O homem acusado de comandar o Primeiro Comando da Capital (PCC) no Distrito Federal e que acabou preso em Uberlândia (MG) nesta sexta-feira (1º/3) era responsável por distribuir drogas e arrecadar dinheiro, além de supervisionar os integrantes da organização que estão soltos. Quem ousava trair o comando do grupo era julgado pelo “Tribunal do Crime”, no Entorno do DF.
Identificado apenas como G.M.M. por policiais civis, o acusado mudou-se do DF para Uberlândia (MG) no fim do ano passado. Comandava, de casa, a facção na capital do país. O criminoso foi preso na frente da filha e da mulher em uma casa simples do bairro Residencial Pequi, na cidade mineira. A polícia não localizou armas nem dinheiro no imóvel.
Foram cumpridos um mandado de prisão e outro de busca e apreensão pela Polícia Civil do DF. O suspeito, de 34 anos, é um dos bandidos “mais nocivos para a comunidade brasiliense”. Foi responsável, por exemplo, ainda segundo a PCDF, por instaurar um “Tribunal do Crime” para julgar um homem acusado de trair o PCC.
O “julgamento” ocorreu no passado. A vítima foi sequestrada e torturada por nove dias seguidos enquanto aguardava a “sentença” de morte que seria proferida pelas lideranças da organização criminosa. Porém, antes de receber a punição, o sequestrado conseguiu fugir do cativeiro, que ficava no Entorno do DF.
A investigação é da Divisão de Repressão às Facções Criminosas (Difac), da Coordenação Especial de Repressão à Corrupção, ao Crime Organizado e aos Crimes contra a Administração Pública e contra a Ordem Tributária (Cecor). A ação teve apoio do Núcleo de Controle e Fiscalização do Sistema Prisional (Nupri), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
Ao todo, a operação prendeu sete integrantes da facção, sendo quatro no DF e o restante em outras unidades da Federação. Os que estavam fora da cadeia, como o homem achado em Uberlândia, estruturavam o tráfico e eram responsáveis por supervisionar os membros da facção. Já os presos faziam valer as funções e regras da célula dentro do Complexo Penitenciário da Papuda.
De acordo com o delegado Leonardo de Castro, da Cecor, o integrante do PCC preso nesta sexta não faz parte da “sintonia final da facção”. Ele foi eleito pelos líderes de São Paulo e era intermediário das decisões oriundas da célula criminosa.
“É um líder, mas não alguém que comande a facção em âmbito nacional. Com as operações realizadas nos últimos dias, acredito que tenha visto que as investigações se aproximavam dele e decidiu mudar-se para Uberlândia. Não sabemos o motivo”, destacou o delegado.
A Polícia Civil do DF se diz preocupada com a transferência dos líderes da facção criminosa para o Presídio Federal de Brasília, o que poderia estimular a consolidação da célula no DF. “Não creio que haja um temor, mas uma preocupação grande. Até por isso temos intensificado o monitoramento”, assinalou.
Repressão
Após a transferência de lideranças da facção para o presídio federal de Brasília, em 13 de fevereiro, a Divisão de Repressão às Facções Criminosas realizou sete prisões de integrantes do PCC. O reforço nas investigações teve início em 2014, ano em que o grupo criminoso deu início a um projeto de expansão nacional e passou a tentar se radicar na capital federal, segundo a Polícia Civil.
Desde então, já foram deflagradas seis grandes operações policiais, resultando na prisão de 270 integrantes da organização criminosa que atuavam na capital federal e em Goiás.
As últimas sete prisões aconteceram em Brasília, Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Os membros da facção presos no Distrito Federal foram capturados nas regiões administrativas de Samambaia e Ceilândia.
Organização
Diligências policiais apontam que a história do PCC em Brasília começou em 5 de março de 2001, após o chefe máximo da organização desembarcar no DF. Depois de peregrinar por diversos presídios do país, Marcos Herbas Camacho, o Marcola, foi recolhido ao Centro de Internação e Reeducação (CIR). Apesar da estada ter sido curta – ficou encarcerado até 8 de fevereiro de 2002 –, deixou marcas profundas tanto na mentalidade da massa carcerária quanto na segurança pública candangas.
No curto período em que esteve na Papuda, Marcola criou um braço do PCC chamado pelos criminosos de Partido Liberdade e Direito (PLD). Investigadores identificaram que a facção havia sido criada nos mesmos moldes da organização paulista, inclusive em relação às regras contidas em seu estatuto.
A organização criminosa definiu uma série de terminologias para facilitar a comunicação dentro da Papuda. As ordens da cúpula eram transmitidas de dentro dos presídios pelos “torres”, bandidos responsáveis pelo repasse de informações aos “pilotos”, presidiários escolhidos para coordenar os integrantes do PCC que estavam atrás das grades.
Os levantamentos feitos pela polícia mapearam que o organograma do PCC seria rígido e semelhante a uma estrutura militar, com níveis de comando hierarquizados, divididos em escalões de acordo com o poder exercido pelos membros e suas respectivas funções. A organização criminosa ainda construiu uma rede de colaboradores, formada por advogados, familiares, namoradas de detentos e visitantes.
Conduzidas pelo regimento da organização, essas pessoas são responsáveis pela articulação dos interesses dos encarcerados fora dos presídios, dando suporte jurídico, psicológico e, principalmente, financeiro, inclusive com o gerenciamento de contas bancárias alimentadas com dinheiro faturado em ações criminosas.
Sobre as contas bancárias ligadas ao PCC, as apurações policiais apontam que apenas 20% delas estariam relacionadas a movimentações financeiras de alto valor, acima de R$ 100 mil. O restante seria feito por meio de pequenos depósitos.
Além das contas administradas pelos colaboradores da facção, grande parte dos recursos do PCC estaria ligada a empresas de fachada, como pequenas redes de supermercados, negócios imobiliários, restaurantes, agências de automóveis e até cooperativas de transporte de São Paulo.