A Justiça do Distrito Federal condenou, na tarde desta quinta-feira (04/07/2019), Lúcio Rueda Bustos a 1 ano e 2 meses de reclusão pelos crimes de uso de documento falso e falsidade ideológica. O acusado é suspeito de ser integrante de um dos cartéis de drogas mais influentes do México.
A decisão é da 2ª Vara Criminal de Brasília, que julgou procedente a denúncia oferecida pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Lúcio foi preso em 28 de fevereiro, em Brasília.
O imigrante participava do Cartel Juárez, um dos maiores do México, conforme informado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Rueda foi detido no momento em que desfrutava da piscina de um hotel de luxo, no Setor Hoteleiro Norte (SHN), na companhia de cinco amigos. Ele portava documentos fraudados, tirados a partir de uma certidão de nascimento falsa.
De acordo com o diretor adjunto da Divisão de Repressão a Sequestros(DRS), delegado Luiz Henrique Dourado, o grupo estava hospedado há dias no local e era investigado desde o recebimento de uma denúncia. Os homens chamaram atenção porque consumiam produtos de alto valor, gastavam muito com garotas de programa e sempre pagavam tudo em dinheiro..
“Contaram versões divergentes. Eram dois mexicanos e mais quatro pessoas de outros estados. Desconfiamos e os levamos para a delegacia. Ao checar a documentação, vimos que Lúcio Rueda estava com a identidade e a habilitação fraudadas. Além disso, encontramos R$ 34 mil em espécie no quarto dele. Também localizamos joias”, explicou Dourado.
Policiais civis constataram que o criminoso veio para o Brasil em 2002 e passou a lavar dinheiro no interior do Paraná. Na época, Rueda chegou à capital paranaense com US$ 30 milhões na bagagem. Foi preso, em 2006, no âmbito da Operação Zapata, julgado e condenado pelo então juiz Sergio Moro, atualmente ministro da Justiça, a 10 anos e 6 meses de prisão por lavagem de dinheiro. Cumpriu 4 anos de pena e foi solto.
Lúcio Rueda usava o mesmo documento apresentado aos policiais civis, com o nome de Ernesto Plascencia San Vicente. “Essa identidade falsa foi produzida no Distrito Federal. O documento não foi apreendido na época da condenação e ele voltou a fazer uso”, completou o delegado. A suspeita é que ele estivesse na capital para lavar dinheiro.
Após ser preso, o segundo na hierarquia do cartel afirmou em depoimento que tinha dois nomes e todos seus documentos eram verdadeiros. “Ele é frio e mente com facilidade”, descreveu o delegado. O suspeito passou por audiência de custódia na Justiça no mesmo dia e a prisão em flagrante foi convertida em preventiva.
“Em que pese já tenha cumprido sua pena, não se passaram cinco anos da extinção e ainda é considerado reincidente. Neste diapasão, a concessão de liberdade provisória ou a aplicação de medidas cautelares não são recomendáveis”, justificou a juíza Lorena Alves Ocampos.
A prisão pela PCDF deixou policiais federais em alerta, uma vez que ainda é preciso investigar se Rueda mantém atividades criminosas na capital do país.
Durante os anos 1980 e 1990, Lúcio Rueda Bustos foi o tesoureiro de Amado Carrillo Fuentes, chefe do Cartel de Juárez, a maior organização de narcotraficantes do México.
Segundo o Departamento Antidrogas dos Estados Unidos (DEA), o cartel chegou a faturar US$ 200 milhões por semana com o tráfico de drogas e foi responsável por 50% do total de entorpecentes que entravam nos Estados Unidos.
Em Ciudad Juárez, município na fronteira com os Estados Unidos, Fuentes era conhecido como “o senhor dos céus” por utilizar Boeings 727 para transportar cocaína colombiana até o território americano.
Na primeira metade da década de 1990, o cartel passou a transportar drogas também por navio, do México até Nova York (EUA). Perseguido pelos governos americano e mexicano, Fuentes decidiu mudar o rosto em um hospital da capital mexicana em 3 de julho de 1997. Após oito horas de cirurgia, o traficante começou a ter reações adversas causadas pela anestesia e morreu. Como vingança, o grupo de Fuentes assassinou todos os médicos que participaram da operação.
O cartel é uma das várias organizações de tráfico de drogas conhecidas por decapitar seus rivais, mutilar seus corpos e despejá-los em lugares públicos para instigar o medo não só para o público em geral, mas também para as autoridades locais e os seus rivais.
Lúcio Rueda Bustos é casado com uma brasileira e reside no Paraná. O dinheiro, o celular do ex-líder do cartel e as joias encontradas com o grupo no hotel de luxo foram alvo de investigação. Todos os cinco acusados que estavam com ele foram liberados