doutor em ciência política na Universidade de Salamanca, na Espanha, Wladimir Gramacho, o aumento na escolaridade e a mudança no perfil das profissões pode ser um reflexo das mudanças nas regras de financiamento. “O novo modelo sem doação de empresas privadas levam pessoas com mais recursos a terem maior condição de financiar suas campanhas.”
Raça
Embora somente Renan Rosa (PCO) se declare pardo entre os buritizáveis, quando se consideram os postulantes ao Senado, à Câmara dos Deputados e à Câmara Legislativa, o número de concorrentes dessa cor mudou nos últimos quatro anos. Em 2014, 51,82% se autodeclaravam brancos; 37,7% pardos e 10,21% pretos. Em 2018, os dados mostram 45,20% de pardos; 43,65% de brancos e 10,34% de pretos.
“O dado é interessante, mostra que a participação proporcional de brancos diminuiu. Pode ser um resultado de políticas afirmativas. Talvez, se formos nessa direção, podemos dizer que há mais igualdade na perspectiva racial”, disse Gramacho.
Contradição
A falta de igualdade, no entanto, está na questão de gênero. Embora os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), auferidos no segundo trimestre de 2018, mostre que 52,8% da população do DF é formada por mulheres, nas eleições locais elas são apenas 30,7% dos candidatos.
Em 2014, 30,8% pessoas do sexo feminino disputavam o pleito. Na ocasião, só uma mulher foi eleita para as oito vagas disponíveis ao DF na Câmara Federal, a petista Erika Kokay. Para o Senado, somente homens foram eleitos.
Dos 24 mandatários da Câmara Legislativa do DF, cinco são do sexo feminino, o que não alcança sequer os 30% exigidos pela legislação eleitoral para concorrer a um cargo eletivo. Hoje, a composição feminina na casa representa apenas 20,8% do total.
Para a cientista política e autora do livro Mulheres e poder de fato, Débora Thomé, não houve avanço nessa relação na política nacional. “As coligações continuam cumprindo a cota. Quando as eleições acabarem, vamos ver se esses nomes são de fato competitivos ou estão ali como ‘laranjas’”, avalia. Para ela, a chance de ter mais mulheres eleitas é baixa.
“Os homens não acreditam que concorrentes do sexo feminino possam ser neutras e lutar por pautas relevantes à sociedade. Eles acham que é uma pauta de gênero”, diz Débora, que desenvolve uma tese sobre a baixa participação das mulheres na política, na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.
Uma das fundadoras da Frente Suprapartidária de Mulheres pelo DF, Thaynara Melo, acredita que há uma distorção dos espaços de poder em todo o país. “Temos casas legislativas que não representam a composição da população. Quanto mais profunda é uma democracia, maior deveria ser a diversidade”, diz a candidata a distrital da Rede.
Cenário no país
Pelos dados nacionais, empresário e advogado são as duas profissões mais recorrentes entre os candidatos registrados no TSE. Dos 27.566 nomes computados pelo TSE, 2.835 são donos de empresa, enquanto 1.741 foram registrados como advogados. Sozinhas, as duas categorias representam 16,6% do total de candidaturas.
Os dados apresentam aumento em relação às eleições de 2014, quando 2.125 postulantes trabalhavam na advocacia e 1.263 atuavam na gestão empresarial. Naquela época, as duas carreiras também foram as ocupações mais citadas entre os 22.384 candidatos.