“Vou buscar o entendimento para o Distrito Federal”, disse, nesta quinta-feira (25/04/2019), o presidente nacional do MDB, Romero Jucá, sobre a crise pelo diretório regional do partido no Distrito Federal. Conforme o Metrópoles noticiou em primeira mão, o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), e o presidente da Câmara Legislativa, deputado distrital Rafael Prudente (MDB), disputam o controle da Executiva brasiliense contra o atual presidente, Tadeu Filippelli. O cacique ainda não tomou uma decisão, mas considera que Executivo e Legislativo precisam estar presentes na direção local.
“Política é conversa. Você tem que sempre buscar o entendimento. Precisamos fortalecer o MDB, no GDF [Governo do Distrito Federal] e no partido. A presença do governador e do presidente da Câmara são importantes. Vou procurar uma solução de entendimento. O MDB está responsável por dois dos três Poderes do DF. É fundamental que os comandos do GDF e do Legislativo estejam retratados na Executiva, na direção do partido”, disse Jucá.
Na quarta (24/04/2019), Ibaneis e Prudente apresentaram para a cúpula nacional o pedido de dissolução do diretório regional, atualmente gerido por Filippelli. Além disso, querem o adiamento das eleições para a escolha da próxima direção, marcadas para 6 de maio. Buscando a renovação e a oxigenação do partido, o chefe do Executivo já manifestou o desejo de ver o deputado distrital na presidência regional da agremiação. Jucá pretende analisar a peça e conversar com todas as partes envolvidas antes de bater o martelo.
Sem aviso
Filippelli mantém uma postura branda e de poucas palavras sobre o tema espinhoso. O emedebista diz ter sido surpreendido pela ação assinada por Ibaneis e Prudente.
Questionado pelo Metrópoles se Ibaneis e Prudente haviam expressado diretamente qualquer insatisfação com a condução do diretório regional, respondeu: “Não, nunca falaram nada diretamente para mim. Absolutamente nada. Fiquei sabendo desse pedido pela imprensa”.
No texto encaminhado para avaliação da cúpula nacional do MDB, governador e presidente da Câmara também tentam adiar a eleição para a escolha do novo diretório regional para o segundo semestre deste ano. “Olha, elas devem ocorrer até 20 de maio. Então, para ser educado, atribuo a esse pedido, no mínimo, um certo desconhecimento”, rebateu Filippelli.
Na tarde desta quinta-feira (25/04/2019), Ibaneis comentou o assunto. “Ele [Filippelli], com toda sua história, fica como nosso presidente de honra e nos orientando na transformação do partido, na mesma linha do que tem feito o Romero Jucá nacionalmente, conduzindo toda a renovação sem ser candidato à presidência do MDB”, reforçou o governador.
Rafael Prudente não retornou os contatos da reportagem para falar sobre o tema.
Bastidores da crise
Embora não transparecesse, a relação entre Ibaneis Rocha e Tadeu Filippelli começou a se deteriorar desde a posse do emedebista como governador do Distrito Federal. Aliados governistas lembram que a parceria da dupla teria se desgastado a partir de inúmeros pedidos de cargos de destaque na estrutura do GDF.
Vários militantes ouvidos pelo Metrópoles garantem que o diálogo entre os dois nunca foi fácil, mas passou a ser mais difícil após o resultado das eleições proporcionais no Distrito Federal – diferentemente de outras eleições, o MDB só conseguiu fazer um deputado distrital e nenhum federal. Filippelli ficou com a primeira suplência. Da mesma coligação, a ex-deputada distrital Celina Leão (PP) teve mais votos que o cacique do MDB.
Na Câmara Legislativa, Rafael Prudente foi o único eleito. Até a última legislatura, o partido chegou a ter três distritais simultaneamente. “A nominata no MDB deste ano foi um fracasso. Tínhamos condições de vencer. Houve candidato com mais de 13 mil votos que não entrou. Desde então, a relação começou a se deteriorar”, diz um cacique da sigla que pediu para ter o nome preservado.
Eleito, Ibaneis conseguiu fazer de Prudente o presidente da Câmara Legislativa, ampliando ainda mais o poder do partido na capital. Por outro lado, com a derrota do cacique do MDB, as operações policiais da Operação Panatenaico – que investigam desvios no BRT Sul e no Mané Garrincha e as quais levaram Filippelli duas vezes à prisão –, além do fim da presidência de Michel Temer (MDB), de quem o ex-vice-governador era aliado, Ibaneis passou a se distanciar de figurões do partido com nomes encalacrados na Justiça.
Durante uma reunião da Executiva nacional partidária, Ibaneis defendeu abertamente a renovação da sigla e disse sentir-se incomodado de integrar a mesma legenda que os ex-deputados Eduardo Cunha e de Geddel Vieira Lima, ambos presos atualmente.
“Em algum momento essa ruptura iria acontecer. Eu consigo entender isso de forma muito clara. Quem tem o poder das cartas é quem tem mandato, e só o Ibaneis e o Prudente foram eleitos do partido. Pode ser que ninguém assuma isso abertamente, mas uma coisa é certa: o MDB precisa de mudança”, disse outro integrante da cúpula do partido.