02/03/2019 às 12h05min - Atualizada em 02/03/2019 às 12h05min

Sequência de ataques no CE teve início há dois meses e deixou legado

Força Nacional reforçou policiamento no Estado por quase 60 dias. Conforme o secretário André Costa, a integração nas ações, incluindo dezenas de transferências de faccionados, possibilitou a retomada do controle

Diário do Nordeste

Há dois meses, milhares de cearenses se viam em meio a cenas de terror. Sair de casa para trabalhar sem a garantia de poder utilizar transporte público na volta. Trafegar próximo a um viaduto com medo de a qualquer momento uma bomba explodir ali perto e tudo desmoronar. Estar em uma agência bancária ou em um prédio público e ser atacado naquele instante, ferido por tiros ou estilhaços. Simples ações eram acompanhadas pela sensação de medo.

Na noite de 2 de janeiro de 2019 aconteceu a primeira ofensiva da maior sequência de ataques contra a Segurança Pública. Passavam os dias e populares e autoridades pareciam não saber mais o que esperar, a mercê da próxima ação das facções. Prédios públicos, bancos, carros e delegacias foram incendiados. Além do sistema de transporte público, a coleta de lixo na Capital foi diretamente afetada.

Por dois meses, o Ministério da Justiça e da Segurança Pública autorizou a permanência de homens da Força Nacional no Ceará. A decisão pela partida da Força Nacional veio após semanas sem registros de novas ofensivas. Foram, pelo menos, 250 ataques, o último deles, há quase um mês. O saldo foi de 466 suspeitos capturados por envolvimento nestes crimes.

 

Ontem, em entrevista ao Sistema Verdes Mares, o titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), delegado federal André Costa, se mostrou confiante quanto à garantia do bem estar dos cearenses, mesmo com a saída da Força Nacional. Para o secretário, os policiais agiram de forma enérgica, o que influenciou diretamente no fim destes crimes.

"A presença da Força Nacional obviamente ajudou. Existiu também simbolismo da presença de uma força que veio de fora. Foi um desafio que sozinhos não conseguiríamos equacionar. Todos os órgãos, não só do Estado, mas também prefeitura, união e poder judiciário discutiram ações. Esse trabalho integrado fez com que a gente conseguisse tomar boas decisões e traçar várias estratégias para conter essa onda de ataques pela qual passamos e para ter dias melhores para a população cearense", afirmou Costa.

Conforme o gestor, foram diversos grupos criminosos responsáveis pelas ofensivas. O secretário pontua que os ataques foram autorizados por membros de facções que estavam dentro do Estado e, por isso, se fizeram necessárias transferências de lideranças aos presídios federais. "Essas pessoas que foram transferidas para regime federal tinham maior poder de comandamento. As investigações comprovaram essas suspeitas. Todos os transferidos já estavam no Sistema Penitenciário. Mas a gente também deve ressaltar que nem todas essas decisões partem de dentro dos presídios. Muitos foram presos durante a onda de ataques", acrescentou Costa.

Motivação

Para a presidente do Conselho Penitenciário do Estado (Copen), Ruth Leite, a calmaria nas ruas parece não refletir dentro das unidades prisionais. Até onde é de conhecimento da advogada, a situação nos grandes presídios não está apaziguada. "As notícias que temos lá de dentro são péssimas", alertou.

Segundo o Copen, neste ano de 2019, desde o primeiro ataque, foi proibida a entrada dos conselheiros nos equipamentos. "Tentamos vários interlocuções com o secretário sobre esse ponto. São denúncias sérias sobre tortura. Estamos vendo as alternativas legais para realizar a inspeção. O secretário isolou algumas lideranças de facções, mas os demais presos continuam separados por afinidade de facção. Nas CPPLs I e III, por exemplo fomos impedidos de entrar", disse Ruth se referindo à Secretaria de Administração Penitenciária (SAP). A reportagem entrou em contato com a SAP sobre as afirmações do Copen, mas não obteve retorno.


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