09/09/2018 às 18h02min - Atualizada em 09/09/2018 às 18h02min

Cristovam corre o risco de não se reeleger ao Senado

Metrópoles

O próprio senador Cristovam Buarque (PPS) se surpreendeu quando as primeiras pesquisas de opinião, ainda no período de pré-campanha, indicavam que era o líder na disputa pelas duas cadeiras no Senado. Tendo perdido seu eleitorado tradicionalmente à esquerda e não sendo um político do bloco identificado com os ex-governadores Joaquim Roriz e José Roberto Arruda, imaginava-se que teria dificuldades em se reeleger.

As pesquisas o colocavam na liderança, mas a última sondagem do Datafolha mostrou que as intenções de voto em Cristovam estão em queda, enquanto sobem as de seus dois principais adversários: Leila do Vôlei (PSB) e Izalci Lucas (PSDB). Além disso, não está descartada a possibilidade de Paulo Octávio (PP) registrar sua candidatura, na chapa de Ibaneis Rocha (MDB). A derrota do ex-governador de Brasília, que não conseguiu se reeleger, é uma possibilidade. O cenário, portanto, a exemplo da campanha para o comando do Palácio do Buriti, segue indefinido.

As dúvidas de Cristovam quanto à reeleição eram tão grandes que ele pensou em não se candidatar, depois de exercer dois mandatos, conquistados com as legendas do PT, em 2002, e do PDT, em 2010. Mas, antes mesmo de se incompatibilizar com a esquerda ao votar a favor do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, Cristovam já tinha uma alternativa à sua reeleição: ser, novamente, candidato a presidente da República.

 

Cristovam foi candidato à Presidência em 2006, pelo PDT. Ficou em quarto lugar no primeiro turno, com apenas 2,6% dos votos, atrás de Lula (48,6%), Geraldo Alckmin (41,6%) e Heloisa Helena, do PSol (6,8%). Achava, porém, que agora as condições políticas seriam melhores para ele. Mas, com a filiação de Ciro Gomes, para ser o candidato do partido ao Planalto, e desgostoso com o apoio do PDT ao governo de Dilma, Cristovam transferiu-se para o PPS em fevereiro de 2016.

Sua expectativa era a de que o partido, comandado por seu amigo e conterrâneo Roberto Freire, decidisse pelo lançamento de candidato próprio ao Planalto. Já no PPS é que Cristovam defendeu e votou pelo impeachment e por leis que o incompatibilizaram com a esquerda, como a do limite de gastos e a reforma trabalhista.

Entretanto, o PPS resolveu se aliar a Alckmin, e Cristovam voltou, então, a pensar se deveria ou não tentar manter sua cadeira no Senado. Talvez, dependendo de quem fosse eleito presidente da República, poderia ser nomeado ministro da Educação, cargo que exerceu no primeiro governo de Lula. Ou mesmo conseguir a sempre desejada indicação para diretor da Unesco, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, com sede em Paris.

Estratégia
Ter um assento no Senado facilitaria as duas coisas e Cristovam resolveu tentar a reeleição. As primeiras pesquisas mostraram que tinha chances, sim, mas precisava de uma boa coligação e de dinheiro para a campanha. Assumiu então, pela primeira vez em 28 anos de vida partidária, a articulação de sua própria candidatura e de formação de uma chapa que fosse competitiva. Livre das amarras da esquerda brasiliense, aproximou-se de personagens do bloco azul, de Roriz e Arruda, e dos políticos ligados às igrejas evangélicas.

Depois de muitas idas e vindas, sendo cogitada até mesmo sua candidatura na chapa então liderada por Jofran Frejat (PR), Cristovam acabou integrando a coligação comandada por Rogério Rosso (PSD), que tem um pastor evangélico da Assembleia de Deus – Egmar Tavares (PRB) – como candidato a vice-governador. O outro candidato ao Senado é o empresário Fernando Marques (SD), que tem a maior fortuna entre os que disputam a eleição em Brasília e está financiando as campanhas de Rosso e Cristovam.

O primeiro suplente de Cristovam é outro evangélico, o bispo Manoel Ferreira, líder da Assembleia de Deus Ministério de Madureira, pai do bispo Samuel Ferreira, ambos envolvidos em suspeitas de corrupção e ligados ao ex-deputado Eduardo Cunha, preso desde 2016 em Curitiba. Pois Ferreira criou mais uma dificuldade para a reeleição de Cristovam, ao gravar um vídeo (veja abaixo) de apoio à candidatura de Danielle Cunha, filha de Eduardo Cunha, a deputada federal pelo Rio de Janeiro.

O vídeo, naturalmente, está sendo amplamente divulgado pelos adversários de Cristovam, pois não pode ser descartada a possibilidade de o bispo Ferreira vir a assumir a cadeira no Senado caso Cristovam integre um ministério ou seja nomeado para o cargo de seus sonhos, na Unesco.

Além disso, Cristovam tem antecedentes: iria pedir licença do atual mandato, em 2017, para permitir que seu suplente Wilmar Lacerda, do PT, fosse senador durante quatro meses. Wilmar só não assumiu porque foi acusado de ter relações sexuais com adolescente e Cristovam desistiu da licença.


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