O deputado federal eleito Marcel Van Hatten (Novo-RS) obteve nas urnas quase 350 mil votos, o melhor desempenho entre os concorrentes do Rio Grande do Sul. No primeiro mandato, com 33 anos, ele chega a Brasília com a ambição de presidir a Câmara dos Deputados.
Em campanha para o comando da Casa Legislativa, Van Hatten defende propostas contrárias ao sentimento de parte dos deputados. Uma de suas bandeiras atinge, diretamente, parlamentares que usam o mandato para se proteger da Justiça
O foro privilegiado precisa ser pautado aqui e a minha opinião é de que ele deve ser extinto”, afirmou, em entrevista exclusiva ao Metrópoles. “É preciso pautar os temas que realmente importam ao cidadão e um deles é esse”, explicou.
Nos assuntos internos, ele pretende dar ênfase a mudanças que visam transparência e cortes nos gastos. Pretende, também, realizar reformas administrativa e regimental.
Para Van Hatten, o Legislativo falha no papel de fiscalizar tanto as ações dos parlamentares quanto os outros poderes. “A Câmara normalmente atua depois de denúncias publicadas pela imprensa, não por iniciativa de deputados”, disse.
Caso seja escolhido para a Presidência da Câmara, o parlamentar gaúcho tem a intenção de pôr em votação também as reformas previdenciária, tributária e política. Nesse rumo, acredita, deverá ter o apoio do governo, principalmente, na primeira.
Van Hatten defende que, no caso da previdência, as mudanças devem atingir tanto civis quanto militares. “Todos devem ser incluídos e respeitados em suas diferenças. Nos estados, os militares são uma das maiores razões dos déficits”, acrescenta.
Reforma política
Em relação à reforma política, uma das propostas é acabar com o Fundo Partidário ou, pelo menos, mudar a legislação para permitir a devolução desse dinheiro pelo partido, o que não é possível hoje. O Novo tem, segundo o deputado eleito, mais de R$ 3 milhões parados por não ser possível restituir esses recursos aos cofres públicos.
Com formação em relações internacionais, ciências políticas e jornalismo, o parlamentar gaúcho estudou na Holanda e na Dinamarca. Como político, segue os preceitos de seu partido. Nesse sentido, sua maior referência no Congresso é Roberto Campos (1917-2001), um dos gurus econômicos dos liberais brasileiros, que foi deputado, senador e diplomata.
“Há muito tempo ele vinha alertando para os problemas da nossa Constituição, que está ultrapassada em muitos quesitos, como excesso de direitos e carência de deveres”, afirmou. Na política, com menos convicção, Van Hatten busca inspiração no abolicionista Joaquim Nabuco (1849-1910). “Ele foi reconhecido pela defesa liberal e pela defesa do fim da escravidão”, justificou.
Embora o Novo adote uma linha crítica às alianças eleitorais, normalmente firmadas em função do tempo na televisão e dos fundos partidários, Van Hatten considera importante fazer acordos com outras legendas. Como exemplo dessa possibilidade, cita a postura do correligionário e governador de Minas, Romeu Zema, que governa com apoio de outras siglas, como o PSDB.
Adversários experientes
A falta de vivência no Congresso, argumenta, não o preocupa. Ex-vereador e ex-deputado estadual, ele acredita que os mandatos de vereador em Dois Irmãos (RS) e de deputado estadual no Rio Grande do Sul lhe ajudem a se cercar das “melhores pessoas” e liderar o comando da Câmara.
Para chegar ao topo do Legislativo, ele terá de vencer adversários mais experientes no complexo jogo do poder em Brasília, como o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o vice da Casa, Fábio Ramalho(MDB-MG). Sem apoio de outros partidos, o deputado eleito pelo Rio Grande do Sul aposta nas conversas “individuais” com os colegas do campo conservador.
No Congresso, para encaminhar suas ideias, o futuro parlamentar gaúcho espera contar com o apoio de outros eleitos com as mesmas bandeiras de renovação que lhe garantiram a expressiva votação no ano passado – é o caso de Kim Kataguiri (DEM-SP), que desistiu de entrar na disputa para apoiá-lo. Nesta sexta-feira (1º/2), no primeiro dia como deputado federal, Van Hatten terá a oportunidade de descobrir até que ponto suas propostas têm aceitação entre os colegas.