22/03/2019 às 07h51min - Atualizada em 22/03/2019 às 07h51min

Lava Jato: Temer barganhou “poupança de propina quase que vitalícia”

Segundo o MPF, grupo ligado a ex-presidente continuava a receber valores ilícitos e ainda tinha “créditos a receber” pelo menos até 2088

As diversas pessoas físicas e jurídicas envolvidas na rede de lavagem de dinheiro denunciada pela força-tarefa da Lava-Jato, supostamente liderada pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), continuavam recebendo e movimentando valores ilícitos. E mais: havia propina com parcelas a vencer ao longo dos próximos anos.

As revelações foram feitas pelo Ministério Público Federal (MPF), após a prisão do emedebista e do ex-ministro Moreira Franco, também do MDB, na manhã desta quinta-feira (21/3).

Há provas concretas de que Michel Temer acumulou um crédito de propina para receber no presente e no futuro, durante anos, já que, com seus atos que beneficiaram o setor empresarial, barganhou uma poupança de propina com resgate quase que vitalício"
Trecho da cautelar apresentada pelos procuradores do MPF

O documento traz o que seria uma planilha da propina (veja abaixo), com dinheiro recebido e a receber. Os procuradores disseram que os pagamentos começaram há 20 anos e prosseguiriam pelo menos até 2088, enquanto durassem contratos que beneficiassem as empresas envolvidas na investigação, como os grupos Rodrimar e Libra.

“Muitos contratos de propina foram feitos para durar anos, quando não décadas. Muitos deles, inclusive, permanecendo devidos inclusive com a saída dos cargos de poder dos integrantes da organização criminosa”, ressalta o MPF.

Reprodução/MPF

Reprodução/MPF

 
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REPRODUÇÃO/MPF

De acordo com os procuradores, a organização criminosa movimentou mais de R$ 1.800.000.000, com promessas, pagamentos ou desvios de recursos. Segundo as investigações, o grupo praticou diversos crimes envolvendo órgãos públicos e empresas estatais.

Ao longo do dia, a Polícia Federal cumpriu oito mandados de prisão preventiva, dois de prisão temporária e 26 de busca e apreensão nos estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e Paraná, além de no DF. A ação, batizada de Operação Descontaminação, é oriunda da 16ª fase da Lava Jato, chamada Radioatividade, que identificou uma organização criminosa atuando na construção da usina nuclear Angra 3.

A investigação teria como base as delações do empresário José Antunes Sobrinho, ligado à Engevix, e do corretor Lucio Funaro. Sobrinho citou acordo sobre pagamentos indevidos que somam R$ 1,1 milhão, em 2014, solicitados por João Baptista Lima Filho – o coronel Lima, que é próximo a Temer – e pelo ministro Moreira Franco, com anuência do então presidente, no contexto do contrato da AF Consult Brasil com a Eletronuclear.