Um episódio de violência ocorrido há 10 anos envolve uma brasiliense. Ela procurou a Polícia Civil do Distrito Federal para relatar os momentos de terror vividos quando esteve com o médium. Em abril de 2008, a vítima prestou depoimento à Delegacia Especial de Atendimento á Mulher (Deam) dizendo ter procurado João de Deus, acompanhada de uma amiga, para tratar um tumor no pé.
Após passar por toda a triagem e os atendimentos de praxe, a vítima foi orientada a procurar o médium na hora do intervalo, na sala pessoal dele. Enquanto esperava, a mulher presenciou uma moça deixar a sala aos prantos, desorientada e correndo. Logo em seguida, ela foi chamada para a sessão com João de Deus.
“Dureza da fé”
Assim que entrou no cômodo, a mulher percebeu que o médium havia trancado a porta. O líder espiritual determinou que ela tirasse o sutiã e ficasse de costas para ele. A mulher narrou aos policiais que João de Deus começou a apalpar seus seios e barriga e mandou que ela tirasse a calça afirmando que a “energia negativa” estava acumulada em sua região pélvica.
Usando o nome de Deus e de vários santos, o espírita simulou estar em oração e começou a massagear a virilha, nádegas e região externa da vagina da vítima.
Em seguida, a mulher contou ter os dois braços puxados para trás e obrigada a acariciar a barriga e o pênis de João de Deus. Ainda em seu depoimento, a vítima relatou que sentiu quando o pênis do médium ficou ereto. “Abusando de sua fé em ficar curada, João de Deus dizia que aquela dureza era energia negativa que vinha da região pélvica da vítima e que ele estava absorvendo para o corpo dele”, diz o depoimento da vítima.
Ela chegou a questionar o motivo daquela situação e teria ouvido: “O que é que você quer? você tem que me ajudar”. Depois, João de Deus teria ordenado que ela continuasse a masturbá-lo.
Quando imaginou que a violência terminaria, a vítima contou ter sido levada para outra sala, onde João de Deus teria sentado em uma poltrona. Ele a colocou ajoelhada no chão, em uma posição entre suas pernas. A mulher relatou que João de Deus a mandou fechar os olhos e colocou o pênis em suas mãos. Naquele momento, o médium teria perguntado à mulher onde ela gostaria que o pênis estivesse. “Ele induzia a dizer que queria que seu pênis estivesse em seu útero, ora em seu ânus, ora em sua vagina, em seus seios e em sua boca”, diz o depoimento.
A mulher disse à polícia que, após aquele momento, João de Deus ejaculou em suas mãos. Para convencer a vítima, o médium falava que o pai dela, falecido havia 25 anos, estava presente em espírito e presenciava aquela cena. Durante todo o tempo, a mulher contou que João de Deus simulava estar orando e invocando a presença de entidades espirituais. Ele ainda teria afirmado que a mulher precisava fazer aquele ato por ter “carma de outras encarnações”.
“Punição espiritual”
“Tudo isso aconteceu graças a Deus e Nossa Senhora”, teria dito João de Deus. Desconfiada, a mulher perguntou ao médium se quem estava com ela naquele momento era o médium ou alguma entidade. João de Deus teria dito que seria uma entidade chamada José Valdivino.
Após liberar a mulher, o médium a orientou a não contar o que havia ocorrido, sob o risco de absorver uma grande quantidade de energia negativa em forma de “punição espiritual”. Já na estrada, dentro do carro na companhia de uma amiga, a mulher começou a chorar e afirmou ter sido estuprada pelo médium. As duas decidiram retornar a Abadiânia e confrontar João de Deus.
A vítima voltou até ao local onde havia sido abusada. Na frente do médium, a mulher o repreendeu e partiu para cima dele dando vários tapas em seu rosto. Assustado, João de Deus pediu socorro a um funcionário do local, que expulsou as duas mulheres da propriedade. Apesar do registro da ocorrência no DF, a investigação foi remetida para ser apurada pela Delegacia de Abadiânia.