05/09/2018 às 07h37min - Atualizada em 05/09/2018 às 07h37min

​Leopoldina, a mulher que declarou a independência e foi a primeira governante do Brasil

Guia do Litoral
Seu reinado foi curto, mas foi suficiente para transformá-la num ícone do empoderamento feminino - Reprodução: Josef Kreutzinger

Pouco lembrada na história brasileira, a Imperatriz Leopoldina foi a frente de seu tempo. Entre os problemas do dia-a-dia que uma mulher do século XIX enfrentava, ela ainda reuniu forças para fundar um país chamado Brasil
Dom Pedro I declarou a independência do Brasil? A verdadeira história não é bem assim. A grande responsável por assinar o decreto que libertou o Brasil de Portugal foi a princesa Leopoldina, em 2 de setembro de 1822. Pouco lembrada pelos brasileiros e quase esquecida nos livros de história, Maria Leopoldina de Áustria, como era conhecida, fez muito mais do que apenas colocar sua assinatura numa folha de papel. A futura-imperatriz ainda detém o título de primeira governante do país e de idealizadora da bandeira nacional.
Nascida em Viena, na Áustria, Leopoldina casou-se por procuração com apenas 20 anos de idade, sem nunca ter conhecido seu noivo. Ao chegar ao Brasil, rapidamente se tornou adorada pela população mais carente e, em especial, pelos escravos. Junto com José Bonifácio, que foi seu grande parceiro durante seu reinado, ela defendeu o fim da escravidão. Sua atuação como Imperatriz Consorte do Brasil durou apenas quatro anos, mas foi tempo suficiente para transformá-la num ícone do empoderamento feminino em pleno século XIX. A prova disso é que poucas decisões do alto escalão da política brasileira eram tomadas sem a interferência direta de Leopoldina, entre elas a mais importante de todas foi criar um novo país chamado Brasil.
Extremamente inteligente, astuta e ainda falando fluentemente 11 idiomas (português, latim, espanhol, alemão, esloveno, croata, tcheco, húngaro, turco, boêmio e italiano), Leopoldina era muito mais apta a função de governar do que o Príncipe Regente. Após o famoso "Dia do Fico", a princesa relatou em cartas a sua irmã Luísa sobre a dificuldade que teve para convencê-lo a permanecer no Brasil, porém seu poder de persuasão e capacidade argumentativa garantiram a estadia de Pedro de Alcântara, no Brasil. Ao todo, elas trocaram mais de 850 cartas, que registraram com fidelidade o período da história brasileira que mudaria para sempre os rumos do país.
Em outras correspondências à irmã, Leopoldina contava a confiança que Pedro tinha nela para funções de aconselhamento político. A convicção do Príncipe em sua esposa era tanta, que durante uma viagem à São Paulo para tentar acabar com um conflito na província, em agosto de 1822, nomeou Leopoldina para a função de Chefe do Conselho de Estado e Princesa Regente Interina do Brasil. Esta confiança mudaria para sempre os rumos da história do futuro país que estava para nascer.
No comando do Brasil interinamente, ela recebeu um ultimato das Cortes Portuguesas para que retornasse imediatamente ao Velho Continente, juntamente com Pedro. Tendo que tomar uma atitude súbita e apoiada por José Bonifácio, Leopoldina assina o decreto de independência do Brasil e o envia ao príncipe, juntamente com uma carta ratificando a importância da decisão. Os documentos demoram cinco dias para chegarem as mãos do novo imperador, que os recebe as margens do rio Ipiranga, em São Paulo, em 7 de setembro.
Até o retorno de D. Pedro I ao Rio de Janeiro, Maria Leopoldina permaneceu como governante interina do Brasil. Com isso, ela foi a primeira Chefe de Estado brasileira e, naturalmente, a primeira mulher a governar o país. Entre suas primeiras funções a frente do governo esteve a responsabilidade de idealizar as cores e estrutura da primeira bandeira nacional.
Infelizmente, Leopoldina pagou um preço extremamente caro, pelo machismo da época, para se manter próxima ao marido e ajudá-lo na condução do país. Em uma das cartas a sua irmã, ela afirmou que "muito me tem custado alcançar isto tudo" numa referência as diversas agressões físicas e verbais que ela sofria do marido, além dos diversos casos extraconjugais dele.
Por fim, a maior penalidade que ela viria a amargar seria a perda da própria vida após nove anos de casamento. Já sofrendo de depressão há algum tempo, Leopoldina, segundo relatos da época, faleceu depois agressões físicas do imperador, enquanto estava grávida. A causa mortis não é consenso entre os historiadores, outra vertente afirma que sua morte está ligada a uma infecção puerperal que ela teve após seu nono filho. Esta segunda teoria é baseada em exames laboratoriais que foram realizados, recentemente, em seu corpo mumificado.
Suas façanhas políticas, em especial para o início do século XIX, lhe renderem a alcunha de "Mãe do Império brasileiro", porém que se perdeu ao longo da história. 
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