Cada vez mais realistas, as armas de airsoft estão sendo usada por criminosos em roubos no Distrito Federal. Em média, a Polícia Civil registra diariamente a apreensão de três réplicas de revólveres, pistolas e até fuzis usadas em crimes. Boa parte dos 1.007 equipamentos de pressão – movidos a gás ou por meio de bateria – e simulacros apreendidos em todo o ano passado estavam nas mãos de adolescentes infratores.
De acordo com investigações da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri), uma imitação de fuzil teria sido usada em roubo na última terça-feira (19/2). Três homens com o armamento renderam vigilantes da estação do Metrô em Águas Claras e levaram cerca de R$ 10 mil da bilheteria. “Pelas imagens, tudo leva a crer que se tratava de uma réplica, principalmente pela atitude do suspeito que carregava a arma. Em determinado momento, ele chega a guardá-la em um case”, explicou o coordenador da Corpatri, André Leite.
Em vez de projéteis de verdade, uma airsoft dispara pequenas esferas feitas de plástico ou de material biodegradável. Para comprovar a facilidade em se comprar os equipamentos, a reportagem do Metrópoles visitou três lojas especializadas que funcionam na Feira dos Importados. A variedade de modelos e preços é enorme.
Uma réplica da famosa pistola austríaca da marca Glock varia de R$ 250 a R$ 1.550, dependendo do acabamento, poder de alcance e se funciona à base de pressão ou a gás (veja vídeo abaixo).
De acordo com um dos vendedores, os fuzis que simulam os armamentos de grosso calibre, como .556 ou .756, estão sendo vendidos em larga escala. “Muitos amantes do esportes estão investindo entre R$ 2 mil e R$ 4 mil em modelos M4 ou M16: todos são semiautomáticos, com empunhadura retrátil e opção para seletor de rajada”, disse.
Perguntado sobre as restrições de venda, todos os comerciantes foram enfáticos em dizer que basta apenas carregar as armas com nota fiscal. Durante o transporte, devem levá-las nas caixas e dentro do porta-malas dos veículos. “Também é fundamental nunca retirar a ponteira colorida”, alertou um deles.
Adolescentes armados
As duas unidades da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) são as campeãs de apreensões de armas do tipo airsoft. Com acesso fácil – são vendidas até por sites na internet –, elas se tornaram objeto de desejo de adolescentes infratores que praticam roubos à mão armada nas ruas do DF.
O delegado da Corpatri destacou que não existe regulamentação ou qualquer tipo de controle para a fabricação e venda das réplicas. “Sabemos que existem esportistas que agem dentro da lei e usam as armas apenas para competições. No entanto, do ponto de vista criminal, temos muitos problemas com a venda indiscriminada”, ressaltou.
André Leite disse que seria necessário uma normatização e um controle rigoroso, como a exigência de cadastramento dos proprietários em associações ou federações. “Seria muito importante a obrigatoriedade de registro de ocorrências em caso de perda, roubo ou furto, para a polícia ter um controle. Quando se retira a ponteira vermelha ou laranja dessas armas, elas se tornam réplicas perfeitas das verdadeiras e são capazes de enganar até policiais”, disse.
Regulamentação
Desde o início de 2018, um projeto de lei (PL) tramita no Congresso Nacional a fim de regulamentar a venda de armas de airsoft. De acordo com o texto, a posse ou porte ilegal das réplicas pode se tornar crime com pena de até 1 ano.
O PL 444/2017, do senador Valdir Raupp (PMDB-RO), está sendo examinado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), aguardando definição de relator. O projeto altera o Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/2003) para estabelecer como crime a conduta de possuir ou portar ilegalmente simulacro ou réplica de arma de fogo.
A pena prevista é de detenção de 6 meses a 1 ano mais pagamento de multa. O texto também classifica como imitação as armas de pressão do tipo airsoftou paintball que não detenham sinais identificadores capazes de distingui-las das armas de fogo.
Cenário de guerra
Um evento de airsoft conhecido como Ruas em Guerra 5, ocorrido no último domingo (17/2), no Setor H Norte de Taguatinga, chamou atenção de quem passava pelas proximidades por causa das cenas impactantes. A simulação contou com manequins pendurados de cabeça para baixo enrolados em sacos plásticos pretos. As imagens circularam em grupos de WhatsApp, causando reação de alguns moradores.
A Administração Regional de Taguatinga confirmou o recebimento de reclamações públicas sobre as atividades. A pasta disse ter advertido os organizadores e pedido explicações sobre o ocorrido, pois o tipo de evento não seria o mesmo que constava na liberação concedida por ela. “As informações davam conta que os exercícios não correspondiam aos que foram autorizados”, afirmou a assessoria do órgão. “Esta administração avaliará novos pedidos para eventos do gênero”, concluiu.
Diogo de Assis, organizador da simulação, afirmou ao Metrópoles que os bonecos foram retirados após 10 minutos da instalação, antes mesmo do começo da partida. Ele explicou que os moradores tinham sido avisados previamente sobre a ocasião. “Vimos que era muito realista e tiramos rapidamente, mas alguém fotografou e, de forma maldosa, espalhou nas redes sociais, distorcendo o contexto”, disse. Ele contou que só soube da repercussão depois, por meio do WhatsApp.