10/12/2018 às 07h35min - Atualizada em 10/12/2018 às 07h35min

Quem é João de Deus, o médium acusado de abuso sexual?

Ele recebe cerca de 5 mil pessoas em sua casa e descobriu seu dom aos 9 anos. Aos 16, passou a atender cirurgias espirituais

METRÓPOLES

Há 44 anos, o médium João de Deus atende milhares de pessoas em Abadiânia (GO). Turistas do mundo inteiro vão até a cidade localizada a 100km de Brasília para serem atendidos pelo “homem santo”. No rol de fiéis, estão celebridades internacionais, como Oprah Winfrey e Naomi Campbell. Mas também uma vasta lista de políticos, na qual estão incluídos o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), e os ex-presidentes do Brasil Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva.

Na noite de sexta-feira (7/12), o programa do jornalista Pedro Bial revelou a história de 10 mulheres que acusam João de Deus de assédio sexual. Apenas uma, entretanto, se dispôs a mostrar o rosto. A coreógrafa holandesa Zahira Lieneke Mous deu um depoimento estarrecedor. “Ele abriu a calça, colocou a minha mão no pênis dele e começou a movimentar a minha mão. Estava em choque”, contou.
 

Muito antes, porém, das dezenas de vítimas relatarem abusos sexuais praticados pelo médium, o Ministério Público de Goiás (MPGO) o denunciou por fraude sexual, conforme noticiou reportagem da revista Veja Brasíliaem 4 de setembro de 2013. Uma moça, na época com 16 anos, sofria com crises de pânico e buscou a Casa Dom Inácio de Loyola.

Durante seu atendimento, descreveu ao MP, João teria pedido ao pai da menina, seu acompanhante na ocasião, para ficar de costas e com os olhos fechados. “Em seguida, [João] acariciou os seios, barriga, nádegas e virilha da menina”, descreve a ação. E ainda sustenta: “Não satisfeito, o denunciado segurou, por cima da roupa, a mão da vítima, movimentando-a para cima e para baixo sobre seu órgão genital, afirmando que através daquele tratamento seria curada”.

Inocentado
A juíza da comarca de Abadiânia, Rosângela Rodrigues Santos, considerou em sua sentença que não há como tipificar no episódio o crime de fraude sexual, previsto em quatro hipóteses: substituição de uma pessoa por outra, quando o agente simula celebração de casamento, má-fé em união por procuração e em caso de estado de sonolência da vítima.

“Com efeito, a conduta do acusado, ao afastar-se dos princípios éticos e da caridade que norteiam os ensinamentos de Allan Kardec, foi imoral, mas não caracteriza violação sexual mediante fraude, por ausência de suas principais elementares”, afirmou a juíza em em decisão publicada pela Veja Brasília.

No documento, a magistrada diz ter convicção de que o ato foi praticado, mas considera que a moça, embora com síndrome do pânico, tinha condições de evitar o episódio, por exemplo, pedindo ajuda ao pai, que estava na sala. Aos prantos, a menina teria ficado com nojo das mãos que tocaram em João. O médium foi inocentado em 2010 sob o argumento de defesa de falta de provas para a condenação.

As vítimas ouvidas pelo Programa do Bial foram abusadas entre 2010 e 2018 e o padrão de atuação do médium parece bem similar: João de Deus atende as vítimas no fim do dia e as atacam no banheiro de seu escritório.