Nas últimas semanas, o brasiliense acompanhou atentamente a queda do dólar. A cotação da moeda norte-americana em relação ao real chegou a R$ 4,15, no início de setembro, e despencou para R$ 3,71 neste mês: uma queda de 10,6%. A expectativa de ver redução semelhante na hora de encher o tanque, entretanto, virou frustração e revolta. No mesmo período, o litro da gasolina caiu apenas 3%, em média, no Distrito Federal.
“Não concordo com isso. O dólar cai e o combustível fica do mesmo preço ou aumenta”, desabafa Fernanda Ramos. Nessa sexta-feira (12/10), a empresária parou para abastecer em um posto do Lago Sul e não conteve a indignação. “O problema é que a gente não tem opção”, disse. Na esperança de uma nova redução nos próximos dias, ela colocou pouco combustível. Pagou R$ 4,89 pelo litro da gasolina.
O mesmo sentimento tem o inspetor de segurança Israel Bruno. “Para a gente, o preço está sempre alto”. A servidora pública Ana Maria Lourenço pensa igual: “Isso é uma verdadeira sacanagem. Não tem outro termo para explicar”, dispara a moradora de Águas Claras, que gasta dois tanques por semana para ir trabalhar, no final da Asa Norte, e voltar.
A impressão de que algo está errado na bomba não é apenas de leigos na macroeconomia. Os especialistas também não concordam com o que está ocorrendo. “Como economista, não vejo qualquer explicação cabível para esse aumento em Brasília. Os empresários aproveitam que há oferta e demanda para reajustar o preço para cima. É uma oportunidade de exploração da população”, conclui Ronalde Silva Lins, membro do Conselho Regional de Economia (Corecon-DF).
O professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli aponta a política de preços do petróleo como responsável pela instabilidade no valor do combustível. Ele critica ainda a “obsessão” do mercado por reajustar os preços com frequência. “Não há muita transparência nessa política. Aqui, talvez a gente sinta mais os efeitos em razão de cartéis, mas isso é geral no Brasil inteiro”, explica.
Os preços da gasolina da Petrobras nas refinarias são ajustados de acordo com indicadores mercado, tendo como parâmetros, principalmente, o dólar e o preço do petróleo no mercado internacional. O valor do barril caiu mais de 3%. Com o fim do primeiro turno e a liderança de Jair Bolsonaro (PSL) na corrida presidencial, a moeda norte-americana teve queda acentuada.
E poderia cair mais não fosse as declarações dadas por ele na última quarta (10). Bolsonaro afirmou que o segmento de geração de energia da Eletrobras não será privatizado e se declarou favorável a conservar o “miolo” da Petrobras. Também criticou a política de preços da petrolífera, o que gerou temor de intervencionismo.
Bolsonaro disse ainda que a reforma da Previdência poderia ser feita “vagarosamente” e discutida apenas em 2019.
Donos de postos explicam
O presidente do Sindicombustíveis-DF, Paulo Tavares, afirma que o preço da gasolina foi pressionado pelos aumentos do álcool e de R$ 0,12 na base de cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) aplicado na gasolina.
De acordo com ele, o preço do etanol anidro, que corresponde a 37% da composição da gasolina C vendida nos postos, teve aumento superior a R$ 0,20 de um mês para outro, conforme o registro feito pelo Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP).
Já o ICMS, segundo a Petrobras, representa 29% do preço da gasolina vendida aos consumidores. A alíquota praticada no DF, de 28%, é aplicada sobre a base de cálculo do litro, que passou a R$ 4,89 no dia 10 de outubro.