20/09/2018 às 06h33min - Atualizada em 20/09/2018 às 06h33min

Rapaz amarrado pelo pescoço em sequestro relata momentos de terror

"Tudo por apenas R$ 350", lamenta a mãe da vítima. De baixa renda, família sequer tem dinheiro para levar o carro à perícia policial.

Jbr

Quanto vale a vida do meu filho? Só 350 reais?”. A indagação é da mãe de João Pedro da Costa Moreira, de 22 anos, que foi roubado, teve a liberdade restrita e foi enforcado na noite de terça-feira (18) por três homens. Os bandidos levaram apenas os R$ 350 que estavam com ele. A família tenta se recuperar do susto. O jovem reclama de dores na cabeça e no corpo, mas passa bem. Humilde, pede ajuda para abastecer o carro para levá-lo ao Instituto de Criminalística (IC) e dar andamento às investigações.

O auxiliar de serviços gerais voltava da casa da namorada, no Condomínio RK, em Sobradinho, quando foi fechado por um carro, por volta das 21h de terça (18). “Desceram três homens, cada um com uma pistola. Não tinha como eu fugir com o carro. Eles me amarraram e me jogaram dentro do porta-malas”, lembra.

Enclausurado, ele conseguiu pegar o celular e pedir socorro. “Liguei para o meu pai, mas não deu certo, não atendia. Aí liguei para um colega do meu serviço e pedi para avisar pra minha família”, relata. “Quando chegou no asfalto, eu pedi para me deixarem. Eles já estavam com o carro e com meu dinheiro. Mas falaram que iam me matar, que iam colocar fogo no carro comigo dentro”, completa.

Em casa, a mãe do rapaz recebia a notícia. A dona de casa Valdeni da Costa, 47 anos, logo tentou ir atrás do filho. “Fiquei muito nervosa. Pegamos o carro do meu genro para procurar, mas no meio do caminho acabou a gasolina. Voltamos e fomos para a delegacia, só que os policiais avisaram que já estavam procurando”, conta.

A mãe do rapaz lamenta o crime e diz que foi uma covardia. Rayra Paiva Franco/Jornal de Brasília

Encontrado quase sem vida

João Pedro foi levado a um pinheiral de Sobradinho, próximo à DF-440. “Eles pararam o carro, entraram comigo na mata e me amarraram. Batiam em mim com revólver na minha cabeça, me davam chutes. Bateram muito, eu estava muito fraco. Quando me enforcaram, quanto mais eu mexia, mais sem ar ficava”, detalha.

O auxiliar de serviços gerais foi encontrado quatro horas depois da abordagem. O sargento Sandro Cunha, do 20º Batalhão da Polícia Militar, participou do atendimento à ocorrência. O caso chegou aos policiais por um grupo de WhatsApp. “Informaram que a vítima tinha sido pega na saída do Condomínio RK por três homens. Saímos em direção ao Paranoá, pela Rota do Cavalo, para tentar encontrá-lo”, recorda.

Próximo aos pinheiros, os militares avistaram o carro de João Pedro abandonado. “Revistamos o veículo e não tinha ninguém, nem no porta-malas. Por ser um local deserto, começamos a busca no mato”, completa o sargento da PMDF.

Na mata, os policiais encontraram João Pedro amarrado pelo pescoço em um árvore. “A primeira impressão que tive era que ele já estivesse sem vida, pela fisionomia que apresentava. Mas ele deu um espasmo e logo cortamos a corda”, lembra Cunha. Os militares levaram o rapaz para a viatura e prestaram os primeiros-socorros. De lá, eles iriam para o hospital, mas João Pedro insistiu que estava bem e foram para a delegacia para registrar ocorrência.

Revolta

Os bandidos não levaram o carro nem o celular do auxiliar de serviços gerais. O jovem acredita que eles estavam em busca de alguém para assaltar e ele foi o primeiro a aparecer na frente deles. “Não eram menores de idade. Os três me ameaçavam toda hora. Achei que ia morrer essa noite”, desabafa.

Embora o dinheiro vá fazer falta, já que era para ajudar nas despesas de casa, João Pedro quer somente sua paz de volta. “Estou com medo. Agora, qualquer carro que passar aqui perto de casa e que chegar perto de mim eu vou achar que é algo”, lamenta.

A mãe do rapaz revolta-se com a situação. “A gente vê a violência acontecer com os outros, mas nunca acha que pode acontecer com a gente. Meu filho não é vagabundo, não se envolve com coisa errada, trabalha para nos ajudar em casa. Hoje em dia está tão perigoso que não adianta nem ter carro velho, porque até isso eles estão de olho”, critica.

Para Valdeni,  o crime foi uma covardia. “Eram três contra um. Será que a vida do meu filho vale R$ 350? É muita covardia. Já tinham pego o dinheiro, não precisavam dessa crueldade”, diz, emocionada.

Ajuda

João Pedro, agora, pede ajuda para conseguir levar o carro até o Instituto de Criminalística. “Levaram o único dinheiro que tinha. A Polícia Civil fica longe. Como eu vou?”, questiona. Ele tem 72 horas – que terminam amanhã (20) – para encaminhar o veículo para as análises. Quem puder ajudar pode entrar em contato com a família pelo telefone (61)9.9584-1176.

Saiba mais

Entre janeiro e agosto deste ano, 355 crimes de roubo com restrição de liberdade da vítima foram registrados pela Secretaria de Segurança Pública. No mesmo período do ano passado, foram 353.

Em nota, a pasta informou que a Polícia Civil possui um trabalho qualificado para identificar e prender autores desses crimes. Enquanto a Polícia Militar direciona o seu efetivo, de forma estratégica, para pontos considerados vulneráveis.

Em relação ao caso de João Pedro, ainda não há identificação dos suspeitos. A 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho) apura o caso.


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