26/01/2017 às 14h28min - Atualizada em 26/01/2017 às 14h28min

Os interesses de Gim nas lotéricas

Mensagens interceptadas pela Polícia Federal apontam pedido do ex-senador e articulação de ex-vice-presidente da Caixa para tratar de transferência de casas de apostas da instituição

Correio Braziliense

O ex-senador Gim Argello, condenado a 19 anos de prisão pelo juiz Sérgio Moro, era um dos beneficiários do esquema de favorecimento dentro da Caixa Econômica Federal, oferecido por Fábio Cleto, ex-vice-presidente do banco público. Mensagens analisadas pela Polícia Federal (PF) e obtidas com exclusividade pelo Correio mostram o interesse de Gim em casas lotéricas da instituição financeira. O relatório da Operação Catilinárias indica ainda que Cleto era procurado para intermediar negociações que não tinham ligação com a sua atuação no banco.

 

Em mensagens trocadas em maio de 2012, Milton Lyra, apontado pela PF e pelo Ministério Público Federal (MPF) como lobista ligado ao PMDB, pergunta a Cleto quem o ex-senador Gim Argello poderia procurar para tratar sobre a transferência de lotéricas. O ex-vice presidente da Caixa se dispõe a resolver o problema e envia uma mensagem a Lyra afirmando que já havia combinado um encontro com Gim.

 

Em outubro do ano passado, o juiz Sérgio Moro condenou Gim a 19 anos em regime fechado pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e obstrução à investigação da Operação Lava-Jato. Lyra ainda procurou Cleto para saber se a Caixa teria interesse em fazer cartões de crédito para a BR Distribuidora. O relatório da PF ainda indica que o lobista Fernando Baiano também estaria envolvido na negociação.

 

O celular de Cleto foi apreendido em Brasília, durante busca e apreensão em um hotel luxuoso na capital federal, onde ele moravo. O aparelho, um Blackberry, assim como o do ex-deputado Eduardo Cunha, foi levado em 15 de dezembro de 2015, durante as investigações da Operação Catilinárias. Todas as mensagens estão em posse dos investigadores e podem servir de base para outras fases da Operação Cui Bono.

 

Ajuda a Eike

Conforme o Correio revelou na semana passada, Cleto e Eduardo Cunha também atuaram para liberar recursos para empresas de Eike Batista. Na ocasião, o ex-presidente da Câmara cobrou do ex-vice presidente da Caixa informações sobre uma operação no FI-FGTS que interessaria ao empresário. “E Eike?”, perguntou o ex-presidente da Câmara dos Deputados, que está preso em Curitiba (PR). “Eike tudo bem, abordado o tema do FI”, respondeu Cleto. Além dessas mensagens, Cleto fez vários contatos com o então diretor de relações institucionais do grupo EBX, Amaury Pires, empregado de Eike.

 

Em outro trecho do relatório da PF, Cleto é procurado por um homem chamado Cassio Ismael, que pede informações sobre a tramitação de um financiamento na Caixa de seu interesse. O ex-vice-presidente do banco público informou que a classificação de risco inviabilizava a negociação e que não poderia mais interferir na liberação dos recursos.

 

Após a conversa, Ismael afirmou que estaria com o presidente do Gabão e que ele teria interesse em comprar carne brasileira. Cleto se comprometeu a ligar diretamente para o presidente da JBS para saber se eles teriam interesse em negociar com aquele país. Procurada, a JBS informou que Fábio Cleto nunca intermediou nenhum negócio da companhia. A empresa detalhou que, desde 2010, exporta para vários países da África e a comercialização ocorre de maneira regular, por meio de escritórios comerciais da companhia e tradings estrangeiras. “O volume exportado para o Gabão representa 0,08% sobre o total de carne vendida para o exterior pela companhia”, afirmou, em nota.

 

Financiamentos

As mensagens de Cleto fazem parte do material que subsidiou a Operação Cui Bono, que significa “a quem interessa?”. Segundo a PF e o MPF Cunha, Cleto e o lobista Lucio Funaro operavam com o ex-ministro Geddel Vieira Lima para liberar financiamentos da Caixa para diversas empresas, entre ela a JBS, do grupo J&F. O caso é um desdobramento da Operação Catilinárias, deflagrada em dezembro de 2015. Os investigadores encontraram na casa de Cunha, no Rio de Janeiro, um celular, modelo Blackberry. No aparelho, havia diversas mensagens trocadas com Geddel, que à época era vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, no governo Dilma.

 

O ex-ministro, Cunha, Cleto e Marcos Roberto Vasconcelos, ex-vice-presidente de Gestão de Ativos de Terceiros da Caixa, segundo o MPF e a PF, são suspeitos de oferecer vantagens a diversas empresas para liberação de financiamentos do banco público em troca de propina. Os investigadores encontraram o pagamento de mais de R$ 1 milhão da Eldorado para Funaro, empresa do grupo J&F.

 

Sobre as relações comerciais com Lúcio Funaro, a J&F informou que todas elas seguiram padrões de mercado, foram comprovadas por contratos de serviço e têm os pagamentos documentados. Segundo a companhia, Funaro foi contratado para assessoramento em processo de solução de impasse societário com a família Bertin, para intermediação da venda do grupo Big Frango, em razão de contrato assinado previamente por Funaro com a empresa comprada, além da compra de gado.

 

O advogado de Milton Lyra, Eduardo Toledo, informou que não se pronuncia sobre documentos que desconhece e nega qualquer irregularidade cometida pelo cliente. O advogado de Gim Argello, Marcelo Bessa, disse que não poderia se pronunciar por não saber qual é o teor das mensagens. A defesa de Fábio Cleto não retornou as ligações da reportagem.


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