11/10/2018 às 09h31min - Atualizada em 11/10/2018 às 09h31min

Operação da PCDF mira tráfico de maconha gourmet e drogas sintéticas

Alvos são traficantes de classe média, com idades entre 18 e 30 anos, que vendem entorpecentes diferenciados e de maior valor DISTRITO FEDERAL

Metrópoles

Cerca de 60 policiais civis estão nas ruas do Distrito Federal para cumprir 10 mandados de busca e apreensão em seis regiões administrativas, na 3ª fase da Operação Theya, coordenada pela 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul). Os alvos são jovens de classe média e universitários, com idades entre 18 e 30 anos, que vendem drogas sintéticas e maconha gourmet.

Durante o cumprimento dos mandados, os policiais encontraram drogas em dois endereços, resultando em duas prisões em flagrante. Segundo a  PCDF, as vendas dos entorpecentes são feitas por meio do WhatsApp. De acordo com os investigadores, os traficantes comercializavam pequenas porções, visto que a droga é de melhor qualidade e mais cara. Na primeira fase da operação, a PCDF investigou seis alvos. Na segunda, 31.

As buscas ocorrem em Samambaia, Taguatinga, Park Way, Gama, Riacho Fundo e Recanto das Emas. A PCDF informou que os suspeitos vendiam também o NBOH, que é um LSD líquido. Uma ampola é comercializada por até R$ 1,3 mil.

Drogas sintéticas
O uso de LSD e ecstasy tornou-se uma roleta-russa para os usuários de entorpecentes no Distrito Federal. Estudos apontam que, a cada seis dias, uma nova droga sintética surge no mundo. Essas composições inéditas são comercializadas por traficantes como se fossem substâncias conhecidas, e a estratégia criminosa chegou em Brasília.

 

A Polícia Civil tem atestado a tendência, que pode ser mortal para quem consome drogas. Em apenas seis meses, de março a setembro de 2018, os peritos do Instituto de Criminalística (IC) da corporação identificaram 15 novas substâncias apreendidas nas ruas. Ou seja, duas drogas nunca antes vistas por mês, apenas na capital da República.

Uma delas é a 25E-NBOH, apreendida por policiais da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) na quarta-feira da semana passada (3/10). Um jovem de 18 anos foi preso com 250 microsselos e os vendia como se fossem LSD. A substância não integra a Portaria nº 344/98, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que define quais drogas são proibidas.

Por isso, os investigadores acreditam que a composição química foi criada por duas razões: para driblar as normas das agências reguladoras e baratear os custos de produção, pois fabricar drogas “genéricas” costuma ser menos dispendioso.

Maconha gourmet
As chamadas maconhas gourmet apresentam notas de limão, framboesa, cereja e chocolate. Investigações conduzidas pela Seção de Repressão às Drogas (SRD) da 1ª DP traçaram o perfil de compradores e de criminosos, além de terem identificado as principais variações que estão infestando festas em Brasília.

As apurações policiais apontam que apenas um grupo seleto de usuários consegue acesso a esse tipo de maconha. Uma pequena porção chega a custar R$ 1,4 mil. Ao contrário do produto vendido nas ruas e em bocas de fumo, as substâncias gourmet são negociadas em rodas de amigos. “Em quase 100% dos casos, quem vende e quem compra se conhecem. Portanto, eles acreditam que se trata de uma transação segura”, explica o delegado adjunto da 1ª DP, Ataliba Neto.

Os grupos de WhatsApp tornaram-se território livre para os traficantes repassarem a oferta da maconha para colegas de faculdade e dos locais onde moram. Alguns criminosos chegam a expor uma espécie de cardápio com uma infinidade de ervas modificadas. É o caso da Super Lemon Haze, criada em laboratório e apontada como a mais potente do mundo, com uma concentração de THC (tetraidrocanabinol) superior a 20% e sabor cítrico. O Metrópoles teve acesso a conversas travadas entre traficantes e usuários por meio do aplicativo.

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Lojinha do bagulho
A diversidade oferecida nos grupos fechados fez alguns traficantes criarem postagens com a variedade de opções. Um deles anunciou haxixe – subproduto potencializado da maconha – de sabor uva e origem afegã, considerado um dos mais fortes, raros e caros. O criminoso afirmou ter capacidade de entregar até 1kg do item ao valor de R$ 10 mil. Ele também oferece comprimidos de ecstasy vindos da Holanda e da Espanha.

Em outro perfil, são anunciadas porções de um tipo raro de maconha chamado de Dark Devil. O nome faz jus à cor do entorpecente e seu forte poder alucinógeno. As folhas escuras são resultado de um cruzamento genético entre várias espécies da Cannabis sativa em laboratórios europeus. O preço chega a R$ 80 por grama.

A quantidade de tipos ofertada pelos bandidos é tão extensa que inclui até cogumelos alucinógenos, por R$ 45 a porção.

 

Vendas casadas
As investigações conduzidas pelos agentes da SRD resultaram na prisão de 34 traficantes nos primeiros oito meses de 2018. Os policiais identificaram que os criminosos costumam usar as redes sociais para fazer vendas casadas envolvendo ingressos para festas e porções de drogas.

Além disso, os investigadores descobriram a venda de haxixe da África e do Oriente Médio. As sementes raras e caras vêm de áreas rurais do Paquistão e Marrocos.

A reportagem conversou com o perito criminal Bruno Telles, da Fundação de Peritos Ilaraine Acacio Arce e do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Civil, sobre as características das maconhas gourmet. Segundo ele, ervas modificadas geneticamente podem ser ainda mais prejudiciais à saúde do que as espécies tradicionais.

Não é a mesma maconha que costumava ser consumida nos anos 1970. Naquela época, a erva era mais pura e tinha um teor de THC na casa dos 16%. Atualmente, essas drogas passam por alterações, sofrem enxertos ou cruzamento com outras espécies e concentram alto poder de THC"
Bruno Telles, perito criminal

O especialista ressaltou que as maconhas gourmet aumentam em 16% os ataques de crises psicóticas. “A concentração nessas novas espécies é muito alta e pode provocar uma série de efeitos colaterais”, disse.


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