Jair Bolsonaro (PSL) saiu das urnas como o mais votado na eleição deste domingo, 7, depois de se firmar como principal candidato do antipetismo na campanha de 2018. Fernando Haddad (PT), por sua vez, conquistou a segunda vaga graças à associação a seu partido e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Pela primeira vez desde 1994, o PSDB não é o principal adversário dos petistas em uma eleição presidencial. A polarização que marcou um quarto de século da política nacional deu lugar a outra, na qual Bolsonaro assume o protagonismo anteriormente ocupado pelos tucanos.
Uma segunda tendência histórica ainda mais antiga foi rompida com a ascensão de Bolsonaro: é a primeira vez desde a redemocratização que um defensor explícito da ditadura militar tem chances reais de ocupar o Palácio do Planalto.
Além de cortejar o eleitorado conservador com um discurso pró-religião, pró-armas e anti-PT, o candidato se mostrou atrativo para a massa do eleitorado que despreza a política tradicional e que não se vê representada pelos grandes partidos.
Nas redes sociais, a quantidade de simpatizantes de Bolsonaro e o volume de engajamento compensaram de sobra a falta de acesso ao palanque eletrônico da televisão. No horário eleitoral gratuito, ele teve apenas 8 segundos em cada bloco de 12 minutos e 30 segundos. Praticamente sem estrutura partidária, o deputado e militar da reserva conseguiu incluir em sua coligação apenas o minúsculo PRTB.
Na terceira semana de campanha oficial, Bolsonaro ainda foi alvo de uma facada, ao participar de um evento de rua em Juiz de Fora (MG), no dia 6 de setembro. Passou por duas cirurgias e ficou 23 dias internado. Nesse meio tempo, teve de debelar crises provocadas por declarações de seu candidato a vice-presidente, General Mourão (PRTB), e por seu conselheiro econômico, Paulo Guedes.
O candidato foi também alvo da maior manifestação organizada por mulheres da história brasileira. Atos promovidos em torno do slogan “ele não” lotaram praças e avenidas das principais cidades do País no dia 29 de setembro. Enquanto isso tudo acontecia, Bolsonaro subia nas pesquisas – e ficava mais forte no segmento antipetista.
Com 48,5 milhões de votos, o representante do PSL teve desempenho melhor nas regiões onde, em eleições anteriores, o PT se saiu pior. Haddad, herdeiro político de Lula, venceu em redutos petistas – mas não em todos.
No total, o candidato do PSL ficou à frente em 16 Estados, e o petista, em nove. Ciro Gomes (PDT), terceiro colocado na disputa, liderou a contagem de votos apenas no Ceará, Estado que governou de 90 a 94 e ontem lhe deu mais de 40% dos votos.
Bolsonaro teve 46% dos votos válidos, cinco pontos porcentuais a mais do que tinha na véspera da eleição, segundo a pesquisa Ibope/Estado/TV Globo divulgada na noite do sábado.
Ele cresceu na reta final da campanha, mas não o suficiente para alcançar maioria absoluta (50% mais um) e encerrar a disputa já no primeiro turno.
Há um mês, Bolsonaro tinha a preferência de 41% dos antipetistas. Após a facada de que foi vítima em Juiz de Fora, no início de setembro, ele deu salto de 12 pontos porcentuais e chegou a 53%. De lá para cá, a curva de crescimento se manteve: 59%, 61%, 63% e, na véspera da eleição, 67%.