27/03/2019 às 11h11min - Atualizada em 27/03/2019 às 11h11min

​Reencontro com o primeiro mestre.

Vital Furtado
Correio de Santa Maria

Era uma manhã do sábado (19/10/1974), quando adentrei o departamento de Jornalismo da TV Brasília canal 6, e lá, fui apresentado nu e cru ao diretor de Jornalismo, Gilberto Amaral, que me ensinou os primeiros passos a começar pela montagem (edição de imagens) que ilustravam as matérias.
No meu íntimo, aquele mundo encantado que eu via através do vídeo se desmanchou ao conhecer de perto a bagunça que é um estúdio de Televisão, mas que, com a habilidade e profissionalismo dos contra-regras, se transforma naquilo que é encantador para quem está do outro lado.

Tudo para mim era novidade. Apenas com 20 anos de idade, liderado pelo ícone do Jornalismo de década de 70 (Gilberto Amaral) , e diga-se, até a presente data, meu entusiasmo e satisfação com a nova carreira aumentavam ao conhecer de perto cada profissional que integrava a competentíssima equipe montada por Gilberto Amaral, responsável pelo noticiário do Factorama 2ª edição, apresentado por esse grande mestre
.
Para adentrar a minha sala de trabalho eu cumprimentava todos os dias, pela manhã os responsáveis pela primeira Edição: Celso Di Marco (Apresentador), Fausto Faria (Chefe de redação - ‘saudoso’), Wilson Gonçalves Oliveira (redator), Afonso Fabre (Redator e apresentador- ‘saudoso’), Nilson Nelson (Redator e apresentador de esporte -‘saudoso’), Valderley Matos (Redator e apresentador de economia-‘saudoso’), Joaquim Santos ‘Kim Black- Cinegrafista chefe), o recém contratado Half Siqueira (redator) Osvaldino do Carmo Viegas (Motorista) e Osmar Alves Martins (auxiliar).

Ao retornar do almoço para preparar a ilustração da segunda edição (era chefe e tinha gratificação de mais um salário para trabalhar os dois períodos), cumprimentava os amigos Leonardo Fróes (Redator), Hélio Nunes (Cinegrafista – ‘saudoso’), Flavio Matos (cinegrafista), Nilson Chagas (Motorista), novamente, Osmar Alves Martins, e por fim, nosso diretor Gilberto Amaral que chegava sempre às 4 da tarde.

Com o passar dos tempos, a intimidade com a profissão, a amizade, o respeito e o carinho que Gilberto nos transmitia no dia a dia nos fazia mais gente e mais profissionais.   Eu olhava para aquela proximidade e, ao perceber que ali não existia o EU, me sentia honrado de em pertencer a um mundo tão diferente com pessoas tão importantes, porém, ao mesmo tempo valorizado quando Gilberto nos dizia: “O jornalista, apesar de meio louco tem que saber das coisas e dar voz aqueles que não têm”.

Ouvir as dicas do meu Mestre de Jornalismo deixava um nítido e prazeroso brilho nos olhos. Pois, Gilberto era meu Mestre, ídolo, amigo, conselheiro e tudo que eu precisava na vida para me entender como um profissional num mundo tão louco como é o mundo do Jornalista brasileiro. Mas, isso dava status, orgulho e respeito. Afinal; vivíamos a ERA do jornalismo verdade, feito com respeito e responsabilidade para com o telespectador.

Os anos de convivência na redação, liderado por Gilberto Amaral, além do privilégio em conhecer de perto alguém tão simples, humano e amigo me fizeram ver a vida com os olhos da simplicidade, tolerância e respeito para com os colegas de profissão e com as demais pessoas que confiam em nosso trabalho.

O tempo passou, cada um da equipe buscou novos caminhos e novos desafios, mas, ficou a inesquecível lembrança dos tempos de uma amizade sólida e de gente tão humana como não vemos nos dias atuais. A Vontade de ver ou ouvir meu amigo Gilberto Amaral era grande. Pois, nosso último encontro foi por ocasião do velório do Dr. Edilson varela, presidente dos Diários Associados no DF. Ali, no triste evento estávamos lado a lado Eu, Gilberto e seu Ari Cunha (meu segundo mestre).

Portanto, foram décadas de distância entre Mestre e aluno.
Mas, como a felicidade bate em sua porta, minha amiga e Jornalista Martha Sathuza marcou uma reunião de trabalho entre eu e o Dr. Eanildo, Dr. Lauro, gestores da mais nova Instituição Educacional ( Faculdade Brasília) que está sendo implantada em Santa Maria. E, em conversa sobre minha carreira como profissional de imprensa eu disse ao Dr. Enaildo: Os culpados por eu ser Jornalista foram Gilberto Amaral e seu Ari Cunha (saudoso), mas, eu já perdoei os dois.
 
Mal sabia eu que o Dr. Enaildo e Gilberto Amaral são amigos próximos.  De repente, o gestor pede licença, tecla uns números no seu celular e diz as seguintes palavras: Gilberto estou aqui conversando com um Jornalista que foi sua cria na área de Comunicação. Eita! Baita surpresa. Conversei com Gilberto cerca de 20 minutos. A Mesma atenção, a mesma voz, o mesmo carinho, aliás, característica de gente, gente!  Ao me despedir confessei ao Dr. Enaildo ter ganhado o ano só em ouvir a voz do meu Mestre do Jornalismo. Com Gilberto aprendi a escrever sobre o Social e Cidade. Já com seu Ari, fui treinado para matérias pancadas.

Depois de 43 anos de profissão, ao meu grande Mestre Gilberto Amaral quero dizer o seguinte: “Obrigada Mestre  por ter me preparado para a vida profissional de forma tão respeitosa e responsável. Obrigada por ter sido tão compreensivo quando eu não queria “obedecer” às suas considerações. Obrigada por me incentivar a ser o que hoje sou e, sem esperar nada em troca.

Ao meu segundo e saudoso Mestre Ari Cunha eu diria o seguinte: Se eu tivesse que me reencontrar agora o sentido do jornalismo seria bem mais difícil. Mas, segui na vida copiando o exemplo de seus passos. O lamento pela sua partida tão breve e por eu não ter tido tempo de dizer; “Seu Ari, obrigado por seus ensinamentos. Que honra Mestre! .
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