11/12/2018 às 07h28min - Atualizada em 11/12/2018 às 07h28min

Brasilenses relatam terror de abusos sexuais feitos por João de Deus

Segundo as mulheres, o médium, que atende em Abadiânia (GO), forçou sexo oral e ejaculou sobre elas

CARLOS CARONE, LUÍSA GUIMARÃES, FERNANDO CAIXETA
METRÓPOLES
Mulheres mundo afora estão entre as vítimas que denunciaram o médium João de Deus por abusos sexuais cometidos durante tratamentos espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola. Apenas entre o sábado (8/12) e a segunda-feira (10), mais de 250 vítimas procuraram as autoridades para contar o que teriam sofrido nas mãos do cirurgião espiritual. No Distrito Federal, distante cerca de 100km do pequeno município de Abadiânia (GO), onde João atende, os relatos de pacientes que dizem ter sido estupradas ou molestadas sexualmente se multiplicam.

Um episódio de violência ocorrido há 10 anos envolve uma brasiliense. Ela procurou a Polícia Civil do Distrito Federal para relatar os momentos de terror vividos quando esteve com o médium. Em abril de 2008, a vítima prestou depoimento à Delegacia Especial de Atendimento á Mulher (Deam) dizendo ter procurado João de Deus, acompanhada de uma amiga, para tratar um tumor no pé.
 

Após passar por toda a triagem e os atendimentos de praxe, a vítima foi orientada a procurar o médium na hora do intervalo, na sala pessoal dele. Enquanto esperava, a mulher presenciou uma moça deixar a sala aos prantos, desorientada e correndo. Logo em seguida, ela foi chamada para a sessão com João de Deus.

“Dureza da fé”
Assim que entrou no cômodo, a mulher percebeu que o médium havia trancado a porta. O líder espiritual determinou que ela tirasse o sutiã e ficasse de costas para ele. A mulher narrou aos policiais que João de Deus começou a apalpar seus seios e barriga e mandou que ela tirasse a calça afirmando que a “energia negativa” estava acumulada em sua região pélvica.

Usando o nome de Deus e de vários santos, o espírita simulou estar em oração e começou a massagear a virilha, nádegas e região externa da vagina da vítima.

Em seguida, a mulher contou ter os dois braços puxados para trás e obrigada a acariciar a barriga e o pênis de João de Deus. Ainda em seu depoimento, a vítima relatou que sentiu quando o pênis do médium ficou ereto. “Abusando de sua fé em ficar curada, João de Deus dizia que aquela dureza era energia negativa que vinha da região pélvica da vítima e que ele estava absorvendo para o corpo dele”, diz o depoimento da vítima.

Ela chegou a questionar o motivo daquela situação e teria ouvido: “O que é que você quer? você tem que me ajudar”. Depois, João de Deus teria ordenado que ela continuasse a masturbá-lo.

Quando imaginou que a violência terminaria, a vítima contou ter sido levada para outra sala, onde João de Deus teria sentado em uma poltrona. Ele a colocou ajoelhada no chão, em uma posição entre suas pernas. A mulher relatou que João de Deus a mandou fechar os olhos e colocou o pênis em suas mãos. Naquele momento, o médium teria perguntado à mulher onde ela gostaria que o pênis estivesse. “Ele induzia a dizer que queria que seu pênis estivesse em seu útero, ora em seu ânus, ora em sua vagina, em seus seios e em sua boca”, diz o depoimento.

A mulher disse à polícia que, após aquele momento, João de Deus ejaculou em suas mãos. Para convencer a vítima, o médium falava que o pai dela, falecido havia 25 anos, estava presente em espírito e presenciava aquela cena. Durante todo o tempo, a mulher contou que João de Deus simulava estar orando e invocando a presença de entidades espirituais. Ele ainda teria afirmado que a mulher precisava fazer aquele ato por ter “carma de outras encarnações”.

“Punição espiritual”
“Tudo isso aconteceu graças a Deus e Nossa Senhora”, teria dito João de Deus. Desconfiada, a mulher perguntou ao médium se quem estava com ela naquele momento era o médium ou alguma entidade. João de Deus teria dito que seria uma entidade chamada José Valdivino.

Após liberar a mulher, o médium a orientou a não contar o que havia ocorrido, sob o risco de absorver uma grande quantidade de energia negativa em forma de “punição espiritual”. Já na estrada, dentro do carro na companhia de uma amiga, a mulher começou a chorar e afirmou ter sido estuprada pelo médium. As duas decidiram retornar a Abadiânia e confrontar João de Deus.

A vítima voltou até ao local onde havia sido abusada. Na frente do médium, a mulher o repreendeu e partiu para cima dele dando vários tapas em seu rosto. Assustado, João de Deus pediu socorro a um funcionário do local, que expulsou as duas mulheres da propriedade. Apesar do registro da ocorrência no DF, a investigação foi remetida para ser apurada pela Delegacia de Abadiânia.