O filho caçula do ex-governador do Distrito Federal Rodrigo Rollemberg (PSB) foi alvo de investigação que apura a existência de uma quadrilhainterestadual especializada no tráfico de drogas sintéticas consumidas na capital da República. Durante pelo menos 30 dias, Pedro Ivo Gonçalves Rollemberg, 28 anos, teve seus dois celulares pessoais interceptados pela polícia com autorização da Justiça.
Além de Pedro Ivo, outros 10 suspeitos entraram na mira dos investigadores e passaram a ser sistematicamente monitorados. Das inúmeras conversas registradas, os policiais abriram duas frentes de investigação.
Numa delas, conseguiram prender 28 pessoas ligadas ao tráfico de drogas que abasteciam o mercado de alto poder aquisitivo no Distrito Federal. Na outra frente, ainda sob apuração, detectaram “fortes indícios” de que o então governador Rodrigo Rollemberg teria tomado conhecimento das investigações e vazado informações sigilosas aos alvos para proteger o próprio filho. Apesar das investigações policiais, Pedro Ivo não chegou a ser denunciado pelo Ministério Público.
O ápice da apuração sobre tráfico de drogas que alcançou o filho do governador ocorreu em 2018, justamente no ano da campanha eleitoral, quando Rollemberg tentava sua reeleição.
A partir de denúncias de que criminosos recorrentemente vendiam drogas sintéticas (MDMA, metanfetamina, haxixe, LSD) e algumas qualidades de maconha gourmet em festas da cidade, policiais civis começaram a acompanhar a dinâmica de compra, venda e distribuição dos entorpecentes. Chegaram, primeiro, ao nome de Rodrigo Cunha Soares. Descrito como um intermediário, comprava drogas de fornecedores de fora do DF para revender no mercado local a usuários e traficantes de pequeno porte.
Durante as diligências, os policiais cumpriram mandados de busca e apreensão, recolheram aparelhos celulares, tablets, computadores, pen-drives e outros dispositivos eletrônicos que embasaram pedidos de interceptações telefônicas na 1ª Vara de Entorpecentes do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT).
No aparelho celular de Rodrigo Cunha Soares, preso na Operação Delivery, policiais encontraram diversos comprovantes de transferências bancárias feitas para a conta da companheira dele, Maria Helena. Segundo os investigadores, o casal usava a conta dela para as movimentações criminosas em torno do tráfico. Em alguns dos registros, os agentes localizaram cópias de comprovantes bancários em nome de Pedro Ivo, o filho de Rollemberg.
No relatório da Seção de Repressão às Drogas da 5ª Delegacia de Polícia (área central) do DF, datado de 29 de maio de 2018, os investigadores narram, segundo o documento ao qual o Metrópoles teve acesso, que “são fortes os indícios de que os mesmos podem estar envolvidos no tráfico de drogas promovido pelo grupo criminoso investigado”. A conclusão vem em seguida à análise dos comprovantes bancários. “Não há notícias de qualquer atividade lícita exercida pela companheira do traficante identificado como Rodrigo Cunha, que seja necessário depósitos bancários em sua conta, aliado ao fato do controle de tais depósitos ser exercido por um reconhecido traficante que mantinha negócios do mesmo modo com outros criminosos identificados e presos durante a Operação Delivery”, diz trecho do relatório.
Em 12 de junho de 2018, a Justiça autorizou as interceptações, incluindo os telefones do filho caçula de Rodrigo Rollemberg.
Nas escutas, os policiais flagraram duas conversas consideradas suspeitas entre Pedro Ivo e um dos traficantes presos preventivamente na Operação Sem Fronteiras, Matheus do Vale Lopes. No primeiro diálogo, travado em 22 de junho do ano passado, às 20h40, o filho de Rollemberg liga para Matheus para tratar da compra de algum produto. No relatório, os policiais afirmam que Pedro Ivo e o traficante “negociam alguma coisa, possivelmente alguma droga proibida”.
REPRODUÇÃO
Dois minutos após a primeira conversa (trecho acima), Pedro Ivo é interceptado novamente em telefonema para Matheus. O trecho a seguir foi transcrito tal qual aparece no relatório da polícia, sem nenhuma alteração, inclusive mantendo-se erros de ortografia e gramática.
Matheus: Oi.
Pedro: Deixa eu te falar. Não pode deixar na portaria não, numa sacola lá, ou livro?
Matheus: É, então, qualquer… eu deixo ali no oitavo andar velho. Fala que vai lá no meu apartamento pegar um.
Pedro: Não, não, bota dentro de uma sacola, dentro de um livro, só para nego não travar, e aí velho deixa na portaria e fala que eu vou passar pra pegar.
Matheus: Mas que dia tu vai passar?
Pedro: Amanhã de manhã.
Matheus: É, então posso falar para minha irmã deixar a sacola qualquer coisa, sacou.
Pedro: Isso, é de boa. De boaça. Olha velho, mocar bem pra (inaudível) não pegar.
Matheus: Me manda mensagem para me lembrar aí, se não eu vou esquecer.
Pedro: Tá vou te mandar. Valeu irmão.
Na análise dos áudios, os investigadores apontam que Pedro Ivo e Matheus combinam a forma que será entregue o produto. “Como Pedro sugere que o objeto seja colocado dentro de um livro, há forte suspeita que a negociação seja referente a LSD, droga muito usada por jovens de classe média e alta. Percebemos, ainda, a preocupação de Pedro quanto à forma de ocultação do objeto que negociam, demonstrando que não se tratava de uma negociação lícita” (sic), diz o relatório. Confira print da conversa: