Na ditadura ou na democracia, a elite política e altos funcionários públicos desfrutam de regalias e benesses custeadas pelos contribuintes. O Metrópoles mostrou nas últimas semanas como servidores e congressistas gastam dinheiro público em jantares oficiais, viagens e produtos de uso pessoal.
O apreço dos poderosos por privilégios antecede os tempos democráticos. Ainda durante a ditadura, em 1976, o jornalista Ricardo Kotscho publicou no jornal O Estado de S. Paulo a série de reportagens “Assim vivem os nossos superfuncionários”.
O trabalho coordenado por Kotscho revelou as vantagens incorporadas por servidores dos altos escalões. De quebra, apresentou aos brasileiros o termo “mordomias”, desde então incorporado ao glossário da política brasileira.
Pois nada mudou. Depois da redemocratização, o grupo político formado em torno do ex-presidente José Sarney (MDB-AP) dominou a cúpula do Senado. O MDB teve hegemonia no comando da Mesa Diretora e, em sucessivas legislaturas, determinou o padrão de privilégios vigente em Brasília.
Na capital da República, os novos sinais das velhas mordomias resistem nos Três Poderes. O Metrópoles buscou na contabilidade oficial do Senado os registros dos gastos com cartões corporativos, prerrogativa concedida sem explicações plausíveis a 46 servidores.
Em diferentes momentos, nas últimas décadas, surgiram os escândalos em torno de cargos e verbas do Congresso. Foi assim, por exemplo, no “trem da alegria” de 1984, que incorporou ao quadro de servidores 1,5 mil funcionários sem concurso.
Em 2009, o site Congresso em Foco chocou o país com as revelações da série de reportagens “A farra das passagens”, sobre as viagens de deputados e familiares pagas com verbas públicas. Na mesma época, os brasileiros também ficaram sabendo que o Senado editava “atos secretos” para acobertar regalias de congressistas e servidores.
Os privilégios perpetuados no Parlamento ajudam a explicar as desigualdades sociais e as contradições do Brasil. Além do óbvio desperdício de recursos públicos, essas práticas distorcem a realidade para congressistas e altos funcionários.
No padrão que vivem essas pessoas, fica difícil entender os verdadeiros problemas do país. Assim, quem deveria produzir soluções para nossas mazelas, ajuda a aprofundar as injustiças da sociedade.