Os brasileiros amanheceram a quarta-feira com troca completa de governantes. Jair Bolsonaro fará seu primeiro trajeto laboral em direção ao Planalto. E Ibaneis Rocha sairá de casa em direção ao Buriti. A situação se repetirá em 17 estados, só o Nordeste não surfou na onda da renovação. Após a calor da eleição, a não ser os mais fanáticos, a imensa maioria da população torce para que este novo momento dê certo. A questão é saber o que cada um entende como “certo”.
Pelos seus posicionamentos antes, durante e depois da eleição, e ainda em seu primeiro pronunciamento como Presidente na tarde desta terça, 1, Jair Bolsonaro indicou o caminho que pretende seguir. Já há oposição ferrenha, haverá mais ranger de dentes. O que não se pode reclamar do agora novo Presidente da República é a falta de linha política. Seus fervorosos apoiadores até a identificaram antes mesmo de o ex-deputado carioca sonhar em viver os acontecimentos do dia de hoje.
Esta caravana será a primeira a cobrar uma virada de 180 graus em vários setores. Segurança, Relações Internacionais, Educação serão temas observados tanto pelos admiradores quanto pelos opositores. Na economia, Paulo “Posto Ipiranga” Guedes também desenhou sua pista: liberalismo, menos estado, menos barreiras para gerar mais crescimento e mais empregos. Mesmo que, para conseguir isso, tenha que “flexibilizar” ainda mais os direitos trabalhistas.
Seu comportamento após o segundo turno leva traços da futura governança: correu e recorreu ao governo federal brigando para tentar recuperar créditos perdidos nas burocracias distritais e federais, fez convites aceitos a ministros para compor seu futuro secretariado, conseguiu até edição de medidas provisórias. Também, para o espanto da classe política tradicional, alugou em seu nome salas para sua equipe de transição, pagou do próprio bolso a reforma do banheiro do terminal rodoviário do Gama, mandou às suas custas instalar um grande toldo à frente do Buriti para a transmissão da faixa.Já no nosso quadrilátero, Ibaneis Rocha, que não declarou abertamente voto para Presidente durante a campanha, representa ao mesmo tempo uma grande novidade, e uma não menor incógnita. Uma coisa é certa: o novo Governador não se parece com nenhum dos que já tivemos.
Por outro lado, a composição da equipe frustrou quem esperava uma grande renovação política. Ibaneis recriou Secretarias, prometeu ainda mais administrações regionais (apesar do primeiro diário oficial assinado pelo advogado não modificar a estrutura das ARs) e nomeou pessoas que já serviram a outros governos. Seria a manutenção da velha política de loteamento de cargos? Governador não é mandachuva.
Pelo menos, não por inteiro. Sabe que precisa, como seus colegas chefes de Executivo, negociar sempre com o Legislativo. E observar o Judiciário. No caso do segundo, o eleitor também se manifestou, promovendo uma renovação inédita na Câmara Legislativa. Mesmo assim, cada um dos Poderes não abrirá mão de suas prerrogativas.
Nova ou velha, a política precisa voltar às raízes. E os governantes entender as demandas da população.
Das manifestações populares de 2013 às eleições de 2018, as mensagens foram várias, nem sempre compreensíveis e coerentes, mas indicaram uma frustração entre a carga tributária e a burocracia do Estado, e os serviços por ele providos. Ibaneis, provavelmente por sua origem no setor privado, compartilha esta opinião. E por isso já sinalizou a vontade de baixar algumas dos impostos e contribuições.
Que mais pode se esperar de um governante? Diálogo antes de tomar as decisões, porém firmeza na hora da execução. Mostrar serviço efetivo. Mas também sinceridade. Problemas e contratempos acontecem. Impedimentos, até mesmo judiciais, são compreensíveis se bem explicados. E assumidos.
Líderes pegaram o mau hábito, não só no Brasil, de usar desculpas virando pretexto, ou jogar a culpa nos antecessores, quando não nos assessores. Tem até aqueles que alegam que “não sabiam”. Chegou a hora de governar, mas com humildade e humanidade. Não é pedir muito, é?