Há 230 anos a França deixava como legado para o mundo uma Assembleia Nacional Constituinte, decorrente do episódio conhecido como a Queda da Bastilha, um dos gatilhos para a Revolução Francesa. Incontáveis revoluções aconteceram nos últimos dois séculos em todo o mundo. Incontáveis assembleias nacionais constituintes produziram cartas magnas em variados idiomas.
O Brasil também tem sua recente Constituição, promulgada em outubro de 1988. Para muitos, é a letra do samba do crioulo doido. Talvez seja mesmo. Por pior que tenha sido concebida, é nela que encontramos os direitos e deveres do cidadão e a ideia de um Estado democrático. Que igualmente deve cumprir direitos e obrigações para com a sociedade.
Cada um interpreta a história da maneira que quiser, segundo um astrólogo neoestadunidense que ganhou notoriedade nos últimos tempos, mas que está longe de ser uma Joana d´Arc, a santa. Só a língua dele arde, mas já recebeu um Band-aid e está fora de perigo. Ele e nós.
O Brasil viveu, nas últimas décadas, problema semelhante àquele que viveram os franceses. Instalados no Palácio do Planalto estavam o rei Lula e o duque Zé Dirceu, cercados pela marquesa Dilma e muitos condes, viscondes e o barão Delúbio Soares – este recebeu o título apropriado como tesoureiro do PT.
A reduzida casta do reinado vermelho ruiu após a descoberta de desvios bilionários das classes operárias. Os segmentos populares, formados nos regimes democráticos pelos miseráveis, pessoas de baixa, média e alta rendas, onde são encontrados todos os cidadãos que não pertencem à destituída Corte socialista-petista-comunista – alguns artistas, empresários, profissionais liberais, funcionários públicos, trabalhadores informais e militares, incluindo generais e o atual presidente da República – promoveram a verdadeira Queda da Bastilha da era moderna.
Interromperam um reinado de exploração da população sem precedentes, de suas riquezas e principalmente de suas mazelas. Nem foi necessário invadir arsenais ou cadeias. No caso brasileiro, houve a inversão da história: ao contrário de esvaziar nossas Bastilhas, elas foram abastecidas de delinquentes e criminosos que representavam o topo da pirâmide social, detinham o poder e bilhões de dólares desviados de todas as fontes públicas possíveis, para manter regalias domésticas e de fieis súditos espalhados pela reservada hierarquia dominante em outros poderes. E em outros países com feudos idênticos.
A maior curiosidade, entretanto, foi a de que, segundo a lenda, o estopim para a Queda da Bastilha (lá na França) veio de um jornalista: Camille Desmoulins. Ele teria anunciado que as forças reais promoveriam um massacre da população e aí os gauleses explodiram tudo, cadeia e hospital. Exatamente o que a Corte dominadora petista fez aqui, incluindo obras públicas, escolas, habitações e dignidades, mas com propósito oposto ao original francês.
A questão principal é a relevância que tem a atuação do jornalismo na vida de um país. A maior referência da atualidade ainda vem de Bob Woodward e Carl Bernstein, do jornal Washington Post – Caso Watergate que derrubou Nixon.
Ao abandonar princípios, a responsabilidade e a isenção, quando os fatos podem ser robustamente contestados, o jornalismo abandona o interesse coletivo para obter vantagem indevida, influenciar a opinião pública com inverdades, divulgar pesquisas não auditáveis. Deixam de servir a sociedade como um todo e assumem a defesa de um grupo específico. Muitas vezes apenas do seu. Em paralelo, ainda que os profissionais da imprensa de boa formação não tenham a intenção de maquiar fatos, omitir dados relevantes, fornecer informações que impeçam justos julgamentos pela opinião pública, é necessário responsabilidade e atenção. E razão.
É curioso acompanhar sucessivas matérias com explícito viés comunista de grandes órgãos da imprensa, após a ditadura Lula, quando a Imprensa esteve muito perto da censura vermelha. O então duque do rei Lula, jornalista Franklin Martins, ministro da Secretaria de Comunicação Social (ex-terrorista que participou do sequestro do embaixador dos EUA, Charles Burke Elbrick) elaborou uma nova Lei da Imprensa. À época, o resultado seria semelhante ao que Maduro impôs na Venezuela, calando os órgãos de informação. Entretanto, algo de grandioso e inexplicável surgiu no caminho e a ideia murchou.
Agora mais um jornalista ataca de forma sorrateira: Glenn Greenwald, esposo de David Miranda que virou, entre outras coisas, deputado federal sem um único voto, no lugar de Jean Wyllys. O jornalista terrorista virtual é acusado de ser o mentor do Intercept, ferramenta eletrônica que grampeia a vida de autoridades. Suas revelações ilegais têm eco nas plataformas dos maiores veículos brasileiros.
Se o jornalismo é capaz de tanta proeza, tem a certeza de audiência cativa, poderia servir ao Brasil informando erros e acertos das autoridades. Nenhum governo está isento de errar. Mas acertos fazem bem, inclusive aos grupos de comunicação, hoje devedores, que poderiam prestar um importante papel democrático e, literalmente, sair do vermelho. Honestamente.
O único remédio para combater emissoras contaminadas de rádio e TV é reunir os jornalistas que tentam resgatar o bom conteúdo, criticando quando necessário, mas não inventando manchetes produzidas por suas equipes de entretenimento. Assim, catando os que sobraram, poderiam convidar, entre outros, um jornalista que tem dezenas de profissões, inclusive a faculdade de ler o cosmo.
No momento ele está ignorando as constelações de quatro estrelas que brilham no esplendoroso céu de Brasília. Mas não quer acreditar no realinhamento dos planetas. Insiste em um único astro. Se mais jornalistas forem capazes de estabelecer um novo mapa astral coletivo, consensual, honesto, produtivo, capaz de criticar, mas também de aplaudir, aí novos tempos terão mais chance de aproximação com o futuro do Brasil, garantindo que a Queda da Bastilha não foi em vão. Nem lá nem aqui. E ainda faremos economia de esparadrapo.