Duas semanas depois de falar por quase nove horas no Senado, Moro esteve em uma sessão conjunta das comissões de Constituição e Justiça, de Trabalho e de Direitos Humanos para falar aos deputados sobre a troca de mensagens vazadas com o procurador Deltan Dallagnol.
Parlamentares do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, atuaram para evitar o que vinha sendo chamado de "pelotão de fuzilamento" contra o ministro, que se sentiu à vontade para partir para o ataque.
Moro disse que deputados poderiam "ficar com o seu foro privilegiado", afirmou que a divulgação de suas conversas é "uma questão político-partidária", criticou a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e o Intercept e, por diversas vezes, usou de ironia.
"Se ouve muito da anulação do processo do ex-presidente [Lula], tem que se perguntar então quem defende Sérgio Cabral, Eduardo Cunha, Renato Duque, todos estes inocentes que teriam sido condenados", afirmou, sugerindo que a divulgação das mensagens visa beneficiar especificamente o petista.
"Precisamos de defensores destas pessoas. Que elas sejam colocadas imediatamente em liberdade, já que foram condenadas pelos malvados procuradores da Lava Jato, pelos desonestos policiais e pelo juiz parcial", disse.
Em resposta à deputada Gleisi Hoffmann (PR), presidente do PT, Moro respondeu: "Não sou eu que sou investigado por corrupção", em uma provável referência indireta a processos contra a petista.
Moro classificou o vazamento das mensagens de "escândalo fake já afundado ou afundando", "um balão vazio", e criticou o Intercept. Disse ter ficado com a impressão de que o veículo queria que fosse ordenada uma busca e apreensão. "Talvez para aparentar uma espécie de vítima, um mártir da imprensa ou coisa parecida", afirmou.
Ele disse que a OAB "embarcou no sensacionalismo barato dos primeiros dias", ao sugerir que o ministro saísse do cargo para que as investigações fossem conduzidas de forma isenta.
Na Câmara, Moro disse ser "um grande defensor das instituições" e fez referência aos atos realizados no domingo (30) pelo país, que tiveram entre as pautas a sua defesa.
"Houve um movimento expressivo no fim de semana em que várias pessoas apoiaram o trabalho da Lava Jato", afirmou.
Ao longo da audiência na Câmara, o ministro reafirmou não ter como garantir a autenticidade integral das mensagens, qualificou a divulgação das mensagens de sensacionalista e sugeriu que o objetivo do vazamento das mensagens seria invalidar as condenações da Lava Lato.
"Meu depoimento aqui é igual ao do Senado porque é verdadeiro. Não preciso alterar versões, como faz lá o site ao adulterar mensagens. Ele é igual porque reflete a verdade", disse Moro, em referência a um erro cometido e corrigido pelo Intercept ao identificar um nome.
A blindagem do ministro foi facilitada pelo rito definido pelo presidente da CCJ, deputado Felipe Francischini (PSL-PR), reduzindo inicialmente seu tempo de fala.
Francischini determinou que a audiência fosse dividida em blocos: quatro deputados perguntavam e, em seguida, o ministro tinha sete minutos para respondê-las.
O ministro procurou transparecer tranquilidade --na avaliação da oposição, deboche. Descontraído, Moro comeu e bebeu refrigerante e café durante a audiência, e riu com o presidente da CCJ.
A sessão foi marcada por uma série de troca de ofensas entre o PSL e o PT. Puxados pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, os governistas levantavam cartazes com provocações aos petistas.
Enquanto o líder do PT, Paulo Pimenta (RS), e a deputada Maria do Rosário (RS) falavam, os deputados do PSL ergueram papéis sulfites que traziam as palavras "montanha" e "solução", numa referência a supostos apelidos dos petistas nas planilhas da Odebrecht.