O fenômeno era absolutamente previsível: o Partido dos Trabalhadores está sendo alijado do comando da oposição.
Colocado de lado, evitado como se representasse um verdadeiro cancro da política.
E não poderia ser diferente.
Ainda que tardiamente, a esquerda começou a perceber o óbvio: relativizar a ética em prol da ideologia custou o apoio dos eleitores nas urnas.
O brasileiro não está disposto a dar cheque em branco e conceder alforria a quem se lambuza na corrupção.
Por isso mesmo o PT vem sendo banido do paraíso político.
Deve espiar seus pecados e culpas antes de alcançar a graça do perdão popular.
Não fez isso e segue no purgatório.
O hegemonismo que a agremiação de Lula queria impor às demais siglas está indo pelo ralo depois da acachapante derrota eleitoral.
O velho caudilhismo populista do lulopestimo parece perto do fim, com os dias contados, sem suporte nas bancadas parlamentares além de sua própria.
E a esquerda trata de reorganizar um bloco independente, em outras bases e sob nova direção.
O pedetista Ciro Gomes, do alto de quase 13 milhões de votos que o credenciaram ao posto, lidera o movimento de retomada da resistência.
De uma maneira, como ele diz, mais responsável e pragmática, dentro de um formato construtivo para o País.
Ciro quer gerar um campo de atuação diferente no qual não seja necessário tapar o nariz à ladroeira, à falta de escrúpulos, ao oportunismo e aos desvios de aliados para realizar oposição.
O conceito é o da vigilância às práticas e projetos do Executivo, reagindo com responsabilidade quando necessário.
Nada de sabotagem pura e simplesmente.
Discurso afinado, cabe adotá-lo na prática.
Não se pode negar que a quarentena imposta à esquadra petista na articulação do bloco que fará frente ao governo Bolsonaro é justificada, ao menos em parte, pela conduta autoritária e sempre individualista demonstrada por seus líderes.
O PT atuou com soberba, achando que os parceiros eram bons apenas quando o apoiavam cegamente.
Da mesma maneira, vigorava o entendimento de que os únicos projetos dignos de aprovação saiam de sua lavra. Sem concessões ou abertura a sugestões dos demais.
A legenda jamais fez autocrítica e agora, como diz Ciro Gomes, aliados de outrora apontam o dedo inquisidor para mostrar em praça pública que o PT não é o centro do mundo, nem o centro da política brasileira.
Não merece a convivência democrática e colaborativa com os demais.
Do alto de sua prepotência está sendo punido.
Além do PDT, PCdoB e PSB costuram juntos uma aliança restauradora da relevância de forças que tiveram razoável vitória nas urnas.
São partidos que querem se livrar da imagem de linha auxiliar dos petistas, abolir a pecha de meros “puxadinhos” manipulados pela egolatria do presidiário Lula.
O PT, por sua vez, segue na tática da pregação do “quanto pior, melhor”.
O plano é atravancar os trabalhos do Legislativo.
Obstruir pautas e jogar com o apoio, e os protestos, de movimentos sociais para atrasar votações. Na prática, como rotineiramente vem fazendo, o Partido dos Trabalhadores conspira contra o País.
Um contrassenso.
Na linha de oposição sem critério a sigla chegou a barrar, nos últimos dias, medidas provisórias editadas por seus próprios quadros.
Representantes parlamentares seguraram por seis horas, por exemplo, a aprovação de um projeto enviado a plenário por Dilma Rousseff, que autorizava a União a reincorporar trechos da malha rodoviária federal transferidos aos Estados.
Da mesma maneira, eles protelaram o quanto puderam a alteração da meta fiscal sugerida pela ex-presidente.
Restaria a pergunta: qual o sentido de uma atuação assim?
Simples: bagunçar o ritmo do Congresso para evidenciar que Brasília não anda sem a sua turma.
Já foi montado até uma espécie de “kit obstrução”, amparado pelo regimento da Casa, com manobras para adiar indefinidamente alguns temas de vital importância, como o da Previdência.
Deputados adeptos da ideia da catimba, defendida com entusiasmo pela agremiação, devem, por exemplo, deixar de registrar presença, evitando assim o quórum mínimo necessário para o início das sessões.
Outra artimanha cogitada é a da apresentação de sucessivos requerimentos a serem analisados antes de se avaliar o mérito.
Subterfúgios baixos, rasteiras covardes, que agridem fundamentalmente o cidadão.
Não por menos os postulantes dessa nau de insensatos mereceu o desprezo da maioria e devem mergulhar no ostracismo por um bom tempo.